"Ganhamos", artigo de Rodrigo Rodrigues

Enviei na manhã do dia 27/10 o texto do comediante Gregório Duvivier, que foi publicado em sua coluna na Folha de São Paulo nesta data. O texto é intitulado “Perdemos” e Gregório faz uma brincadeira com o resultado das eleições, já que ele o escreveu no sábado, antes dos votos terem sido coletados.
Eis que o companheiro Carlos Abicalil me honra com sua resposta ao meu e-mail, provocando com as seguintes palavras: “É um texto bom para o debate cauteloso. Tomara que sirva a alguns dos leitores da coluna. Se tiverem alguma disposição para o debate e não apenas para a repetição insana da criminalização da politica. Acho que também devemos falar e escrever sobre o que ganhamos.”
Aceitando a proposta, quero refletir sobre o que ganhamos.
Ganhamos o debate pela esquerda. Eu temia que o conservadorismo e a pauta de direita nos ganhassem novamente, como ganhou na campanha de 2010. Mas aconteceu o contrário. A contraposição de diferentes projetos ainda no primeiro turno, mas principalmente no segundo, nos colocou numa condição de defendermos um modelo de sociedade voltado para a ampliação dos direitos e a construção de mais justiça social.
Ganhamos a possibilidade de encaminharmos as grandes reformas necessárias para que o Brasil seja esse país de todos, mais igual e mais justo.
Ganhamos a presença forte das mulheres na política, resultado de uma longa luta dos movimentos feministas, presentes em diversas frentes de atuação. É certo que ainda temos muitos problemas e muitas dificuldades para que a igualdade entre homens e mulheres na política seja de fato alcançada. Mas vimos no primeiro turno três mulheres fortes debaterem e disputarem o principal cargo político da nossa República. Por um dado momento da disputa, chegou-se a configurar a possibilidade de um segundo turno com duas mulheres.
Ganhamos a certeza de que o Partido dos Trabalhadores é, sem sombra de dúvidas, o principal partido político brasileiro desde a redemocratização. Sua existência marcou radicalmente a história política do Brasil. É o partido que mais influiu nos debates nacionais e mais formou quadros dirigentes progressistas. A prova disso nas eleições presidenciais se mostra quando sete dentre os doze candidatos são oriundos dos quadros do PT.
Ganhamos a chance de voltarmos a discutir e com diversos setores da sociedade a democratização dos meios de comunicação. Porque ficou mais que comprovado como a nossa mídia monopolizada e hegemônica é tendenciosa. Sua tentativa de influenciar o resultado eleitoral beirou o golpismo. Sem contar a clara demonstração de despreocupação com o cumprimento da lei e mesmo de determinações judiciais, certos da impunidade.
Mas, principalmente, ganhamos o amplo envolvimento da militância na campanha. Militantes do Partido dos Trabalhadores, e dos diversos partidos que compunham a aliança para a vitória de Dilma, ganharam as ruas em atos massivos por todo o país. Também a militância de pessoas que não são filiadas a nenhum partido, mas concordam com uma sociedade em que o amplo e permanente debate com os diversos setores organizados da sociedade civil é o melhor caminho para a construção de uma sociedade justa e igualitária.
Ganhamos! Agora, temos que fazer com que esta conquista se materialize em mais mudanças e mais conquistas. E estas, só com mais lutas. E me contrapondo à conclusão do texto de Gregório Duvivier, a única maneira de continuar ganhando é ganharmos mais tempo debatendo política ao longo dos próximos quatro anos.
* Rodrigo Rodrigues é Secretário de Formação da CUT-DF