As reflexões provocadas pelo chão de Auschwitz

No dia 21 de setembro, quinta-feira, a partir das 19h, o Museu Nacional da República inaugura a mostra “Do chão para o chão”, com curadoria de Renata Azambuja e expografia de Gero Tavares. Nessa exposição inédita, a artista visual Helena Lopes apresenta sua mais recente produção que reúne imagens digitais, impressões em fine art, vídeoprojeção e textos, em um desdobramento de sua pesquisa sobre os processos de gravura e impressão.

Na abertura, artista e curadora participam de uma roda de conversa e conduzem a visita do público à exposição, com direito a tradução para Libras.

A mostra estará em exposição até o dia 19 de novembro, sempre de 3ª a domingo das 9 às 18:30h, e conta com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultural do Distrito Federal (FAC-DF).

 

A exposição

Do Chão Para o Chão deriva de questões relacionadas à viagem que Helena Lopes fez em uma reflexão sobre as suas raízes, a sua ancestralidade, sobre colocar-se no lugar do outro. Em sua visita a Auschwitz, ela imaginou como deveria ter sido a vida naquelas condições. Chão craquelado, com fendas, com diversas colorações. Identificou personagens e imaginou histórias, estabeleceu paralelos com a história de sua família, que migrou para o Brasil ainda na primeira metade do século 20.

O Museu Estadual de Auschwitz-Birkenau, que Helena visitou, fica no local onde até 1945 funcionou o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. O local inclui o campo de concentração principal de Auschwitz I e os restos do campo de concentração e extermínio de Auschwitz II-Birkenau. O museu da memória é um lugar de reflexão, de pensar sobre sua existência.

“Em “Do chão para o chão”, Helena Lopes reúne realidade e ficção”, afirma a curadora Renata Azambuja. “Com dois tipos de narrativas, a visual de fotografias e vídeo e a dos textos manuscritos tirados de anotações de viagem, a artista imagina e inventa as histórias sobre a família dela e inventa as imagens a partir das fotografias do chão que fotografou”, continua a curadora. Desde os anos 1970, Helena Lopes trabalha com a gravura em metal como seu meio e o papel como suporte. Nos últimos anos, ela tem explorado novas modalidades de trabalhar a imagem pela impressão. “Helena é uma artista visual que se apropria da mídia digital, do uso do computador como suporte para transformar o seu frame na imagem final”, afirma a curadora.

Em 2019, Helena Lopes fez uma viagem com as irmãs para Budzyñ, Polônia, cidade onde sua mãe nasceu em 1918. A cidade a leste de Varsóvia é o lugar da memória da sua origem. “Por dias viajamos pelo território, e paramos num museu, Auschwitz, um antigo campo de concentração da 2ª Guerra Mundial. Um lugar de terra morta, de ar rarefeito. Acompanhei a visita e não consegui prestar atenção nas explicações do guia. O lugar estava muito cheio e as pessoas tinham que caminhar em fila. Aquilo me causou constrangimento. Sem querer olhei para baixo e vi o chão estupendo, não restaurado e os buracos preenchidos com o cimento. Disso formou-se uma cartografia visualmente incrível. Minhas pesquisas posteriores indicaram que há ali três cores de chão e que são referentes a três momentos da história desse lugar. A branca foi a primeira, seguida a vermelha e por último a de concreto, quando o espaço foi transformado em museu. O chão é todo rachado como se ele estivesse querendo se abrir para respirar outro ar. A energia saí daquele lugar e, assim, vai criando desenhos e mais. Fotografar foi muito difícil, porque as filas eram muitas e todos praticamente seguindo um guia. Restou-me praticamente a possibilidade de me abaixar e fotografar o espaço reduzido à frente dos meus pés”, diz Helena.

Ao retornar para o Brasil e para o seu ateliê, Helena começou a ver as imagens que produziu durante a viagem. Passou a transformá-las, manipulando-as com o Photoshop. Foi alterando a experiência original e reinventando as imagens, que se conectaram com os escritos relacionados às suas visões sobre o que viu e sentiu. “Só fui entender o circuito que fiz quando cheguei em casa. Surgiram os personagens mentais que se tornaram meus guias, aos quais depois dei nomes. Trabalhei os personagens mentalmente como se eu fosse uma arqueóloga que descobriu o objeto e cautelosamente vai retirando a Terra que está ao redor”, completa.

Helena Lopes passa a examinar as imagens e a dialogar com o “personagem” agora materializado na imagem formada pelas manchas e rachaduras do chão por onde passou. ”Esse personagem me conduziu na leitura das fotos e me acompanhou no editor de imagens, na decupagem das fotografias e nas inúmeras camadas existentes nelas, como uma arqueóloga que vai descobrindo os segredos guardados naquele chão”, completa.

Programação

Durante o período da mostra, serão realizadas rodas de conversa com artistas e curadores que se relacionam com a produção de Helena Lopes. No dia 21 de setembro, na abertura da mostra, Helena Lopes e Renata Azambuja realizam uma conversa seguida de uma visita à mostra. No dia 7 de outubro, a conversa acontece com Ralph Gehre, seguido de Sérgio Fingermann, 20 de outubro, e Christus Nóbrega, em 11 de novembro de 2023. Com entrada gratuita, todas a rodas de conversa terão tradução em Libras.

A programação da mostra estará disponível no instagram @helenalopes, @atelierhelenalopes e @museunacionaldarepublica.

Sobre a artista

Especialista em gravura, Helena Lopes é pintora, gravadora e professora. Graduada em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília (UnB), ela participou da fundação do Ateliê de Gravuras da UnB, posteriormente chamado de Núcleo de Gravura do Instituto de Artes. Realizou o projeto Fonte Geradora de imagens em Gravura em Metal (1980). Participou de inúmeras exposições nacionais e internacionais em 40 anos de carreira artística. Hoje, explora as possibilidades da arte digital e desenvolve em seu ateliê em Brasília cursos de formação de artistas.

Sobre a curadora

Renata Azambuja é historiadora da arte, curadora e arte-educadora. Licenciada em Artes Plásticas pela UnB, Mestre em Teoria e História da Arte Moderna e Contemporânea pelo City College/City University of New York e doutora em Teoria e História da Arte pela UnB, realizando uma pesquisa em torno dos modos de produção de conhecimento da curadoria, tendo a residência como foco. É professora da SEEDF desenvolvendo, atualmente, ações sobre Educação Patrimonial nos Territórios Culturais.

Serviço:

Do chão para o chão
Mostra individual de | Helena Lopes
Fotografias, vídeo projeção e manuscritos

Curadoria | Renata Azambuja
Expografia | Gero Tavares

Abertura | 21/09 às 19h com roda de conversa e visita guiada com artista e curadora
Onde | Galeria 2 do Museu Nacional da República
Visitação | até 19/11, de 3ª a domingo das 9 às 18:30
Entrada | Gratuita

Classificação indicativa | Livre para todos os públicos
Instagram | @helenalopes, @atelierhelenalopes e @museunacionaldarepublica