Carência de profissionais é barreira para educação que respeita as diversidades

O déficit de profissionais da educação pública impacta gravemente a qualidade do ensino oferecido à sociedade. Mas os prejuízos vão muito além. O rombo também repercute na impossibilidade de se fazer uma educação que acolhe e respeita as diferenças. A conclusão é da diretora do Sinpro-DF Élbia Pires, durante o IV Seminário LGBTQIA+ da Câmara Legislativa do Distrito Federal – “Escola de todas as cores: acolher as diversidades, respeitar as diferenças”. A atividade foi realizada nessa segunda-feira (26/6).

Segundo Élbia, a regional de Planaltina, por exemplo, responsável por 65 unidades escolares, tem apenas 14 psicólogos. Ela ainda destaca problemas na própria legislação, que traz portaria indicando apenas 1 orientador-educacional para cada 680 alunos. Além disso, Élbia aponta a contratação indiscriminada de professores(as) em regime de contratação temporária – submetidos a relações de trabalho precarizadas –, estratégia que tenta mascarar ausência grave de efetivos(as) em regência nas salas de aula.

“A ausência de profissionais na educação pública é uma imposição do Estado, que também impacta na falta de acolhimento e respeito às diversidades”, afirma Élbia Pires.

Durante o IV Seminário LGBTQIA+ da CLDF, ela destacou que o Sinpro-DF vem desenvolvendo uma série de parcerias e iniciativas para promover a cultura de reconhecimento e acolhimento das diversidades nas escolas. “Nós da comunidade LGBTQIA+ sofremos na sala de aula e também sofremos na sala dos professores”, disse a dirigente do Sinpro-DF, para mostrar que a sociedade do preconceito tem reflexos graves na educação, prejudicando estudantes, professores(as), orientadores(as) educacionais e demais profissionais.

Entre as iniciativas do Sinpro-DF, Élbia destacou o Coletivo LGBTQIA+ do Sindicato, lançado no último dia 25 de junho, em comemoração ao dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+.

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Para a diretora do Sinpro-DF Márcia Gilda, professores(as) e orientadores(as) educacionais “não devem ter medo de colocar o tema das diversidades na centralidade dos temas tratados em sala de aula”. “A pauta LGBTQIA+ não deve ser um eixo transversal, porque trata-se de existência, e por isso deve estar no projeto político pedagógico da escola”, afirma, e continua: “Mandela já dizia que a educação é a arma mais poderosa que se tem para mudar a sociedade. É nas escolas que a gente vai fazer com que nossos alunos e as nossas alunas tenham a percepção das diversidades de existências”.

Elbia Pires, diretora do Sinpro-DF, no IV Seminário LGBTQIA+ da CLDF

 

Bancada do respeito
De iniciativa do deputado Fábio Felix (Psol), que preside a Comissão de Direitos Humanos da CLDF, o IV Seminário LGBTQIA+ contou com o apoio de parlamentares do PT e do PSB.

“Há apoio sim para nossa pauta. Para o armário a gente não volta mais. Vamos ocupar todos os espaços políticos dessa cidade”, disse o deputado Fábio Felix. Ele, que contou ter sofrido violência física e psicológica na escola por causa de sua orientação sexual, afirmou que “a intenção do debate não é tornar ninguém algo que não seja, mas refletir sobre a necessidade de mudar a política pública neste país e nesta cidade para garantir a promoção e a proteção das diversidades”.

O deputado Chico Vigilante, do PT, lembrou que o ódio contra a comunidade LGBTQIA+ também é um projeto. “Na legislação anterior, enfrentamos momentos terríveis quando tentavam impor o Escola sem Partido. Aquilo a gente sabe o que é: é para que não possa ser debatido nenhum tema a não ser na visão da extrema direita conservadora”, criticou.

Também do PT, o deputado Gabriel Magno disse ainda que a investida contra o acolhimento e o respeito à comunidade LGBTQIA+ vem também do Executivo. “Neste governo (Ibaneis Rocha), o PPP, Projeto Político Pedagógico, virou PP: Projeto Pedagógico. A Secretaria de Educação tirou um ‘P’. E quando se tira o ‘político’, se tira uma identidade política de achar que a escola não é espaço para diversidade, para liberdade, para democracia.”

Deputada Dayse Amarilio (PSB) afirmou que a “política é uma ferramenta de transformação e representação social”, e que é essencial para garantir respeito e dignidade à comunidade LGBTQIA+. “Nossos professores, nossos profissionais de saúde, cresceram em uma sociedade preconceituosa. Enquanto não trouxermos a discussão pra cá (CLDF), para as escolas, para todos os lugares, vamos continuar na invisibilidade, tirando das crianças o direito do amparo que o poder público tem que dar.”

O IV Seminário LGBTQIA+ – “Escola de todas as cores: acolher as diversidades, respeitar as diferenças”, teve ainda a apresentação de duas mesas de debate. A primeira teve como tema “Uma Educação cidadã e protetora para todas”; e a segunda, “A invenção da ‘ideologia de gênero’ e o cerceamento das identidades dissidentes”. Assista à íntegra no link https://youtu.be/G8wu1tShQJ8

 

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