Conselheiro escolar, docente considera jornada ampliada maior avanço do DF

beto tutu2Em setembro, mais de 30 mil pessoas disputaram as 6.500 vagas temporárias da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) em um processo de seleção simplificado para graduados em artes, biologia, biomedicina, administração, contabilidade, educação física, entre outros. O objetivo era para atuar na educação infantil, ensino fundamental e médio, educação de jovens e adultos e profissionais nas regiões administrativas.
Se houver concurso todo ano, haverá ampla concorrência sempre. É que, embora o magistério não seja um setor privilegiado pelos investimentos financeiros dos governos, é uma área em constante expansão, fundamental para a soberania de um país, indispensável para o ramo da pesquisa e descobertas e necessária para a formação das pessoas. E é tão atrativa e importante que, ao mesmo tempo em que conquista seu corpo funcional pelo sentimento de amor à causa, atrai capitalistas do mundo inteiro que veem cada usuário como milhares de unidades monetárias.
Não é à toa que a Organização Mundial do Comércio (OMC) definiu, nas décadas de 1970 e 1980, respectivamente nas Rodadas do Uruguai e de Doha, que seus países membro deveriam transformar os serviços públicos e os direitos sociais, como educação e saúde, em mercadoria. Por causa desse novo conceito, governantes privatistas e defensores do neoliberalismo investiram pesado no sucateamento da educação pública e na promoção do ensino privado. Entre 1972 até hoje houve uma explosão de escolas privadas em todos os níveis no Brasil.
Apesar da criação de um mercado educacional, o Distrito Federal resistiu a essa concepção. Nos últimos cinco anos, o governo foi contra a maré, investindo alto em concursos públicos para contratação de mão de obra e em políticas públicas para fortalecimento do sistema de ensino. Carlos Roberto Morais dos Santos, professor na Escola Parque 308 Sul e cantor conhecido pelo nome artístico de Betto Tutu, diz que a adoção da gestão democrática e dos Conselhos Escolares, uma reivindicação histórica da categoria docente, é a prova do investimento do atual governo na educação pública.
“A gestão democrática e os Conselhos Escolares são uma forma de a comunidade escolar monitorar a entrada e a saída do dinheiro público em cada escola”, afirma. Conselheiro da Escola Parque 308 Sul, ele assegura que outro avanço instituído nos últimos anos no sistema de ensino do DF foi a jornada ampliada. “Esse foi o maior avanço. Graças à jornada ampliada, hoje o(a) professor(a) divide seu tempo em sala de aula e essas 15h semanais de formação pedagógica em aperfeiçoamento, reciclagem e formação continuada. É preciso melhorar ainda mais esse modelo porque a categoria de atualização, aperfeiçoando-se continuamente”, argumenta.
Há 19 anos atuando na SEEDF, ele acredita que a comunidade tem de participar, ficar de olho também na qualidade do ensino. “Tem de exercer a fiscalização, até porque é o dinheiro público e a educação do(a) filho(a) dela em jogo e tudo isso está nas mãos de um gestor”, afirma. E acrescenta: “O governo tem feito o papel dele, mas quem vê os desvios de gestão são os docentes e a comunidade”, declara.
Betto Tutu só vê possibilidade de melhoria na educação pública se o setor for tratado como prioridade nacional e houver mudanças no sistema e na carreira. “Gostaria de fazer uma segunda formação, a de músico, porque hoje sou músico de ouvido e gostaria de ser acadêmico, mas não consigo por causa da falta de oportunidade”. Segundo ele, atualmente, além da falta de oportunidades, o docente anda cansado, precisando de um bom plano de saúde por vários motivos, mas, sobretudo, porque a geração de estudantes os maltrata.
“São crianças e adolescentes difíceis, mal educados, agressivos. É uma geração que perdeu os limites, e esse comportamento adoece o professorado. Precisamos urgentemente de um bom plano de saúde. Há 20 anos isso foi prometido, mas nunca cumprido. Não temos direito nem à vacina antigripe e todos os dias há centenas de professores com atestado médico por causa de uma simples gripe”, desabafa.
Ele aponta a licença prêmio como um problema, uma vez que somente docentes grávidas e aposentados podem obtê-la. As deficiências não o impedem de se sentir realizado na carreira. Betto diz que a docência é mais do que uma profissão: é uma parte do seu ser. “Gosto tanto de ser professor que não cometo esse desvio conceitual de ensinar a meus alfabetizandos a me chamarem de “tio”. Não. Não quero essa relação de mentira. Não sou tio deles. Sou professor, mestre”, reforça.
Professor de alfabetização dos anos iniciais na Escola Classe 308 Sul, ele considera que ao remunerar mal os(as) trabalhadores da educação, o governo os desrespeitas. “Sinto-me confortável nos meus pleitos porque a direção nos apoia, mas me sinto desprestigiado no salário. Quero uma remuneração igual à dos policiais civis e outras carreiras públicas, que recebem, na entrada, a remuneração que nós, professores, recebemos na saída, na aposentadoria”, diz.
Ele acredita que se o governo continuar com a política de valorização da educação pública e dos professores, haverá realmente investimento dos recursos que virão dos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e do pré-sal – fontes definidas no Plano Nacional de Educação (PNE) sancionado este ano pela presidenta Dilma após dois anos de tramitação no Congresso Nacional.
Formado em educação artística pela Universidade de Brasília (UnB), Betto se sente realizado e conta que iniciou sua carreira na SEEDF como professor temporário. “Foi no Varjão. Quando entrei na sala de aula, há 19 anos, havia 42 crianças de 1ª Série, todas falando ao mesmo tempo, me chamando de tio. Pareciam milhares de grilos. Fiquei assustado. Mas descobri que poderia alfabetizá-los com a música. Passei a levar o violão e, por meio das cantigas de roda, as alfabetizei.Hoje sei que nasci para ser professor”, lembra.
Professor: Carlos Roberto Morais dos Santos, Betto Tutu
Escola Parque 308 Sul
 
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