Vexame internacional (mais um)
O Brasil, outrora gozador de prestígio internacional, graças a presidentes que viajavam a trabalho e eram efusivamente recebidos em reuniões de cúpula, agora amarga a vergonha internacional. Viramos párias mundiais.
Bolsonaro foi passar o feriadão de finados na Itália. Foi participar da cúpula dos 20 países mais importantes do mundo, em Roma, e aproveitou para receber o título de cidadão italiano concedido por uma líder da extrema direita local, da região de Pádua. O encontro do clima, COP 26, ficou de fora dos compromissos.
De acordo com informações da Agência Brasil, o G20 foi criado em 1999, em resposta às crises financeiras dos anos 1990. Foi concebido inicialmente como um fórum entre ministros de finanças e presidentes de bancos centrais. Com a crise financeira de 2008, o nível de participação das autoridades foi elevado para chefes de estado e de governo e passou a incluir de maneira central os ministérios da economia e Relações Exteriores dos países.
No encontro em Roma, Bolsonaro não conseguiu sucesso nem entre os garçons do coquetel de recepção dos líderes de Estado.
Enquanto os líderes dos 20 países mais ricos do mundo interagiam e conversavam entre si, negociando acordos, parcerias estratégicas, soluções em conjunto para problemas mútuos, Bolsonaro e sua trupe (foram também seus seguranças) tentavam, de longe, adivinhar quem era quem nas rodinhas de conversa das quais não participavam.
Até que um dos assessores teve a ideia de trazer o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para conversar com o brasileiro, que lhe contou mentiras sobre a Petrobras e sobre a realidade brasileira.
O Brasil não participou de nenhuma reunião bilateral, que costuma ocorrer em eventos como esses: chefes de estado de dois países conversam sobre temas em comum, em busca de ajuda, apoio ou mesmo troca de ideias. Mas ninguém quis conversar com o Brasil.
Bolsonaro poderia ter buscado investimentos internacionais em prol do desenvolvimento econômico e redução do desemprego. Também poderia ter buscado facilitar a importação de componentes de vacinas. Também poderia ter buscado diálogos sobre o clima em Glasgow, para ao menos tentar suavizar a já péssima imagem do Brasil no exterior. Mas não teve nada. O único feito de Bolsonaro na Itália foi manter uma igreja fechada: os padres franciscanos da cidade que ele visitou após o G20 fecharam o local para não terem que receber o brasileiro.
No jantar de encerramento da reunião no domingo, Bolsonaro ainda pisou, sem querer, no pé da chanceler alemã Angela Merkel, que reagiu com uma brincadeira ácida: “só podia ser você”. Ninguém tem paciência com ele…
Nem ele tem paciência com jornalistas. Quem perguntava ao presidente sobre o fracasso da viagem a Roma era tratado com soco no estômago por seus seguranças; e quem lhe perguntava por que Bolsonaro não esticou viagem até Glasgow, na Escócia, onde ocorre o COP-26, maior encontro de líderes mundiais para discutir meio ambiente, ouvia “não lhe devo satisfações, rapaz!”. Mas, na verdade, Bolsonaro deve satisfações, sim. À imprensa, aos brasileiros, ao país, ao tribunal de contas da União, ao TSE, ao STF… Bolsonaro deve satisfações de mais.
Resumo da ópera: o presidente passeou muito, conversou com muitos garçons, pisou no pé de Merkel, fugiu da COP 26 e, de concreto mesmo, só uma igreja fechada.
Viramos párias mundiais. E esse isolacionismo não é bom pro país. Sob nenhum aspecto.