Nota de repúdio aos atos criminosos contra o povo desprotegido

Completamente indignada, chocada e entristecida, é assim que eu me sinto ao presenciar os absurdos praticados nestes últimos dias pela força legítima de um Estado medíocre. Que deseja se apropriar de algo que não lhe pertence e ainda tenta forçar por meio da violência o silêncio daqueles que são atingidos direta ou indiretamente pela truculência de seu braço armado.
Nesta quarta-feira cinzenta como o céu de Curitiba, passos esperançosos, se transformaram rapidamente em corridas de escapatória de bombas de efeito moral e balas de borracha, que foram lançadas a esmo na multidão, pacífica e desarmada, que caminhava em direção da ALEP pedindo por meio de palavras de ordem aos deputados que rejeitassem ou retirassem o Projeto de Lei nº 252/2015,enviado pelo governador à Câmara dos Deputados do Paraná, que tinha como objetivo se apropriar de uma parte do fundo do Paraná Previdência, depositado todo santo mês pelo funcionalismo público. Todavia, o que se viu por parte do governador foi um ataque aos manifestantes no estilo Domingo Sangrento de 1905, na Rússia do início do século XX, quando os trabalhadores em greve e a população em geral caminharam em sentido ao palácio de inverno do csar Nicolau II (conhecido como paizinho) para apresentar uma petição pedindo que os ouvisse, pois estavam passando fome, e estes foram recebidos a balas, massacrados. Com a mesma violência gratuita, os servidores públicos, entre estes: professores, técnicos, estudantes, filhos destes funcionários que acompanhavam a marcha, e pessoas no geral que protestavam contra os desmandos deste governo paranaense, foram recebidos por tal ferocidade bélica do Estado, que contavam fora o que já foi dito acima, ainda com polícias de choque, carros tanques, cães, gás pimenta e cassetetes que foram usados para afastar todo e qualquer um que quisesse participar da atividade no interior da Câmara. Destarte,lágrimas e sangue foram derramados graças à perfídia ação deste governo que queria a todo custo aprovar seus interesses por meio de seus deputados corruptos, que nada se importam com o setor social e com a própria população. Estes trabalhadores foram desrespeitados, humilhados e constrangidos violentamente, e o governo juntamente com a mídia inescrupulosa destacou que a violência foi cometida apenas contra “os baderneiros mascarados”. Assim, o cinismo e a hipocrisia se afirmaram nas reportagens que se seguiram por grande parte das redes abertas e fechadas de TV.
Repressão
É decepcionante e odioso, saber que mesmo com toda essa movimentação, com toda guerra estabelecida em frente ao centro cívico, contra a população manifestante desarmada, com o terror posto em prática por parte do Estado por meio da polícia, mesmo assim, os senhores deputados aprovaram o projeto, sem qualquer peso na consciência, com o que ocorria lá fora. Como disse anteriormente, muito parecido com o fato ocorrido na Rússia csarista. Porém, mais assustador ainda, é assistir um vídeo filmado no interior do escritório da cúpula do governo e ouvir brados de felicidade por parte destes funcionários de Beto Richa, que a cada bomba e/ou esguichada de água de mangueira de bombeiro na cara dos manifestantes, ouvia-se manifestações de prazer nas expressões vocalizadas por estes, que ficaram se deliciando com o terror promovido. Sadismo puro, pura pobreza intelectual que se satisfaz com a dor alheia. Isso é a nata que está ao lado deste governador inescrupuloso, que como csar põe seus comandados para fazer o trabalho sujo, e assim ele toma distância e observa como se não fizesse parte desta porcaria criada por ele.
 
Todavia, algo nasceu de todo desespero e dor causada por este mecanismo violento, que queria calar as manifestações, e que por efeito contrário, percebemos que a sociedade começa estabelecer uma consciência para si, e assim sabendo quem é o inimigo se organiza para lutar contra toda lógica ilógica da brutalidade e irracionalidade estabelecida.
Espero que este insensato movimento do real realizado por ordens do governador do estado do Paraná, possa ter trazido a possibilidade à população de conseguir visualizar para além do fenômeno, e que este movimento possa ser o princípio da ação de retirar “(…) as flores imaginárias das correntes dos homens, não para que ele continue a usar essas correntes
sem consolo ou fantasia, mas para que ele possa quebrar essas correntes e então colher a flor viva” (Marx, K. Crítica da filosofia do direito de Hegel, 1843 / Karl Marx ; tradução de Rubens Enderlee Leonardo de Deus; supervisão e notas Marcelo Backes. – [2.ed revista]. – São Paulo : Boitempo, 2010) .

“É bom lembrar que na Rússia, quando do massacre daquele domingo sangrento, tal ação intensificou as contradições e fez precipitar acontecimentos, que levaram a Revolução de 1905”

É bom lembrar que na Rússia, quando do massacre daquele domingo sangrento, tal ação intensificou as contradições e fez precipitar acontecimentos, que levaram a Revolução de 1905. Não pretendo ser otimista, mas penso que o desvelamento do real começa por oportunidades reais, e como diria Rosa Luxemburgo
(…) a vida, englobando a experiência, a ação, a luta – processo dialético incluindo erros, ilusões e derrotas –, constitui a “varinha mágica” permitindo às massas inconscientes, incultas, classe em si, elevarem-se à consciência, à cultura, à razão, ou seja, tornarem-se classe para si, saírem da alienação. (LOUREIRO, Isabel M. Democracia e socialismo em Rosa Luxemburgo  in Rosa Luxemburg, os dilemas da ação revolucionária. São Paulo, Editora: Unesp, 1995.)
Interesses da classe dominante
E por fim, escrevo este texto para desabafar e poder partilhar os sentimentos que se afloraram devido a todo esse contra senso gerenciado por esta instituição, que ingenuamente poderia se pensar que ela representaria o povo no geral, mas que em verdade representa os interesses da classe dominante sob a égide do pensamento neoliberal.
E, recordando o que foi escrito por Marx e Engels, no Manifesto Comunista, “(…) um espectro ronda(va) a Europa”, e isso fazia a burguesia tremer em seus alicerces, pois o que estava posto poderia ser modificado a qualquer momento, por uma força material que representava esta possibilidade de mudança, força esta que advinha das ações dos trabalhadores que se movimentavam contrários à brutalidade de um modo de produção que tem como centro o capital e não o ser social.
Assim, como disse Marx, “Uma ideia torna-se uma força material quando ganha as massas organizadas”.
Espero que este 1º de maio possa ter trazido para nós trabalhadores, frente à brutalidade posta em prática pelos agentes executivos e repressivos do poder, a possibilidade de unificação e organização, e que nos permita mostrar que nossa consciência se agigantou no processo. E ao invés de ser moldado pela força como um metal, reagimos como os gases leves, que se retraem à pressão, mas voltam ao estágio normal pós-constrição. Entretanto, diferente dos gases, somos seres racionais que conscientemente podemos fazer a terra tremer se nos movimentarmos organizadamente. E assim, a possibilidade do espectro surgir novamente pode tomar forma e pode rondar o Paraná e outros estados cujos desmandos são similares.
Por Vanessa Batista de Andrade
(Da Caros Amigos)