Secretaria de Educação defende aulas sobre sexualidade na rede pública

A Secretaria de Educação saiu em defesa dos professores da rede pública de ensino que sofreram com a interferência de deputados distritais. Como o Correio mostrou na edição de ontem, Sandra Faraj (SD) e Rodrigo Delmasso (PTN) enviaram ofícios a escolas para reclamar da abordagem sobre temas como homofobia, transexualidade e candomblé. O governo garantiu ontem que os docentes têm liberdade para tratar sobre sexualidade e diversidade de gênero e de religião nas salas de aula.
De acordo com a pasta, a atuação dos professores questionados pelos distritais está respaldada pelo Plano Distrital de Educação, pelas Diretrizes Nacionais Curriculares Para Educação Básica, definidas pelo Conselho Nacional de Educação, e pelo Plano Nacional de Educação. “A secretaria trabalha por uma educação para a diversidade, que busca implementar ações pedagógicas voltadas para o diálogo, o reconhecimento e a valorização de diferentes grupos sociais”, destacou a pasta, em nota divulgada pela assessoria de imprensa.
O Plano Distrital de Educação, aprovado no ano passado pela Câmara Legislativa, contempla o respeito às diversidades étnica, cultural, sexual e de gênero. “Esse é um instrumento de planejamento, gestão e integração do sistema de ensino, construído com a participação da sociedade, para ser executado por gestores educacionais”, justificou a secretaria. A Resolução 4/2010, do Conselho Nacional de Educação, estabelece que “as questões de gênero, etnia e diversidade cultural que compõem as ações educativas, a organização e a gestão curricular são componentes integrantes do projeto político-pedagógico”. Com base em todos esses normativos legais, o GDF defende que os mestres não podem ser coagidos ao tratar de assuntos como diversidade de gênero e religiosa.
Temas
Os dois episódios de interferência dos parlamentares revoltaram os professores e motivaram críticas de especialistas em educação. O primeiro caso ocorreu no Centro Educacional 6 de Ceilândia. Professor de biologia, Deneir Meirelles passou um trabalho em grupo aos estudantes do segundo ano do ensino médio, com os temas homofobia, integração entre gêneros, pansexualidade, relações poliamorosas e transexualidade. Sandra Faraj enviou ofício à direção da escola pedindo “esclarecimentos” e as “providências legais cabíveis”.
A comunidade saiu em defesa de Deneir. “Perdi o chão ao receber esse ofício. A deputada postou minha foto no Facebook e, de repente, começou uma enxurrada de comentários, pessoas me chamando de pedófilo. Sou casado, meu filho também é meu aluno”, disse Deneir. “Esses assuntos fazem parte da realidade e os alunos não podem ser educados como se estivessem em uma bolha. Fiquei feliz com a repercussão porque o debate jogou luz sobre essas tentativas de censura”, comentou o professor de biologia.
Outro episódio que mobilizou os professores ocorreu no Centro Educacional 7, de Ceilândia. A diretoria da escola recebeu ofício do gabinete do deputado Rodrigo Delmasso (PTN) questionando a realização de uma peça teatral que abordava temas como o candomblé. Um dos pais procurou o parlamentar para denunciar que os alunos teriam sido obrigados “de maneira arbitrária” a fazer danças e a usar roupas que faziam referência à religião. Há fotos que mostram homenagens também à cultura indígena.
Na terça-feira, Sandra Faraj argumentou que as escolas não têm autorização para abordar assuntos sobre sexualidade com uma pesquisa sem orientação. “Será que o jovem tem maturidade para tratar sobre isso?”. Já Rodrigo Delmasso disse ter recebido reclamações de quem os alunos seriam obrigados a participar da peça. “O que queremos é preservar o direito de cada pessoa expressar a fé sem ser coagida ou doutrinada”, analisou.