Da iniciação científica à pesquisa: projeto do Cemi torna-se bolsista na Universidade de Brasília

Um projeto desenvolvido por professores e estudantes do Cemi-Gama alcançou um feito notável: o estudante Flávio Eduardo, que atuou como bolsista CNPQ no ensino médio integrado à educação profissional do Cemi, foi contemplado com uma nova bolsa, desta vez, no ensino superior: Flávio será bolsista na Universidade de Brasília (UnB), dando sequência ao trabalho que desenvolve no projeto desde o nível médio.

O projeto em questão é o Diger-Bio, uma lixeira automatizada que produz biogás e biofertilizante a partir das sobras de alimentos. Dessa forma, a lixeira também reduz o descarte de lixo inorgânico e o reutiliza na própria cozinha escolar.

De acordo com a professora Marília Pinheiro, idealizadora do projeto, ele se enquadra na plataforma da Agenda 2030, proposta pela ONU com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e se orienta pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Atualmente, a maior parte do lixo produzido no Brasil é de origem orgânica.

“O Diger-Bio se propõe a auxiliar na redução consciente de dejetos alimentares, aprimorando digestores rurais para uso em ambientes urbanos, como escolas públicas e restaurantes”, explica a professora Marília. “O projeto foi iniciado em 2019, e é uma releitura dos biodigestores rurais existentes, inovando na automatização, na eliminação do mau cheiro, na produção de biofertilizante de qualidade e de biogás”, completa.

As vantagens ambientais, econômicas e sociais apresentadas pelo Diger-Bio certamente foram decisivas na conquista de Flávio Eduardo, que, no Cemi, era orientando de Marília e do professor Alair Freire. Para a professora, o fato de o projeto ter continuidade na transição do nível médio para o superior é uma grande vitória. “Nosso projeto foi selecionado entre 5 mil outros para se tornar pesquisa científica, o que possibilitará que o estudante dê sequência ao seu trabalho”, ela conta.

Um novo grupo de estudantes foi formado para o projeto no Cemi, substituindo aqueles que foram para a graduação. A bolsa concedida a Flávio permite que ele se mantenha no projeto, cumprindo seus horários de bolsista junto ao novo grupo e aprimorando seus conhecimentos. “O estudante não começará no zero sua caminhada na universidade”, aponta Marília. “Essa conquista mostra a qualidade do trabalho realizado nas escolas públicas, e o potencial do nosso ensino médio público de desenvolver projetos com viés social bem fundamentado e desenho de pesquisa aprofundado”, comemora.

Outra estudante ligada ao Diger-Bio também teria sido selecionada para bolsista na universidade, não fosse o recente corte de bolsas promovido pelo MEC (Ministério da Educação) de Bolsonaro. Ela agora está na lista de espera para as próximas bolsas. O premiado projeto está em fase de prototipação e em breve deve ir a teste em lugares públicos.

Para Jairo Mendonça, diretor do Sinpro, trata-se de uma vitória de grande porte. “A escola pública é a única esperança para milhões de jovens”, pontua ele. “Termos uma escola como o Cemi, que propõe iniciação científica ainda no ensino médio, é fundamental para elevar as perspectivas dos estudantes da classe trabalhadora e para abrir-lhes as portas da universidade num contexto em que o ministro da educação afirma que ensino superior não é pra todo mundo”, conclui.