Com aumento dos casos de covid, Sinpro afirma que retorno às aulas 100% presenciais deve ser discutido

Há um mês do início do ano letivo, o terceiro durante a pandemia da covid-19, está acesso o sinal de alerta diante do aumento dos casos da doença, puxado pela variante ômicrom. Embora a Secretaria de Saúde já tenha admitido que o nível de ocupação dos leitos de UTI voltou a 81% – resultado também do surto de influenza e do aumento de casos de dengue –, a Secretaria de Educação ainda não se pronunciou sobre possíveis (e necessárias) mudanças quanto ao retorno às aulas, agendado para 14 de fevereiro, de forma 100% presencial.

“Achamos prematura a decisão do governo de dizer que as aulas começarão, de qualquer forma, 100% presencialmente. É preciso ir monitorando e avaliando o cenário para se ter certeza de qual será a melhor maneira de realizar esse retorno. A prioridade é preservar a vida de todos e todas”, afirma o diretor do Sinpro-DF Cleber Soares.

Segundo o sindicalista, é preciso que o governo apresente alternativas diante do cenário de insegurança sanitária, além de apostar em amplas campanhas de conscientização junto à comunidade do DF. “É preciso, de uma vez por todas, superar o negacionismo, que ataca a vida de toda a população. Vacina salva vidas. E o que nós queremos é que a vida de toda a comunidade escolar, de toda a população do DF, esteja assegurada”, afirma.

Em coletiva de imprensa realizada no último dia 12 de janeiro, o vice-governador Paco Britto informou que o governo do Distrito Federal fará ações de vacinação dos estudantes da rede de ensino público a partir das regionais de ensino, em ação conjunta com as secretarias de Saúde, Educação e Casa Civil. Entretanto, até a publicação dessa matéria, não houve manifestação da pasta de Educação quanto à campanha, ou mesmo sobre protocolos de segurança a serem seguidos com o retorno às aulas.

Embora a ausência de manifestação sobre o retorno presencial às aulas, o GDF anunciou a proibição de shows, eventos festivais e afins com cobrança de ingresso no Distrito Federal. “Isso comprova que o cenário atual é preocupante e que precisamos sim discutir o formato do retorno às aulas nas escolas públicas do DF”, analisa o diretor do Sinpro-DF Cleber Soares.

Vacina sim
No início da pandemia da covid-19, muito se falava sobre a raridade de casos de covid em crianças evoluir para complicações e óbito, principalmente quando comparados com casos em adultos. Entretanto, com o avanço da pandemia, não foram poucos os números de internação, complicações e mortes infantis por causa da doença.

Segundo o pediatra e sanitarista Daniel Becker, se analisada de uma perspectiva individual, os casos de complicação e óbito decorrentes da covid em crianças não devem gerar alarme. Mas se a análise for coletiva, há sim um grave cenário de insegurança sanitária. A manifestação foi feita no perfil de Instagram do médico.

Em suas análises, Becker ainda lembra da urgência da vacinação infantil contra a covid-19. “Em 2018, no Brasil, morreram 44 crianças por Influenza. E nós vacinamos toda a população (…) por causa de 44 óbitos. A covid tem 310 óbitos só na faixa etária que já pode ser vacinada, de 5 a 11, e em dois anos de pandemia, morreram mais de 2.500 crianças, além de muitas outras fazendo casos graves, muitas internando, em CTI, fazendo covid longa, fazendo síndrome inflamatória multissistêmica”, analisa o pediatra que tem 359 mil seguidores nas redes sociais. “Não há justificativa para não vacinar. Ao contrário, há uma premência para vacinar essas crianças”, diz.

A realidade é o que conta
“Conhecer a realidade das escolas públicas do DF é essencial para pensar o retorno às aulas”. A análise é da diretora do Sinpro-DF Rosilene Corrêa, que destaca que o cenário hoje imposto diante da crise sanitária pode se tornar ainda mais grave, caso não sejam tomadas as devidas medidas de segurança com o início do ano letivo.

“Muitas escolas da rede pública de ensino do DF não têm as condições básicas para receber o público total e, ao mesmo tempo, manter um ambiente seguro, que proteja toda a comunidade escolar. É comum ver salas de aulas sem ventilação adequada e com quantidade de alunos superior à suportável. É preciso levar em conta esse cenário, que estamos denunciando desde o início da pandemia”, afirma.

Rosilene Corrêa lembra que o público de 5 a 11 anos, justamente o que ainda não foi vacinado, representa pelo menos 80% do conjunto dos estudantes da rede de ensino pública do DF. “Se hoje, em uma perspectiva individual, casos de complicações e morte de crianças por causa de covid são incomuns, infelizmente, se não tivermos o cuidado e a responsabilidade necessários, esse cenário pode mudar. Não queremos arriscar. Vida é para ser preservada”, analisa.

Desde o início da pandemia, no Brasil, 324 crianças de 5 a 11 anos foram vítimas fatais da covid-19, segundo a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). De acordo com o levantamento da Associação, no DF, neste período, quatro crianças de 5 a 11 anos morreram por causa da doença. No site da Secretaria de Saúde do DF não há dados sobre o número de crianças internadas em decorrência da covid-19.