Um grito ecoou no centro de Brasília: “Não vai ter golpe”

Uma multidão de manifestantes da CUT e de outras centrais sindicais, além de diversos movimentos sociais (como os sem teto e sem terra) e estudantis e de partidos políticos, coloriu de vermelho o espaço entre a Praça dos Aposentados do Conic até a Rodoviária do Plano Piloto entre 16h30 e 20h dessa quinta-feira (20). Entre a concentração no Conic, na praça em frente à CUT Brasília, a caminhada de cerca de meio quilômetro e a ocupação da Rodoviária, cerca de 3 mil trabalhadoras e trabalhadores, estudantes e aposentados participaram da atividade convocada para defesa de mais direitos, liberdade e democracia.
IMG_9791Exibindo faixas e cartazes contra ameaças de golpes às instituições democráticas, contra retrocesso e recessão promovidos pela atual política econômica do governo e contra os projetos no Congresso Nacional conservador que precarizam o trabalho, roubam direitos e criminalizam movimentos sociais, os manifestantes entoaram palavras de ordem enquanto distribuíam panfletos com o objetivo de informar a população sobre os riscos do avanço da direita golpista, da implantação do plano Levy  para o país e dos projetos neoliberais e privatistas do governo Rollemberg no DF.
“Infelizmente, a grande mídia não mostra a realidade dos fatos para o povo brasileiro. Corroborando ataques da direita, a imprensa esconde toda a conjuntura que está por trás dessa crise política e econômica”, ataca o secretário de finanças da CUT Brasília, Julimar Roberto. “Estamos protestando contra o ajuste fiscal e o conjunto de ataques aos direitos da classe trabalhadora. Porém, para isso, não atacamos o estado democrático de direito, pois entendemos que a preservação da democracia é fundamental para o desenvolvimento e para avanços em termos de justiça social e, inclusive, para garantir o direito de continuar batendo no que consideramos errado nesse e em qualquer governo!, completa Julimar.
“Os trabalhadores sofreram, mas lutaram muito contra a ditadura. Muitos morreram, muitos outros foram presos e perseguidos. Não podemos desonrar essa luta e a herança conquistada pelos mais velhos. Além disso, só numa democracia o povo pode ir às ruas lutar contra a exploração e pelas mudanças contra as desigualdades sociais”, ressalta Rodrigo Britto, presidente da CUT Brasília.
Convocado pela CUT e mais de uma dezena de entidades sindicais, sociais e partidárias, o ato político teve início às 16h30, quando os manifestantes começaram a chegar na praça dos Aposentados, onde falações políticas se intercalaram com músicas características da cultura brasileira, interpretadas pelo músico Chico Nogueira.
“A CUT está nas ruas em várias capitais do país pra defender a democracia, a liberdade, a manutenção dos direitos conquistados e deixar claro que não aceitaremos nenhum retrocesso nas conquistas duramente conquistadas. É um dia de fundamental importância e muitos outros virão, de muita mobilização e unidade da classe trabalhadora”, explica o diretor de Políticas Sociais da CUT Brasília, Ismael César.
Ao lado da classe trabalhadora
Por compreender que a luta pela democracia é essencial para a garantia e a conquista de qualquer outro direito e que a pauta da classe trabalhadora é estratégica para muitos segmentos sociais, fomentando a luta por terra, porIMG-20150820-WA0058distribuição de renda, liberdade e igualdade de oportunidades, os integrantes dos movimentos sociais compareceram em peso à manifestação em Brasília.
“Não podemos dar vasão às intenções de golpe dos segmentos elitistas e de direita porque lutamos muito para ter uma democracia em nosso país. É também um momento de luta e reflexão sobre o modelo econômico adotado pelo atual governo. Esse ajuste fiscal não pode ficar nas costas dos trabalhadores. É preciso que a presidenta Dilma mude os rumos da política econômica do governo e rejeite a agenda Brasil para governabilidade oferecida por Renan Calheiros e que nada mais é do que uma agenda neoliberal que retira direitos dos trabalhadores, privatiza as empresas públicas e reduz o Estado. Nós derrotamos o neoliberalismo nas urnas e agora vamos derrotá-lo nas ruas defendendo o programa que nós elegemos, desenvolvimentista com distribuição de renda e garantia dos direitos da classe trabalhadora”, afirma o coordenador nacional do Movimento Sem Terra, Alexandre Conceição.
Para a militante da esquerda, Carmem de Oliveira, a luta pela democracia é uma pauta permanente e dever de todos os militantes de esquerda : “Esse ato é a demonstração do nosso desejo que a democracia seja mantida no nosso país. Se abrirmos mão da mobilização, que é a força popular, estaremos abrindo mão de tudo”, reflete Carmem.
De acordo com a dirigente CUTista e do Sindicato dos Professores do DF, Rosilene Correia, a democracia no Brasil ainda é um processo muito recente e que deve ser respeitado. “Não aceitaremos que o Congresso ou o governo imponham medidas que prejudiquem a classe trabalhadora. O nosso enfrentamento é constante e a união do povo não permitirá nenhum retrocesso. Com a nossa unidade, sairemos vitoriosos desse processo e o país sairá vitorioso”, conclui Rosilene.
“A gente tem é que fortalecer essa democracia, aumentando os espaços de participação popular, ampliando o acesso do povo aos espaços de poder, encorajando os movimentos sociais e a juventude a participarem das decisões políticas do país”, afirma a presidenta da Unegro-DF, Sandra Alves.
Em defesa do mandato popular
Várias vertentes do Movimento Estudantil ligadas principalmente à União Nacional dos Estudantes (UNE), compareceram ao ato levando e fortaleceram o movimento dos trabalhadores, com palavras de ordem e instrumentos de percussão. Mobilizados, os jovens mostraram que estão informados sobre a situação política do país e cientes do enfrentamento político necessário para barrar qualquer tentativa de golpe.
IMG-20150820-WA0065“A gente sabe que o nosso país não pode cair mãos de golpistas, que não têm também interesse algum nas pautas da juventude. Nesse ato, mostramos mais uma vez que o Movimento Estudantil está em parceria com a classe trabalhadora, as centrais sindicais e os outros movimentos sociais contra qualquer retrocesso e retirada de direitos e na luta pela manutenção e fortalecimento da nossa democracia” afirma a diretora de Combate ao Racismo da União dos Estudantes Secundaristas (UES), Ludmila Jardim.
“Avaliamos que é necessário defender o mandato popular decidido nas urnas e cobrar os compromissos eleitorais feitos com a classe trabalhadora e com os movimentos sociais, pois foi graças a nós que Dilma garantiu sua reeleição. O plano Levy (e agora Renan) está na contra mão da agenda que elegemos para o nosso país, bem como todos os ataques que os trabalhadores vem sofrendo ao longo do ano”, explica Vítor Carvalho, militante da Juventude Revolução.
A multidão vermelha de manifestantes permaneceu na Rodoviária até aproximadamente 20h. Ao longo da caminhada, dezenas de pessoas que esperavam o transporte coletivo para voltar para casa aderiram ao movimento e prestaram apoio.