Pioneiro no DF, Cemi do Gama alia educação inclusiva à educação profissional

Com insuficiente atenção e restrita disponibilização de recursos por parte do GDF na educação especial e na educação inclusiva, as escolas da rede pública do DF, muitas vezes, “se viram” praticamente sozinhas para atender adequadamente crianças e adolescentes com deficiência, TEA (transtorno do espectro autista) ou altas habilidades. A dedicação dos profissionais de educação tem feito toda a diferença na trajetória de muitos estudantes rumo ao seu desenvolvimento, superação de limites e realização de potencialidades.

Na última matéria sobre o tema, falamos sobre a bem-sucedida experiência da sala de recursos do CEF 05 do Gama, que alcança bons resultados valorizando a perspectiva da inclusão nos anos finais do ensino fundamental.

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No caso de adolescentes do ensino médio e/ou profissionalizante, há nuances diferenciadas em relação aos estudantes do ensino básico. Na maior parte das vezes, os adolescentes já chegam à escola com o diagnóstico e o laudo que atestam sua condição, e já iniciaram um trabalho específico a partir deles. “Também acontece de termos alunos no ensino médio cujas famílias não identificaram sua condição, e somos nós, os profissionais do magistério, que, pela experiência, indicamos à família o encaminhamento adequado para aquele caso”, revela a professora Maria das Graças Veras, a Gracinha, da sala de recursos do Cemi (Centro de Ensino Médio Integrado) do Gama.

Ao identificar que um estudante possa ter um diagnóstico de TEA ou de altas habilidades, por exemplo, o professor ou professora o encaminha para a orientação educacional. “A qualificação e a experiência contam muito para que esse adolescente seja bem acolhido, supere suas dificuldades e construa seu caminho com autonomia”, aponta Gracinha, destacando a importância do trabalho do orientador ou orientadora educacional.

Equipe da sala de recursos do Cemi Gama: Márcio Alves (monitor), professora Gracinha, professor Lafaiete Formiga (diretor da escola), Amanda Gonçalves (monitora), professora Maria Chaves e Marco Lucca Rodrigues (educador social voluntário, ex-aluno da escola).

 

Segundo a professora, a construção da autonomia dos estudantes é um objetivo central. “A escola mantém relação direta com as famílias, e essa parceria permite que nosso trabalho se desenvolva em conjunto com o dos profissionais de saúde”, diz a professora.

Para a diretoria do Sinpro, o bom atendimento na sala de recursos pressupõe profissionais bem remunerados, com condições adequadas de trabalho e sem sobrecarga de atividades. “A sala de recursos, a educação inclusiva e a educação especial são muito importantes e precisam da atenção adequada para serem bem realizadas”, aponta a diretora do Sinpro Ritinha Olly. “Isso só vai acontecer se o GDF olhar com o carinho necessário para a educação especial”.

 

Ensino integrado e educação inclusiva

O Cemi tem uma realidade diferenciada por oferecer ensino integrado e integral, o que impacta na convivência entre os estudantes; entre profissionais do magistério e estudantes; e entre os estudantes e os conteúdos. No horário de almoço, são oferecidas disciplinas eletivas que são parte do projeto EMTI (Ensino Médio em Tempo Integral).

Nesses momentos, estímulos são oferecidos aos estudantes, e eles respondem: “Nós já produzimos um curta-metragem em cinema mudo, temos times de futebol e agora está nascendo uma banda”, conta Gracinha. “Nosso papel é disponibilizar os recursos para que eles realizem suas habilidades”.

O Cemi tem muitas histórias para contar sobre isso. Referência no Distrito Federal, a escola é procurada por estudantes que desejam se aprofundar nas áreas de tecnologia e informática. “Todos os anos, abrimos as portas de nossa escola num intercâmbio para que os estudantes que vão ingressar no ensino médio possam nos conhecer”, explica o diretor da escola, Lafaiete Formiga. “O desempenho de nossos alunos no Enem é altamente satisfatório, e muitos seguem seus estudos em grandes universidades, como a UnB”. O Cemi disponibiliza anualmente 80 vagas para serem preenchidas mediante sorteio. Destas 80 vagas, 64 são destinadas à ampla concorrência e as 16 restantes são oferecidas para pessoas com deficiência ou com transtorno de espectro autista.

A escola é pioneira em dar o devido recorte da educação inclusiva à educação profissional. As ferramentas pedagógicas referentes ao currículo são disponíveis para os estudantes. O “Espaço Maker” oferece recursos através dos quais os adolescentes com deficiência, TEA ou altas habilidades podem aprofundar suas potencialidades e descobrir novas afinidades, sempre com o acompanhamento da sala de recursos.

Espaço Maker

 

Lá foi desenvolvido o projeto Diger-Bio, lixeira automatizada que produz biogás e biofertilizante a partir das sobras de alimentos, reduzindo o descarte de lixo inorgânico e reutilizando na própria cozinha da escola. Esse projeto rendeu a um estudante do Cemi, que usufruía de bolsa CNPQ quando na escola, uma bolsa de ensino superior ao chegar à UnB para seguir com o projeto.

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Porto seguro

O Cemi do Gama é uma escola inteiramente acessível, e o ambiente é construído para que os adolescentes da educação inclusiva se sintam confortáveis. “A sala de recursos, muitas vezes, é o porto seguro desses adolescentes, é onde eles sentem pertencimento e ficam à vontade, inclusive, para trazer suas ideias”, pontua o professor Lafaiete.

Muitos dos estímulos oferecidos pela sala de recursos, inclusive, são propostos pelos próprios estudantes. “Eles desenvolvem amizades e frequentam juntos a sala, é um ambiente leve para todos”, conta a professora Maria Chaves, da sala de recursos do Cemi. “A sala é aberta aos alunos regulares e muitas atividades são praticadas conjuntamente”, diz ela.

Estudantes na sala de recursos do Cemi.

 

Uma parte fundamental da educação inclusiva é contar com a parceria dos estudantes regulares, tanto para evitar processos de “bullying” e de constrangimento de qualquer natureza quanto para contar com a colaboração dos estudantes no processo de aprendizagem e de socialização dos adolescentes com deficiência, TEA ou altas habilidades.

Criação de vínculo é uma premissa da educação inclusiva. Por isso, o trabalho dos monitores e monitoras é de fundamental importância, e os demais profissionais de educação do Cemi chamam a atenção para uma questão relevante: “Os monitores são redistribuídos todo ano, o que causa prejuízo ao nosso trabalho e ao desenvolvimento dos estudantes com deficiência”, registra o professor Lafaiete. “É a única carreira que tem essa dinâmica, e nós precisaríamos que eles ficassem lotados permanentemente, como os demais, para dar sequência ao trabalho e à relação com alunos e famílias”, ressalta.

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