Visibilidade trans: professores como agentes transformadores

O 31 de março é o dia internacional da visibilidade trans. É momento de reflexão, de destacar as importantes conquistas desse segmento da sociedade sem perder de vista o tanto que as pessoas trans sofrem no dia a dia. Devemos, também, refletir sobre o papel da escola na conquista do respeito e da visibilidade, e do tanto que ainda há que se conquistar.

“A Escola é o local mais traumático para a comunidade LGBTQIA+ é o local onde mais se sofre LGBTQIAfobia, transfobia, homofobia. Mais ainda que dentro de casa”, conta Ruleandson do Carmo, jornalista cis, ativista LGBTQIA+ e pesquisador do grupo de Estudos em Práticas Informacionais e Culturais (EPIC) da UFMG, que estuda os preconceitos e os afetos nas redes sociais.

Ruleandson conta que, em sua época de estudante, não havia a consciência dos preconceitos de homofobia ou transfobia, e o tanto que ele penou com isso: “Quantas vezes não apanhei na escola por ser bicha afeminada e, ao reclamar com o professor, ouvia ‘é só virar homem que passa!’?”, recorda-se.

No Distrito Federal, o uso do nome social por travestis e transexuais é obrigatório nas escolas públicas desde 2010 para alunos maiores de 18 anos  e, graças à pressão da comunidade LGBTQIA+, em 2018 o MEC editou portaria estendendo o direito a alunos e alunas menores de idade, estando obrigadas as escolas a usar o nome social de travestis e transexuais nos registros escolares.

O nome social é o nome pelo qual os indivíduos trans e travestis querem ser chamados, e sempre vai enunciar sua identidade de gênero.

“Não existe uma disciplina de direitos humanos na escola”, lamenta Ruleandson. E depois de tantas conquistas para a comunidade LGBTQIA+, é papel do professor ser o agente transformador, no chão de sala de aula, trabalhar e conscientizar os e as estudantes sobre a necessidade de respeito e acolhimento de indivíduos LGBTQIA+ por todos os colegas”, explica Ruleandson, que emenda com um exemplo pessoal:

“Uma vez, nenhuma menina queria dançar quadrilha comigo. Todas as minhas colegas diziam que eu não era homem. Minha professora de educação física então se prontificou a ser o meu par: ‘pode deixar que eu danço com você!’ Aquilo foi muito importante pra mim! Ela ensaiou comigo e dançou. Esse acolhimento é muito importante, seja pra comunidade gay ou pra comunidade trans.”

João Macedo, do coletivo LGBTQIA+ da CUT Brasília, ressalta que os professores devem respeitar não só seus estudantes como também a lei: “É importante fortalecermos a necessidade de que todos atentem à lei e respeitem o direito adquirido da comunidade LGBTQIA+, a duras penas”.

Nathália Vasconcellos, presidente da Rede Distrital Trans, afirma que a importância da Visibilidade Trans é que traz à tona, para a sociedade em geral, o tema de cidadania para pessoas trans. “Traz a tona que pessoas trans existem, convivem com todo tipo de gente, que não são pessoas que surgiram hoje em dia, que são pessoas que tem necessidades e especificidades como qualquer outra pessoa. Vem pra mostrar que nós também somos humanos e que precisamos de proteção do Estado, pois o Brasil ainda é o país que mais nos mata. O ódio gratuito e a violência contra nossa população não é escondido de ninguém”.

No entendimento dela, “cada vez mais nossa população vem sofrendo violências desde a infância, pela sociedade, pela família, pela escola, pelo Estado, pela mídia, do mercado de trabalho… Recebemos violência de todos os lados. A morte social de uma pessoa trans chega muito antes dela ser assassinada fisicamente. É triste toda vez que se falar de pessoas trans ter que associar à morte e violência, mas infelizmente é algo que nos atravessa constantemente. A nossa luta diária é pelo direito de viver, pelo direito de existir com o mínimo de respeito e dignidade necessária a todas as pessoas. Não queremos privilégios, queremos os mesmos direitos que todas as pessoas cis tem e sempre nos foi negado”.

“A luta por visibilidade, respeito e dignidade é diária, precisamos reafirmar importância do debate no ambiente escolar, que garantirá a construção de uma sociedade livre da LGBTQIA+fobia.”, lembra Elbia Pires, diretora do Sinpro e ativista LGBTQIA+.

Muito já foi conquistado. E ainda há muito por conquistar. Respeito e dignidade é direito de qualquer indivíduo, não importa sua orientação sexual ou identidade de gênero.

No próximo dia 18 de abril, o Sinpro fará o lançamento de seu coletivo LGBTQIA+. O evento será na sede do sindicato no Setor de Indústrias Gráficas, às 19h.

MATÉRIA EM LIBRAS