Novo ano letivo da SEEDF: uma realidade distante

SEEDF anuncia novo ano letivo em coletiva completamente distante
da realidade das salas de aula do Distrito Federal

 

A coletiva de imprensa da secretária de educação Hélvia Paranaguá, realizada na tarde desta quarta-feira (9/2), foi mais um evento duramente criticado por todos os profissionais do magistério que se manifestaram – e foram mais uma vez silenciados. Escolhendo perguntas a dedo, a SEEDF optou por ignorar deliberadamente as demandas insistentes de profissionais de educação nos chats das redes sociais. Houve comentários apagados no chat do Youtube.

 

Erro atroz de interpretação

A secretária Hélvia Paranaguá abriu o evento com uma informação errada. Citou um estudo da ONG “Todos pela Educação” que, nas palavras da secretária, indica que “66% das crianças de 6 e 7 anos no Brasil não estão alfabetizadas”. 

Na verdade, o autointitulado estudo aponta que houve um incremento de 66% no número de crianças em idade de alfabetização (6 e 7 anos) que estão analfabetas. O mesmo estudo informa que o número de crianças de 6 e 7 anos não alfabetizadas corresponde a quase metade (40,8%) de todo o grupo. (O estudo citado não faz correlação entre ausência de políticas educacionais eficazes de longo prazo e resultados na alfabetização infantil e, sem indicar metodologia de análise, aponta sem maiores elaborações que “a culpa é da pandemia” – o próprio título do estudo, Impactos da pandemia na alfabetização de crianças, deixa isso claro.)

Com esse erro atroz de interpretação de texto, a secretária de educação anunciou o início do ano letivo para os estudantes da rede pública do DF de forma 100% presencial. “A presença dos professores em sala de aula é 100% obrigatória, assim também como a dos alunos”, segundo a secretária. As aulas remotas estão mantidas apenas para estudantes imunossuprimidos ou com algum tipo de comorbidade comprovada com laudo médico.

Foi apresentada uma cartilha com o protocolo de segurança de volta às aulas, enquanto a secretária afirmava que “todo o protocolo de segurança será adotado, como já vinha sendo feito”. Sobre o 100% de lotação nas UTIs pediátrica e de adulto em todo o Distrito Federal? Nem uma palavra. 

 

Vacinação para “estudantes”

A Secretária também anunciou uma lista de UBS que estão efetuando a vacinação de estudantes de 5 a 11 anos durante esta semana (de 7 a 12/2), e afirmou que o tema foi “amplamente divulgado”. Acreditamos que a secretária tenha se referido tão somente à lista de postos de vacinação infantojuvenil, disponível no site da secretaria de saúde, e que anuncia a vacinação de qualquer criança de 5 a 11 anos, das redes pública ou particular. Até porque toda criança a partir de 5 anos de idade está (ou deveria estar) matriculada em alguma instituição de ensino, pública ou privada.

 

Sem passaporte vacinal

A secretária disse que não vai exigir nem de profissionais de educação nem de estudantes a comprovação de vacinação contra Covid. Argumentou que a SEEDF está focada em “recuperar o aprendizado”, então limitar a entrada de estudantes é segregar ainda mais e promover ainda mais a disparidade de aprendizado entre os diversos estudantes. Sobre as leis distritais e federais que resguardam o passaporte da vacina na volta às aulas, ou sobre uma campanha de vacinação específica para a comunidade escolar? Nem uma palavra.

 

Estagiários para recomposição das aprendizagens perdidas

Ao afirmar que “o foco [da Secretaria de Educação] é nos estudantes”, a secretária declarou que em 2022 haverá a promoção daquilo que a SEEDF chama de “recomposição das aprendizagens perdidas”. Explicou que, em março, a pasta realizará uma avaliação diagnóstica para a rede, “para que tenhamos noção das perdas que nossos estudantes tiveram nesse período, e aí sim entrar com ações pedagógicas para recompor as aprendizagens perdidas”.

E como se dará essa “recomposição de aprendizagem”? Segundo a subsecretária de educação básica, Solange Froizer, uma “parceria” entre UnB e SEEDF resolve tudo. A UnB entra com estagiários de licenciatura em pedagogia para “darem suporte nas unidades escolares”.

Na busca de tapar o sol com a peneira, a SEEDF não se dá conta da demanda reprimida por concursos públicos para repor o quadro do magistério público distrital (cuja demanda reprimida é de mais de 5 mil professores, sem contar com o fato de que, do total de 35.504 professores em sala de aula no DF, 10.791 são de contrato temporário, e sem considerar o aumento demográfico da população que gera a demanda natural por mais unidades físicas de ensino e mais professores).

O Sinpro saúda e valoriza todo o trabalho da Faculdade de Educação daquela que é a melhor universidade do Distrito Federal, mas recuperação de aprendizagem se dá com profissionais concursados e capacitados. Estagiários são muito bem-vindos, mas sua presença não elimina a necessidade de profissionais efetivos para conduzirem o processo.

 

Escola nova e concurso público

A secretária anunciou a construção de 18 novas unidades escolares até o fim deste ano e concurso público para o preenchimento de pouco mais de 700 vagas, ignorando solenemente o fato de que várias obras ainda não saíram do papel, e que algumas reformas se arrastam há anos, bem como a demanda por novos profissionais que supera as 5 mil vagas, como já dissemos no início desta matéria.

Chat do Youtube

A reportagem do Sinpro acompanhou a entrevista coletiva da secretária Hélvia Paranaguá pelo youtube. No chat da plataforma, vários profissionais do magistério também acompanharam o evento online, e se manifestaram sobre diversas questões. A mais recorrente era a superlotação das salas de aula – tema que foi deliberadamente ignorado pela secretária. Havia denúncias de superlotação até mesmo em turmas inclusivas. Também ocorreram alertas sobre a falta de profissionais de disciplinas específicas. Tudo totalmente ignorado. Comentários com cobranças de diálogo da SEEDF com o Sinpro foram apagados pelo moderador (fotos).

A diretoria colegiada do Sinpro avalia que o teor dessa coletiva é consequência da intransigência absoluta da SEEDF em se recusar a dialogar tanto com gestores quanto com o sindicato da categoria. Assistimos ao anúncio de medidas que não condizem com a realidade do ensino do Distrito Federal. E quem chamava a secretaria à realidade era absolutamente ignorado. A se tomar pelo teor dessa coletiva, 2022 será um ano muito difícil para todo mundo, e exigirá de toda a categoria muita luta e união. Lembramos que a assembleia de nossa categoria está convocada para o próximo dia 22 de fevereiro. Por isso, é fundamental a participação de todo mundo.