Preços elevados, CPI, troca de presidentes, difamação: tudo cena para privatizar a Petrobrás

“A ameaça de CPI da Petrobrás é mais uma pauta bomba de Bolsonaro/Lira, direcionada à empresa, com objetivo definido: criar narrativa mentirosa de que a Petrobrás é o problema. Trocas sucessivas de presidente e diretoria da estatal fazem parte da mesma estratégia em busca de destruição da imagem da empresa”, disse Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP) em entrevista ao site da própria federação.

Nas duas últimas semanas, o Brasil assiste às novas tentativas de privatização da sua maior empresa de energia: a Petrobrás. O presidente da República Jair Bolsonaro (PL) propôs a realização de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás para saber os motivos de tanta elevação de preços. Mas ele sabe que a culpa é dele que não muda a política de preços. “Tudo não passa de encenações e novos ataques para privatizar a Petrobrás, não é nada mais do que mais uma artimanha de Bolsonaro e do ministro da Economia Paulo Guedes para privatizar a empresa”, afirmam os petroleiros.

Nesta segunda matéria da série “Em defesa da Petrobrás”, o Sinpro-DF entrevistou Roni Barbosa, petroleiro, secretário de Comunicação do Sindicato dos Petroleiros Paraná e Santa Catarina (Sindipetro-PR/SC) e secretário de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores Brasil (CUT Brasil) (foto). Ele afirma que, para entender por que os preços sobem toda semana e que é uma grande mentira a privatização da maior empresa de energia do Brasil, é preciso recapitular o golpe de Estado de 2016.

 

O elevado preço dos combustíveis e o resgate histórico

“Não há como entender essa situação de elevação quase diária de preços se não houver uma resgate da história recente do Brasil, um país que possui uma das maiores empresas estatais petrolíferas do mundo e imensas reservas de petróleo em solo nacional, foram o principal motivo do golpe de Estado de 2016. É essa empresa e suas riquezas minerais que os banqueiros, rentistas, debenturistas, donos de empresas de exploração de petróleo estrangeiras, países imperialistas, como os Estados Unidos da América (EUA), Reino Unido e outros, querem tomar dos brasileiros. Para isso, criaram o golpe de Estado de 2016 e contaram com a desonestidade de centenas de políticos traidores do Brasil”, destaca o sindicalista.

Barbosa explica que os sucessivos aumentos de preços de combustíveis no Brasil começaram em 2016, após o golpe de Estado que derrubou a presidente Dilma Rousseff (PT) da Presidência da República. A política de preços mudou na gestão do presidente Michel Temer (MDB), quando presidente da Petrobrás era Pedro Parente, que adotou na empresa essa política absurda de o Brasil seguir os preços de paridade de importação. Essa política coloca como se o Brasil não tivesse nem petróleo nem refinarias.

“De lá para cá essa política vem se acentuando. No governo Jair Bolsonaro isso aprofundou bastante. O preço dos combustíveis, gasolina, diesel, gás, se elevou a tal ponto que muitas famílias deixaram de comprar gás e usar lenha para cozinhar. Os combustíveis estão puxando boa parte da inflação no Brasil. Essa política vai contra os interesses, inclusive, da própria Petrobrás. Com essa política, o governo Bolsonaro está inviabilizando tudo dentro do Brasil e todo esse processo é para culpabilizar a própria Petrobrás. É bom deixar explícito aqui que a culpa é da gestão Bolsonaro que está lá dentro”, denuncia.

Ele lembra que Bolsonaro já trocou quatro vezes o presidente da Petrobrás, mas não mexe na política de preços dos combustíveis, que é o que afeta fortemente a população brasileira. “Mas nós temos pesquisas que indicam que a maioria da população é contra a privatização da Petrobrás e sabe que essa “crise” está sendo criada dentro da empresa e faz parte de uma criminosa operação de desmonte, de fatiamento do Sistema Petrobrás, para vender aos estrangeiros, tudo isso para desmoralizar e privatizar a maior empresa de energia do Brasil”.

Todo o processo de política de preços, tentando culpabilizar a Petrobrás é justamente uma estratégia do ministro da Economia, Paulo Guedes, para privatizar a empresa. O governo Bolsonaro fatiou boa parte do Sistema Petrobrás, já venderam poços de petróleo altamente rentáveis para o Brasil a preços ridículos, venderam várias refinarias pela metade do preço que elas valiam no mercado internacional.

BR Distribuidora, RLAM, fertilizantes e os custos para os brasileiros

 “A Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, uma das mais produtivas do mundo, foi vendida pela metade do preço que ela valia e, hoje, ela cobra 10% acima do preço da Petrobrás. Ou seja, uma refinaria privatizada cobra 10% a mais dos baianos e do Brasil todo com sua política de preços. O governo Bolsonaro/Paulo Guedes vende para a população a ideia de que a privatização fosse melhorar os preços do combustível. Pelo contrário. A privatização vai piorar porque os lucros estarão acima de qualquer outro interesse. As empresas privadas têm o interesse em investimentos para obter lucros onde eles [Bolsonaro/Guedes/Arthur Lira] estão vendendo os ativos da Petrobrás”, explica.

Em fevereiro de 2021, uma análise do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), divulgada na mídia, mostrava que a gestão bolsonarista da Petrobrás negociou a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, pela metade do valor que poderia receber. Segundo os cálculos do Ineep, a Rlam estava avaliada, na época, por um valor entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. Uma semana antes da divulgação do estudo, a gestão bolsonarista da Petrobrás anunciou que o grupo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes, comprou a refinaria por US$ 1,65 bilhão.

Ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP), o Ineep representa os trabalhadores da petroleira.  A RLAM foi a primeira refinaria nacional de petróleo. Sua criação, em setembro de 1950, foi impulsionada pela descoberta do petróleo na Bahia e pelo sonho de uma nação independente em energia. Em janeiro deste ano, em um editorial intitulado “O impacto da venda da BR Distribuidora na Petrobrás e nos consumidores”, a  Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) divulgou uma matéria afirmando que essa venda foi um golpe na coluna vertebral da Petrobrás e nos preços dos combustíveis para os consumidores.

“A BR Distribuidora tinha um papel fundamental na função estatal da Petrobrás, prover o Brasil de combustíveis e energia ao menor preço alcançável. Esta política é o cerne de se ter uma estatal na área de petróleo. Uma estatal para impulsionar o desenvolvimento econômico, industrial e humano do Brasil proporcionando energia barata”, diz a matéria, até hoje em destaque no site da entidade. Segundo a AEPET, “a Petrobrás criou a BR como subsidiária para garantia da isonomia de fornecimento e preço a todas as distribuidoras de combustíveis no Brasil. Esta isonomia é que garante a competição em todo território nacional. Assim, a BR Distribuidora, integrada à Petrobrás, era, e pode voltar a ser, a garantia para o abastecimento de combustíveis aos menores preços possíveis e com menor volatilidade em todos os rincões Brasil. Os resultados financeiros da estatal e da sua subsidiária são garantidos como o resultado da operação integrada vertical e nacionalmente”.

E completa explicando que “a BR Distribuidora alcançava o menor preço e volatilidade porque tinha, na época da sua privatização, uma rede de 7.703 postos de gasolina, 95 unidades operacionais, e estava presente em 99 aeroportos. Todos estes ativos e sua eficiência logística proporcionavam o menor custo operacional entre todas as distribuidoras nacionais. Com isto, a BR conquistou 30% do mercado de combustíveis e lubrificantes, o controle de 27% do mercado de diesel e 25% do mercado de gasolina, e, portanto, permitiu a apropriação da margem de distribuição em seus resultados financeiros com o menor preço alcançável. Para a Petrobrás, a BR Distribuidora era um ativo gerador de receita expressiva, e fundamental na consolidação de resultados e no reforço na liquidez do seu fluxo de caixa”.

 

Fatiamento e venda da Petrobrás: desastre completo para o Brasil

“A privatização completa da Petrobrás será o desastre por completo para o Brasil, que já está vivendo uma forte crise econômica criada pela política neoliberal, crise de oferta de empregos, de retrocessos profundos e históricos, a retomada disso tudo só poderá ser feita com uma política nacionalista da Petrobrás. Nós da FUP, da CUT, dos Sindipetros e demais centrais sindicais lutamos, fortemente e bravamente, contra todos esses retrocessos que estão acontecendo no governo Bolsonaro para resistirmos até o ano que vem, quando, esperamos, que o novo governo garanta uma nova missão à Petrobrás para que ela cumpra sua missão pública de atender aos interesses da população e abastecer os estados brasileiros com combustíveis a preços justos. Isso é o que esperamos que aconteça”, afirma Roni Barbosa.

Mas ele alerta para o fato de que até lá haverá grandes embates nas esferas de poder. “Até lá teremos grandes embates com o governo federal, com o Congresso Nacional, local em que há uma bancada bolsonarista, neoliberal, colonialista e privatista, sob o comando de Arthur Lira, do PP de Alagoas, ansiosa para vender a nossa maior empresa de energia: a Petrobrás. Teremos fortes embates para que a gente possa segurar a nossa Petrobrás, o nosso pré-sal e fazer com essa riqueza do povo brasileiro possa servir ao nosso País, ao nosso povo efetivamente. Isso é o que nós queremos e esperamos’’, declara.

Reestatização e a recuperação da soberania do Brasil: o desafio da sociedade brasileira

Barbosa explica que nem tudo está perdido, mas alerta que depende de cada um dos brasileiros resgatar a soberania nacional no campo das energias. “Todos os processos que foram feitos têm condições de serem revertidos. Tanto a venda da BR Distribuidora, que era o braço da Petrobrás na distribuição, vendida, quanto o a venda das empresas de fertilizantes, que todas foram vendidas pelo governo Bolsonaro e um delas foi, simplesmente, fechada sem nenhuma justificativa plausível. O Brasil tem carência de fertilizantes e importa derivados do mundo inteiro. As três fábricas de fertilizantes brasileiras não dão conta da demanda do mercado e Bolsonaro vendeu as que tinham e fechou uma delas. Tudo isso pode ser revertido”.

Ele também informa que a venda dos poços de petróleo feita a preços irrisórios, muito baixos, tudo isso tem condições de ser revertido e reestatizado. “Tudo isso é possível reverter. Mas, para isso, nós precisamos ter um Congresso Nacional nacionalista, ativo, que defenda os interesses do povo a partir do ano que vem. Precisamos de um governo federal que também tenha esse projeto nacionalista e que tenha o compromisso de resgatar e reestatizar a Petrobrás e precisaremos também que a sociedade, os sindicatos, os movimentos sociais e toda a sociedade se mobilizem em torno do tema para que isso aconteça. Por isso, temos o desafio imenso e precisamos construir.

 

Acompanhe a série “Em defesa da Petrobrás”! Divulgue: ela faz parte da ação do Sinpro em defesa da energia, da cidadania e da soberania do Brasil! Confira a primeira matéria:

 

Governo privatiza os pilares da energia nacional e sacrifica soberania e cidadania brasileiras

 

https://www.sinprodf.org.br/governo-privatiza-os-pilares-da-energia-nacional-e-sacrifica-soberania-e-cidadania-brasileiras/