Sinpro vai às ruas dialogar com mulheres sobre violência de gênero

Muitas mulheres são vítimas de violência e não sabem. Outras sabem que são vítimas, mas não sabem como agir. Para dialogar com as mulheres do Distrito Federal sobre violência de gênero e o que fazer diante disso, nessa quinta-feira (25/11), dirigentes do Sinpro-DF e movimentos feministas distribuíram 1,5 mil panfletos sobre o tema na Rodoviária do Plano Piloto. A atividade marcou o Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher e integrou as ações dos 21 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres.

Recebido com curiosidade pelas mulheres que transitavam na Rodoviária do Plano Piloto, o panfleto (acesse AQUI) apresentava 13 perguntas, com resposta sim ou não, para identificar se a leitora estava em um relacionamento abusivo ou tóxico.

“A sociedade que a gente vive é tão cruel com as mulheres, que muitas vezes somos vítimas de violência e nos sentimos culpadas por algo que, nem de longe, é culpa nossa. Essa sociedade tenta normalizar gritos, tapas, xingamentos e tantas outras coisas que ferem a gente de morte. Não podemos permitir isso. Por essa razão, o Sinpro foi às ruas conversar com as mulheres e orientá-las sobre o que fazer caso se identifiquem como vítimas de violência”, afirma a coordenadora da pasta de Assuntos e Políticas para Mulheres Educadoras do Sinpro, Vilmara do Carmo.

O material distribuído na ação dos 21 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres também apresentava à sociedade algumas lutas das mulheres, como o direito à creche gratuita e de qualidade, e os telefones dos Centros Especializados de Atendimento às Mulheres (CEAMs).

Além de falas potentes, inclusive de representações indígenas, o ato também contou com a apresentação da professora e cantora Zeni Rainha, participação de poetizas, jogral e palavras de ordem.

Dados
De acordo com o 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Distrito Federal foi a capital que mais registrou casos de violência doméstica em 2019. Foram 16.549 casos, 7,1% a mais que em 2018.

O DF também foi a segunda capital com mais registros de feminicídios no país: 33 casos em 2019. E de janeiro a novembro deste ano, ao menos 25 mulheres foram assassinadas por seus companheiros ou ex-companheiros, pelo fato de serem mulheres.

Segundo o relatório da CPI do Feminicídio, concluído em maio deste ano, muitas mortes de mulheres poderiam ter sido evitadas não fosse a condição de um Estado que demonstra desprezo por políticas públicas e pela vida das mulheres.

Durante 11 meses de funcionamento, a CPI do Feminicídio analisou 90 processos sobre feminicídio, 74 deles processados em 2019 e 2020 e o restante de anos anteriores. Dos 90 processos, 37 foram de feminicídios consumados e 53 se remeteram à tentativa do crime. Das vítimas fatais, 48,6% tinham medidas protetivas de urgência deferidas. E do grupo de mulheres que sobreviveram, 84,9% só tiveram a medida protetiva de urgência solicitada após a tentativa de feminicídio.

Embora o “apagão de dados” sobre o perfil das vítimas, como cita o relatório da CPI do Feminicídio, a investigação constatou que quase 80% delas eram pretas ou pardas, e mais da metade das vítimas tinha entre 30 e 49 anos. Dentro dos dados que foram possíveis coletar, a maioria das vítimas de feminicídio eram donas de casa ou estavam desempregadas. De acordo com o relatório, dos 90 casos de feminicídio, em apenas um vítima e agressor não se conheciam. Em 76,6% dos casos, a vítima tinha relação de esposa/companheira ou ex-esposa/ex-companheira com o agressor.

O relatório da CPI do Feminicídio ainda comprovou que, para além da inexistência do trabalho em rede das políticas públicas, da ausência de orçamento, de problemas diversos no protocolo de atendimento das vítimas e agressores, há flagrante deficiência de pessoal para atuação nos órgãos integrados ao processo de acolhimento às vítimas de feminicídio. E para os servidores que exercem as atividades, segundo o documento, há descaso total com as condições de trabalho.

Luta
Internacionalmente, as ações dos 21 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres começa no dia 25 de novembro e vai até do dia 10 de dezembro. Mas, no Brasil, a mobilização tem início no dia 20 de novembro – Dia da Consciência Negra –, para evidenciar que as mulheres negras são as principais vítimas de todos os tipos de violência de gênero.

Fotos: Eduardo Henrique