EDITORIAL 1 | Com queda do poder aquisitivo, classe média começa a pagar a conta do golpe

No mundo capitalista, tudo é mercadoria e tem preço caro. Um golpe de Estado, por exemplo, tem lá seu preço no mercado. Nesta semana, o Brasil descobriu que esse preço já está sendo cobrado da classe média. O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado, nesta semana, revela que a política econômica neoliberal adotada no País desde o golpe de Estado de 2016 associada à crise da pandemia da Covid-19 já reduziu entre 20% e 50% da renda da classe média.

 

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), cujos dados foram compilados pela consultoria IDados e divulgados nesta semana, indica que oito em cada dez famílias em que o rendimento mensal com o trabalho fica acima de cinco salários mínimos perderam renda no quarto trimestre de 2020 ante igual período do ano anterior, e, em termos reais, já considerada a inflação.

 

O levantamento mostra que a maior parte desses domicílios de maior renda perdeu entre 20% e 50% do que costumava ganhar por mês e que 7% dessas famílias perderam tudo o que habitualmente recebiam – ou seja, quem trabalhava naquela família ficou sem trabalho. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também revelou que os domicílios mais ricos sofreram a maior redução proporcional na renda advinda do trabalho. Entre a classe média e a classe alta, as perdas reais foram de 1,55% a 7,44% do rendimento no quarto trimestre, respectivamente.

 

O Ipea também apontou que as famílias mais afetadas pela inflação em março foram as de classe média e de média-alta. A variação de preços para esses grupos passou de 0,98% e 0,97% em fevereiro, respectivamente, para 1,09% e 1,08%, sobretudo devido ao aumento dos combustíveis. “As famílias enfrentam uma queda de qualidade de vida e de consumo, também pelo aumento da inflação”, afirmou Sandro Sacchet de Carvalho, do Ipea.

 

É preciso esclarecer três coisas. A primeira é que a pandemia sozinha não é a culpada da perda de renda de nenhuma das classes sociais e muito menos a da classe média. A segunda, é que a culpa da perda de poder aquisitivo é da economia neoliberal: um modelo de gestão econômica projetado para ser instrumento de concentração de renda dos mais ricos, sacrifício de quem consegue permanecer com alguma renda e extrema pobreza para as demais classes. A pandemia é apenas uma agravante que está mais para cortina de fumaça do que para protagonista da perda de poder aquisitivo das classes, como diz a imprensa. A terceira, é o conceito de classe média.

 

Este editorial, dividido em três partes – que publicaremos em sequência, nesta quinta-feira (22), a primeira; e, em seguida, nos dias 23 e 26 de abril, a segunda e a terceira partes – , explica que é a política econômica neoliberal a responsável por esta crise. Vale observar a importância do voto quando o assunto é eleger Presidente da República e parlamentares para o Congresso Nacional.

 

A crise da renda da classe média hoje é consequência dessa atitude de votar em partidos políticos que não representam as classes média e baixa. Antes de dar o voto ao Partido Novo, por exemplo, que é o partido político dos banqueiros, é preciso entender o que é economia neoliberal e quem ganha com ela; bem como o que é economia democrático-popular e buscar se situar no cenário.

 

Fazer a conta do salário, do pró-labore, do lucro, enfim, da própria renda é fundamental na hora de votar. Mas, a classe média brasileira não vê isso e, geralmente, mesmo sendo assalariada com boa remuneração ou viver da renda de micro, pequenos, médios e até alguns grandes negócios, os quais não são bem vistos e nem apoiados pelo Estado neoliberal, entendeu, na época do golpe de Estado de 2016 e das eleições de 2018, que ela é rica, que é proprietária dos meios de produção, que ganha dinheiro e muito lucro com a crise econômica.

 

Hoje ela paga pelo erro de não se vê no cenário econômico e político com suas próprias “vestimentas”. Na época, travestiu-se de rica e foi para as ruas de camisa da Seleção Brasileira de Futebol, fez arminha com mão, ensaiou coreografia, divulgou fake news de ódio contra a primeira mulher eleita Presidente da República no Brasil, contra a distribuição da renda do País com toda a população, contra a soberania do Estado brasileiro e contra a nacionalização das riquezas, como o pré-sal e a Petrobrás, contra a política econômica democrático-popular: justamente a política econômica que deu a ela o prestígio e o suporte financeiro para ser classe média.

Leia aqui a primeira parte deste editorial:

Editorial 1 | Com queda do poder aquisitivo, classe média começa a pagar a conta do golpe

Editorial 2 | Classe média que apoiou os golpes de 1964 e 2016 perde renda e paga o “pato”

Editorial 3 | Golpe está na origem da perda de renda das classes média, média-alta e pobre

Matéria em LIBRAS