NÃO AO RETORNO 100% PRESENCIAL | Defesa da vida continua sendo principal pauta do Sinpro-DF

O Governo do Distrito Federal segue com a tentativa de normalizar a gravidade dos efeitos da pandemia da covid-19. Sem qualquer discussão com o Sinpro-DF, representante máximo da categoria do magistério público, a secretária de Educação do DF, Hélvia Paranaguá, disse que, “em poucos dias”, as escolas públicas terão o retorno das aulas 100% presenciais. O anúncio foi dado com empolgação nessa quinta-feira (21/10), em vídeo publicado nas redes sociais da Secretaria de Educação, que em momento algum considerou a realidade de risco à vida de crianças, adolescentes, trabalhadores(as) da educação e da sociedade em geral.

No início do vídeo de pouco mais de 30 segundos, Paranaguá diz que o retorno às aulas 100% presenciais é uma “ótima notícia”. A realidade das escolas públicas, entretanto, mostra o contrário. Desde o retorno presencial às aulas de forma híbrida, em agosto desse ano, foram registradas três mortes de professores – completamente imunizados – em decorrência de complicações da covid-19 e ao menos 136 escolas com um ou mais casos de infecção em estudantes ou trabalhadores(as) da educação.

Mesmo com os dados que mostram o risco do ambiente escolar em meio à pandemia, não houve investimento para que as escolas aumentassem sua capacidade física, não há testagem em massa e a ausência de protocolos claros e estratégias de controle sanitário segue sendo uma constante. O fato mostra que, no caso de um retorno 100% presencial, seria praticamente impossível o distanciamento imprescindível entre os estudantes e a prevenção ou mesmo reação a um provável surto de infecção.

Além disso, embora a vacinação contra a covid-19 tenha avançado após um longo (e desnecessário) período, o quadro vacinal apresentado pela própria Secretaria de Saúde do DF ainda não está de acordo com o que orienta a Organização Mundial de Saúde (OMS) para se pensar em afrouxamento das medidas de segurança sanitária. Os dados mais recentes mostram que apenas 58,73% da população do DF elegível à vacinação já tomou as duas doses da vacina. Mas os números são muito piores quando analisada a população de 12 a 19 anos, público em idade escolar que já pode ser vacinado. Até o dia 20 de outubro, no grupo de adolescente de 18 e 19 anos, apenas 20,78% estava completamente vacinado. Já o percentual referente às crianças e adolescentes de 12 a 17 anos era de apenas 1,14%. E é essencial lembrar que as demais crianças, que ainda não têm a cobertura da vacina, mas são maioria na educação básica, contam apenas com o distanciamento e a utilização de máscara para defender a própria vida.

Na mesma quinta-feira que a secretária de Educação anunciou o possível retorno das aulas 100% presenciais, o DF registrou mais 11 mortes e 421 novos casos de covid-19. Aqui, desde o início da pandemia, 10.756 pessoas morreram.

Ainda que haja o anúncio do recuo na taxa de transmissão da covid-19 e dos casos de morte e internação, o vírus continua circulando no DF e enchendo hospitais, sobretudo as UTIs pediátricas. Inerente a isso, o risco da perda de vidas e, na melhor das hipóteses, de sequelas que podem durar a vida inteira. É por isso que, no caminho inverso do que estipula o GDF, capitais de países como a Rússia, por exemplo, já anunciaram que voltarão com medidas de lockdown para conter os casos de infecção do vírus e se prevenir contra uma possível quarta onda da doença, diante da variante AY.4.2.

Por tudo isso, se torna no mínimo incompreensível o anúncio do retorno às aulas 100% presenciais, feito pela secretária de Educação. Tentar impor uma volta precipitada, que não pondera as graves consequências desse retorno, é colocar em xeque todo esforço feito pela comunidade escolar para preservar vidas durante esse um ano e sete meses. O retorno às aulas 100% presenciais também é um desejo da comunidade escolar, mas, antes de qualquer coisa, precisamos ter as reais condições para isso.

O momento é de reforçar as medidas já adotadas para conter o avanço da covid-19, garantir a terceira dose da vacina para trabalhadores(as) em educação e corrigir as deficiências causadas pela ausência de políticas públicas sólidas e efetivas para o setor. De forma inegociável, a principal pauta do Sinpro-DF continua sendo a defesa da vida. E não nos alinharemos a medidas que contrariem isso.

 

Diretoria colegiada do Sinpro-DF