TV Sinpro debate a violência nas escolas do DF

A crescente onda de violência nas escolas públicas do Distrito Federal foi tema do último TV Sinpro, realizado no dia 6 de abril. O assunto não poderia ser mais pertinente, visto os últimos casos de estudantes, professores(as) e profissionais da Educação sendo vítimas dos mais variados tipos de agressão. O programa contou com a participação da ex-presidenta da CUT-DF, professora aposentada da SEE e ex-deputada distrital, Rejane Pitanga; da professora da Faculdade de Educação da UnB e doutora em educação, Edileuza Fernandes; além da diretora do Sinpro, Rosilene Corrêa.

Trazendo como tema Educar, cuidar – a cultura de paz nas escolas, Rosilene Corrêa afirma que a violência que vivenciamos no dia a dia acaba sendo direcionada para as escolas. Isto acaba dando a impressão que a violência acontece e surge nas escolas públicas. “Não gosto muito de falar em violência nas escolas porque parece que a escola está produzindo esta violência, e na verdade a escola é vítima da violência, que está na nossa sociedade. Estamos vivendo, no país, um incentivo à violência. Temos um presidente que incentiva o uso de armas, que desqualifica e incentiva a violência contra a mulher a partir do que ele fala. Tudo isto acaba gerando tudo isto que estamos vivendo”, ressalta.

A sindicalista ainda revela que o abandono dos estudantes durante a pandemia, que não receberam nenhum auxílio e estrutura do governo, toda a questão social dos estudantes das periferias, além da violência física sofrida por muitos deles estão por trás de tudo isto. “Isto é resultado da ausência de políticas e da falta de investimento na educação”.

Como deputada distrital, Rejane Pitanga aprovou, em 2011, a Lei 4626 (não regulamentada), que institui o programa de cultura da paz nas escolas. Essa lei deixa claro a necessidade de todos os segmentos da escola atuarem em uma ação permanente. “A ideia é uma ação permanente da escola, com participação com todos os segmentos, criando comissões dentro das unidades escolares com a participação de pais, servidores e alunos, submetidos a um conselho escolar, discutindo programas permanentes, do ponto de vista social, esportivo e cultural, onde as pessoas vão para as escolas trabalhar esta cultura da paz. Existe um profundo desinteresse dos governos em tratar do assunto, o que afeta ainda mais”, explica.

Já a professora Edileuza Fernandes lembra que quando se fala da cultura da paz, é enfatizado a violência como ato de agressão física, mas em muitos casos o enfrentamento da violência é com outros segmentos de violência. “A cultura da paz é uma construção social. Não adianta eu dizer para a escola que é preciso construir a cultura da paz, porque isto é um processo de construção inerente a este grupo e vai acontecer de forma diferente em cada unidade escolar. Quem constrói a cultura são as pessoas e elas têm valores e concepções diferentes. Precisamos entender que, mesmo com uma lei, ela não pode ser construída de forma plural”, salienta.

A violência é um fenômeno que decorre do modo de organização da sociedade capitalista, caracterizada pela desigualdade social, econômica e de oportunidades. O isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19 revelou essas desigualdades. O retorno presencial às atividades escolares requer ações do governo no sentido de criar as condições para que a educação seja de fato um direito de todos(as). Nesse sentido, a construção de uma cultura de paz requer ações intersetoriais, um trabalho em rede voltado ao educar e cuidar. Ações contrárias à militarização, à repressão, coerção. “Esta pauta é importante para debater as consequências da violência nas escolas e tudo que, não só elas, mas estudantes e a comunidade escolar, vêm sofrendo e vivendo diante desta sociedade violenta. Precisamos entender qual o papel da escola neste contexto e qual protagonismo que elas podem assumir. É preciso e necessário debater tudo isto e encontrar saídas”, finaliza.

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