CUT-DF cria ponto de acolhida para entregadores de aplicativos

A partir das 15h desta sexta-feira (8/7), os motoboys e entregadores de aplicativos do DF terão um ponto de apoio onde serão acolhidos. Localizado na área central de Brasília, na Galeria do Hotel Nacional, lá será possível recarregar as baterias dos aparelhos, se alimentar, aguardar as próximas entregas ou turnos, utilizar sanitários e tomar água, por exemplo. É o Ponto de Apoio ao Trabalhador. A ideia é garantir melhores condições de vida e de trabalho para aquelas e aqueles que desempenham suas atividades na rua.

A iniciativa é da CUT-DF, em parceria com alguns sindicatos – o Sinpro-DF é um deles. “São necessidades básicas de todas as pessoas, mas que são negligenciadas pelas empresas prestadoras de serviço e pelo governo. O ponto de apoio ganhou maior visibilidade com os entregadores por aplicativo, que estão submetidos a esse modelo de trabalho de serviços conforme a demanda e sem que haja vínculo empregatício. Mas esse espaço é também pauta histórica de quem tem relação de trabalho considerada não eventual. Ou seja, a reflexão é de que, em pleno século XXI, há milhares de trabalhadores sem direitos básicos, que garantem dignidade à pessoa humana”, afirma o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues.

O secretário de Relações Internacionais da CUT Brasil, Antonio Lisboa, lembra que a obrigação de criação desses espaços de apoio para trabalhadores que atuam nas ruas é de obrigação do poder público. “Já que o poder público não se mobiliza em prol desses trabalhadores, estamos fazendo a nossa parte. Esses segmentos não podem permanecer em condições extremamente precárias.”, diz.

Alessandro da Conceição, o Sorriso, representante dos entregadores por aplicativo no DF, destaca que as empresas que contratam os serviços da categoria nunca tiveram a disposição de fornecer local de descanso para os trabalhadores. Por isso, ele comemora a iniciativa da CUT e convida para a inauguração do Ponto de Apoio ao Trabalhador. “Esse espaço é uma necessidade que a gente tem há muito tempo. É muito importante que os entregadores participem da inauguração para conhecer o lugar e prestigiar essa iniciativa”, afirma.

Atualmente, o Distrito Federal tem cerca de 50 mil entregadoras e entregadores por aplicativo, além de outras categorias que compartilham da mesma rotina do trabalho na rua, como vendedores ambulantes e trabalhadores da limpeza urbana.

Desumanidade

Iury Appolinário (28) foi entregador durante três anos e atendia às plataformas Ifood e Uber Eats. Ele relata que geralmente trabalhava do período do café da manhã até às 15h, e depois, das 17h às 23h. Como realizava as entregas de bicicleta, Iury chegava a rodar 80 km por dia, e faturava entre R$ 400 e R$ 600 semanais.

“Pouquíssimos estabelecimentos ajudavam os entregadores, dos que eu me recordo, havia um restaurante que fornecia água, banheiro e vendia marmitas com preço acessível para os  trabalhadores. Mas nos outros estabelecimentos éramos recebidos muito mal”, recordou.

“Felizmente eu tinha onde dormir no Plano Piloto, mas outros entregadores passavam a noite debaixo de alguns prédios. A maioria morava no entorno e acabava que não tinha como ir embora”, relatou Iury, que muitas vezes, do apartamento de parentes em que passava a noite, na área central de Brasília, fornecia água para os colegas e arrumava extensões para carregar os celulares dos trabalhadores durante a noite.  

O jovem afirma ainda que durante a pandemia, o máximo que as empresas faziam pelos trabalhadores era fornecer um kit mensal com álcool em gel e máscaras. Embora tenha sido instituído o “auxílio Covid” pelo Ifood, o sistema foi implementado de forma muito precária e aconteceram vários erros. “Tínhamos que fazer exames por conta própria, enviar para a empresa, esperar uma resposta deles, que sempre demorava muito, e quando aprovavam o auxílio, bloqueavam a conta de quem estava infectado pra não rodarem doentes, só que muitos acabaram ficando bloqueados para sempre”, afirmou Iury.

Segundo dados da pesquisa Condições de Direito e Diálogo Social de Trabalhadores e Trabalhadoras do Setor de Entrega por Aplicativo em Brasília e Recife, resultado de uma parceria entre a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), 92% dos entregadores são homens, a maioria jovens até 30 anos; de cor preta ou parda, 68%. Com renda mensal de R$ 1.172,63, o que significa um ganho líquido de R$ 5,03 por hora trabalhada.