Vida em palavras, vivências em catarse

Se a ideia era trazer temas relevantes para os(as) professores(as) e orientadores(as) educacionais, e levá-los (las) a refletir e compartilhar experiências sobre suas vivências pessoais e profissionais, então a primeira edição do projeto Viver em Palavras foi muito bem sucedida.

A ideia do projeto Viver em Palavras, pensado para ser uma parceria da secretaria de Assuntos de Saúde do Trabalhador com as outras 13 secretarias do sindicato, é utilizar a transversalidade como um processo de integrar a comunicação, uma pausa para refletir sobre o viver, reforçando a conscientização sobre a prevenção dos adoecimentos.

No evento de ontem, em parceria com a secretaria de mulheres do Sinpro, a professora do Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília Valeska Zanello falou sobre saúde mental e gênero.

Zanello demonstrou que, por ser socialmente construído como o gênero frágil, que é obrigado a gerar e cuidar, sempre pensando primeiro nos outros e ficando para último nas prioridades de vida, as mulheres são cobradas socialmente por determinadas atitudes e comportamentos e, se não se comportam dessa forma predeterminada, são julgadas e culpadas por suas condutas não condizentes com seu papel de gênero.

Várias professoras trouxeram seus depoimentos de vivências. Duas professoras aposentadas contaram das cobranças dos irmãos homens para cuidar de pais idosos; outra professora aposentada contou das cobranças feitas por suas amigas durante seu casamento e após seu divórcio. Histórias compartilhadas por mulheres que se sentiam culpadas por não conseguir atender às expectativas de uma sociedade machista e patriarcal.

“Sou a única mulher de cinco filhos. Meus quatro irmãos nunca se preocuparam em cuidar do meu pai, pois isso sempre foi tarefa minha. Eu estava emocionalmente esgotada, e nenhum deles estendeu a mão pra mim”, contou uma das participantes.

Os depoimentos dessas professoras irão ao ar em breve nas próximas edições do TV Sinpro.

Após o evento, a professora Valeska Zanello contou que esse tipo de reação é muito importante. “A gente pensa que as emoções têm a ver apenas com o âmbito íntimo, com nossa história pessoal, mas uma das questões importantes dentro da perspectiva de se pensar saúde mental e gênero é politizar as emoções, para entendermos o quanto nossas emoções são atravessadas por violências estruturais, como gênero e raça”.

“O projeto Vida em palavras quer ser um espaço de troca e de cuidado mútuo com nossa categoria, nos fortalecendo como seres humanos, com nossas vivências no ambiente de trabalho e, acima de tudo, busca trabalhar a prevenção ao adoecimento das trabalhadoras e trabalhadores da educação”, declarou a coordenadora da Secretaria de Assuntos de Saúde do Trabalhador, Elbia Pires.

“O encontro foi de uma sinergia muito grande, uma vez que nossa categoria é majoritariamente feminina e a nossa função de trabalho é atrelada à divisão de trabalho no que se refere às funções que a sociedade indica para a mulher. Quando a professora Valeska explicou do dispositivo materno, que faz recair sobre a mulher a responsabilização no que se refere à educação das crianças e dos estudantes, pudemos vivenciar as pessoas presentes dialogando com os estudos da professora Zanello e apresentando suas experiências de vida. Esse diálogo foi inevitável”, conta a coordenadora da secretaria de assuntos e políticas para mulheres educadora, Mônica Caldeira.

Novas edições do Viver em Palavras devem acontecer nos próximos meses.