Violência nas escolas- o que eles não disseram

“Violência nas escolas se resolve com meditação, treinamento, cartilha e segurança armada”, eles disseram. O que não disseram é que a violência não começa na escola e nos alunos. A violência começa no Racismo Estrutural e nas desigualdades sociais que empurram crianças e jovens para uma vida precarizada, sem acesso aos direitos básicos. Ela começa na forma como os que estão no poder olham para a escola de periferia e só veem perigo e pobreza. Como alternativa oferecem escolas militarizadas, sucateadas, opressão, silenciamento e abandono.

Depois de dois desafiadores anos de pandemia, com docentes exaustos e estudantes fragilizados emocionalmente, abandonam o professor na escola sem educador social, sem monitor, sem apoio e orientação, e o condenam à solidão pedagógica. Também não disseram que a violência que explode nas escolas é resultado da violência do neoliberalismo que invade tudo, espraia-se moldando as subjetividades das novas gerações para dizer: “consuma, acumule, ostente, junte o primeiro milhão antes dos 30, quem vale mais é quem tem mais”. E para “ficar rico” vale tudo, se vender, vender o outro, vale mentir, produzir falsa caridade, vale digladiar-se na luta por seguidores e visibilidade.

O que eles não disseram é que a “Sociedade do Espetáculo” é braço do capitalismo perverso, que em nome de vender, precisa transformar tudo em mercadoria: dores, conflitos, angústias, brigas, tudo tem que ser encapsulado em vídeos para “gerar conteúdo e engajamento”. Os sonhos de ser pediatra, jogador de futebol, professor, advogado, deram lugar ao sonho de postar o vídeo que vai viralizar, não interessa quão violento, chocante, nefasto ele seja, não interessa que o vídeo espetacularize a humilhação do outro e atente contra a ética humana. Interessam os views, os likes, os seguidores obtidos.

O que não disseram é que a concepção empobrecida de educação que se tem, em que se reduz escola a depósito de gente e o ensino a depósito de conteúdos, sem compromisso com a humanização e com a formação do pensamento crítico, é uma concepção que favorece a barbárie. O que eles não disseram é que há quem lucre muito com tudo isso.

E, o que nós seguimos dizendo, é que os docentes e demais profissionais da educação, que estão no chão da escola, estão fazendo o melhor dentro das condições que lhes são oferecidas. São eles e elas que seguem em diálogo com a juventude para apoiá-los e orientá-los em meio a tantas contradições. Sem eles, sem o seu compromisso ético com a educação pública, o cenário seria muito pior.

Por: Gina Vieira Ponte, professora da educação básica no Distrito Federal