Brasília sediará primeira Marcha Nacional das Mulheres Indígenas

O Dia do Índio (19/4) deste ano inaugurou mais uma luta dos povos da floresta: a das mulheres indígenas por terras, direitos e cidadania. Liderança do movimento indígena na Amazônia, Letícia Yawanawa, informou, na imprensa, que as mulheres estão organizando a I Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, a ser realizada em Brasília, entre os dias 10 e 13 de maio.
Na marcha, elas pretendem denunciar vários crimes, dentre eles, os assassinatos de populações indígenas inteiras por causa de grilagem de terra. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entidade que tem denunciado internacionalmente o genocídio dos indígenas brasileiros por grileiros de terras, informa que somente em Mato Grosso do Sul foram assassinados 390 indígenas por causa de conflitos de terra. Em outras regiões do país, como no Centro-Oeste, os assassinatos e suicídios em virtude das pressões de grileiros têm exterminado vários povos.
O Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração vem denunciando insistentemente o PL 1.610, que promove a abertura das Terras Indígenas (TI) para grandes projetos nacionais e internacionais de mineração e luta pela exclusão da PEC 215, uma Proposta de Emenda Constitucional que promove seriamente o enfraquecimento dos direitos territoriais indígenas, significando um desastre para tribos em todo o país.
A I Marcha Nacional das Mulheres Indígenas irá denunciar esses e outros crimes. Letícia informou que o Abril Indígena, sempre realizado com o Acampamento Terra Livre na semana do Dia do Índio, foi transferido para maio, período em que será realizada a marcha. A marcha está sendo organizada, desde o ano passado, pela União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Uniab), da qual ela é conselheira, e pela ONU Mulher.
A diretoria colegiada do Sinpro-DF entende que a cidadania significa nenhum direito a menos e considera que a dívida do Brasil com os povos indígenas é monumental. “O anúncio da I Marcha das Mulheres Indígenas, para nós, da diretoria do Sinpro-DF, é uma novidade que comprova a questão de gênero em todas as tribos”, assegura Eliceuda França, coordenadora da Secretaria de Assuntos e Políticas para Mulheres Educadoras do sindicato.
Ela afirma que essa marcha revela a capilaridade da luta da mulher por igualdade, cidadania, território e direitos e que essa luta adentrou as aldeias. “Mostra também que a luta da mulher está em todos os locais, incluindo aí o movimento indígena, refletindo o amadurecimento dos movimentos em relação às questões de gênero”.
Patrícia Rodrigues, professora de sociologia do Centro de Ensino Médio (CEM) 09, de Ceilândia, diz que há hoje no Brasil cerca de 350 mil índios divididos em várias etnias e que há uma ideia deturpada de que os índios devem ficar isolados nas florestas. Ela afirma que trabalha o tema do índio em sala de aula de forma diferente.
“Nós, professores, temos o papel de informar aos nossos estudantes que a questão atual do índio é diferente daquela que está nos velhos livros, que, com uma visão romantizada, mostra esses povos como se fossem pessoas que existiram há muitos séculos, como se hoje não existissem mais”.
A professora contesta esse tipo de estereotipagem e diz que, nas aulas dela, a questão indígena suscita outros temas, como a discussão de gênero, LGBT, minorias, as demais formas de preconceito e que o índio é mostrado em sua face real, como protagonista de transformações na sociedade. “São povos que fazem e refazem a sua cultura a todo momento. Trabalhar a questão indígena com a questão de gênero é interessante porque a luta indígena se assemelha a outras lutas, como a das mulheres, dos negros e das mulheres trabalhadoras do campo”.
A diretoria colegiada do Sinpro-DF entende que é preciso trabalhar pedagogicamente essa temática na escola, com o compromisso de se respeitar a cultura e os direitos indígenas. Para professores e professoras que precisam de material de suporte a fim de conduzir trabalhos escolares com essa temática, a Secretaria para Assuntos de Raça e Sexualidade do Sinpro-DF disponibiliza vários materiais, como, por exemplo, o Caderno Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena – Discutindo e implementando políticas de igualdades racial e social, disponível para a categoria. Esse trabalho foi produzido pelo Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e lançado no ano passado, durante o 10º Congresso dos Trabalhadores em Educação.