Um Baile no Etarismo

Por Edna Rodrigues Barroso*

Existem corpos que não pretendem parar de dançar, de se movimentar, de se divertir, de cantar, mesmo que alguém lhes declare que já não têm a mesma flexibilidade, a mesma leveza, a mesma agilidade.

Existem corpos que não pretendem parar de militar, de se envolver, de se posicionar, de reivindicar, mesmo que alguém lhes afirme que o mundo mudou, a sociedade mudou, a categoria mudou.

O menosprezo aos envelhecimentos tem se mostrado um preconceito crônico, especialmente no caso brasileiro. É uma subestimação que pode assumir contornos paternalistas, como a infantilização, e/ou inadmissíveis, como o desrespeito.

Por isso, cada vez mais, o Estado e a sociedade civil têm o dever de elaborar e adotar políticas públicas e ações que venham contrapor-se ao etarismo e às suas múltiplas e complexas manifestações, tendo o bom senso de nem romantizar e nem dramatizar o envelhecimento. Porque, como cantou Juca Chaves: “Idade não é culpa; Velhice não é desculpa; Nem mesmo a juventude é profissão”.

O Bailes das(os) Aposentadas(os) do Sinpro-DF é um exemplo da força e da mobilização daquelas e daqueles que se dedicaram ao magistério e à militância sindical e hoje usufruem de um direito social: a aposentadoria.
Direito esse (re)conquistado com muita luta por quem estava a bailar.
Ainda que haja a crítica de que a iniciativa possa parecer segregacionista, é preciso entender que a categoria é numericamente grande e que aposentadas(os) e não aposentadas(os) são segmentos distintos que formam uma única base.

Vendo e participando do Baile, é impossível não se emocionar ao ver tantos e tantas que consagraram (e ainda o fazem) parte significativa do seu cotidiano para causas coletivas. E como disse Gonzaguinha: “E eu não quero esquecer; Essa legião que se entregou por um novo dia.”
Nosso Baile é um contraexemplo ao etarismo, ao capacitismo, ao preconceito de gênero. As mulheres marcaram presença majoritariamente, retratando a categoria, quantitativa e qualitativamente. São mulheres que não se intimidam em dançar sozinhas ou acompanhadas das amigas, riem em grupo, cantam em coro e se alegram em encontrar as companheiras e companheiros de profissão, arrumam-se e perfumam-se para si, ou ignoram o “dress code”. Pessoas que vivem plenamente, em par ou ímpar.

Nosso Baile é, antes e acima de tudo, um espaço/tempo de celebração coletiva e de prazeres compartilhados. Sem saudosismos, mas com reverência a todas e todos que alimentaram (e alimentam) o “fogo da esperança” por dias melhores.

Agradecemos à Secretaria de Assuntos de Aposentados e Aposentadas pelo Baile de 2023. Que nosso sindicato esteja atento ao fato de que uma entidade classista constitui-se de razão e emoção.

Que venham outras e novas ações que promovam os interesses desse segmento da categoria, articulando-os aos que ainda não se aposentaram.
Aposentadoria sim! Inatividade nunca! Segue o baile.

*Edna Rodrigues Barroso é professora aposentada da SEEDF