Xô covid | Na onda de Bolsonaro, Ibaneis pode reinstalar caos sanitário no DF

A associação absurda entre as vacinas contra a covid-19 e o desenvolvimento da Aids, feita pelo presidente Jair Bolsonaro, foi um dos temas mais falados nos últimos dias. Sem qualquer tipo de limite, o capitão reformado do Exército – que insinuou diminuir o tom após pressão do Supremo Tribunal Federal – coloca novamente força total para manter o Brasil no fosso da crise sanitária. Com verniz democrático, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), segue os trilhos de Bolsonaro, apoiado pelo emdebista nas eleições de 2018.

Recentemente, ao menos dois graves anúncios foram feitos por Ibaneis: a possibilidade de acabar com a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes públicos e o retorno das aulas 100% presenciais a partir do dia 3 de novembro.

Segundo o infectologista Julival Ribeiro, coordenador do Núcleo de Controle de Infecção do Hospital de Base do Distrito Federal, ambos os anúncios são, no mínimo, precipitados.

“Apesar de o número de mortes e de casos graves decorrentes da covid-19 estarem reduzindo, não é o momento de suspender essa medida tão importante, que é o uso da máscara cobrindo nariz e boca. Ainda não temos 80%, 85% da população imunizada, o que é chamado de imunidade de rebanho. Portanto, a medida (de estudo da suspensão das máscaras) é precoce. Temos que lembrar não sabemos como anda a distribuição das variantes, que inclui sobretudo a Delta, altamente transmissível”, ressalta o infectologista.

A primeira cidade do Brasil a abolir o uso de máscara foi Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, medida tomada pelo prefeito copartidário de Ibaneis, Washington Reis. Dois dias depois, decisão judicial suspendeu a flexibilização, questionada pelo Ministério Público.

Nos estados Unidos, a obrigatoriedade da máscara também foi flexibilizada quando cerca de 35% da população estava imunizada contra a covid-19. Após um mês da medida, os casos de óbito pela doença aumentaram, e o Centro de Controle de Doenças (CDC) do país decidiu obrigar novamente o uso da máscara.

Medida precipitada
Sobre o retorno às aulas 100% presenciais, o coordenador do Núcleo de Controle de Infecção do Hospital de Base do DF, Julival Ribeiro, ressalta que a medida só deve ser executada caso o Governo do Distrito Federal ofereça total condições para isso.

“Se for para ser todo mundo presencial ao mesmo tempo, as medidas de prevenção, como máscara, distanciamento, higienização das mãos, devem ser totalmente aderidas e executadas no ambiente escolar. Além disso, se esse retorno for feito, deve-se analisar, toda semana, o que vem acontecendo nas escolas, apontando novos casos e todas as providências. E é também importante lembrar que, para se ter as pessoas 100% presenciais, deve-se ter toda uma estrutura para dar suporte a essa decisão. Isso é definitivo”, ressalta.

Ele ainda lembra que, no Brasil, não há vacina adequada para crianças menores de 12 anos, que também podem ser vítimas fatais da covid-19. “Infelizmente, outros países mostram muitas mortes e casos graves em crianças abaixo de 11 anos”, enfatiza.

Em nota lançada no dia 22 de outubro, o Sinpro-DF afirma que “tentar impor uma volta precipitada, que não pondera as graves consequências desse retorno, é colocar em xeque todo esforço feito pela comunidade escolar para preservar vidas durante esse um ano e sete meses”. 

Os dados mais recentes do GDF mostram que apenas 58,73% da população local elegível à vacinação já tomou as duas doses da vacina. Até o dia 20 de outubro, no grupo de adolescente de 18 e 19 anos, apenas 20,78% estava completamente vacinado. Já o percentual referente às crianças e adolescentes de 12 a 17 anos era de apenas 1,14%. “E é essencial lembrar que as demais crianças, que ainda não têm a cobertura da vacina, mas são maioria na educação básica, contam apenas com o distanciamento e a utilização de máscara para defender a própria vida”, ressalta a nota do Sinpro-DF.

Xô Covid
Embora os números mostrem que as vacinas contra a covid-19 foram determinantes para conter os números de mortes e de casos graves contra a doença, negacionistas, apoiadores populares e políticos do presidente Bolsonaro, além do próprio presidente, continuam espalhando desinformação sobre a imunização.

Diante do ato criminoso, o Sinpro-DF orienta que as escolas públicas do DF façam adesão à campanha “Xô Covid, vacina logo!”, lançada pelo Sindicato no dia 5 de outubro.

A campanha tem como objetivo estimular que o ambiente escolar seja espaço de incentivo para que estudantes e seus familiares se vacinem e mantenham as medidas de segurança sanitária, como utilização de máscara, distanciamento e higienização das mãos. Para isso, as escolas devem contar para o Sinpro-DF como vêm realizado a campanha pela vacinação. O relato, em forma de vídeo, texto ou foto, deve ser enviado para o whatsapp 99323-8131 ou para o email imprensa@sinprodf.org.br. Todo material será divulgado nas redes sociais do Sinpro-DF.

“A Campanha Xô Covid é um apelo à vida. Escola é lugar de ciência, e por isso mesmo é lugar de se combater o negacionismo. O desincentivo à vacina é, no mínimo, cruel. Assim como também são a flexibilização do uso da máscara e o incentivo a aglomerações em espaços sem a estrutura adequada, como grande parte das escolas públicas do DF. Por tudo isso, em defesa da vida, a categoria deve aderir em massa a campanha”, afirma a dirigente do Sinpro-DF Letícia Montandon.

Já Rosilene Corrêa, também dirigente do Sinpro-DF, afirma que o retorno às aulas 100% presenciais “é também um desejo da categoria, mas que se deve ter as condições apropriadas para isso”. “Todo mundo quer o retorno à normalidade. Mas, por agora, a situação ainda está longe de ser normal. Não podemos desconsiderar que pessoas ainda morrem por causa de problemas gerados pela covid-19, inclusive crianças. Nos últimos quatro dias, 35 pessoas morreram no DF por causa de complicações da doença”. Para a dirigente sindical, “a defesa da vida deve ser prioridade sempre”.

 
 

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