Camponesas encerram Marcha das Margaridas com itens da pauta atendidos

Mais de 35 mil trabalhadoras rurais participaram do encerramento da 5ª da Marcha das Margaridas na tarde desta quarta-feira (12).  Realizada no Estádio Nacional Mané Garrincha, o ato de conclusão da atividade contou, mais uma vez, com a participação de vários ministros de Estado, da presidenta da República, Dilma Rousseff, e de mulheres lideranças sindicais do movimento dos trabalhadores rurais, feminista e de outras entidades do movimento social.
Lideranças da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) disseram que a meta de reunir 70 mil trabalhadoras rurais foi atingida. Porém, a Polícia Militar do Distrito Federal estimou em 35 mil os participantes. No Mané Garrincha, com capacidade para 72 mil pessoas, o anel inferior, com capacidade para 22,3 mil, estava ocupado pelas “margaridas”.
A pauta de reivindicações e a marcha abordavam itens relacionados aos direitos das mulheres, à melhoria da vida no campo e, sobretudo, ao fortalecimento da democracia. Com o tema “Brasil soberano, sustentável, mais democrático, justo e igualitário no campo, cidade, águas e floresta”, a marcha trouxe para a capital do país reivindicações centradas na garantia dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores, contra a precarização do trabalho, em defesa da democracia.
“A 5ª Marcha das Margaridas veio este ano com um força indicativa de que nós, mulheres, não podemos arredar o pé das nossas conquistas. Ouvi várias companheiras “margaridas”, de várias regiões do Brasil, e observei a preocupação com o nosso Congresso Nacional que hoje atua para retirar direitos. Nós, mulheres, sempre estivemos na rua, lutando para ampliar nossos direitos, e a Marcha, que está linda, trouxe esse força da mulher brasileira, cobrando a pauta, que é específica da luta das mulheres, porém com a força da mulher camponesa”, declara a coordenadora da Secretaria de Assuntos para as Mulheres Educadoras do Sinpro-DF, Eliceuda França.
Ela afirma que “todas as mulheres urbanas e rurais brigam pelas mesas coisas, mas nós sabemos que as companheiras do campo sofrem muito mais, por isso, no item relativo ao enfrentamento da violência contra a mulher no campo, é preciso que haja políticas públicas firmes em defesa das companheiras do campo. Basta das companheiras sofrerem tantas formas de violência”.
A presidenta da República assumiu o compromisso de recepcionar a pauta de reivindicações da categoria e afirmou que o principal compromisso dela é o de “combater a violência contra mulheres de maneira implacável”. Ela disse que irá criar patrulhas rurais para combater a violência contra a mulher no campo e que o governo terá “tolerância zero” contra esse tipo de violência.  “Faremos parcerias com as forças policiais que atuam localmente para que as mulheres vítimas de violência sejam assistidas de maneira correta e haja de fato prevenção da violência e do feminicídio”.
O combate à violência contra as mulheres é uma das principais reivindicações das agricultoras. A palavra “Margarida”, no nome do movimento, é justamente uma homenagem a uma paraibana, liderança sindical do movimento das trabalhadoras rurais, assassinada por causa de sua luta pela reforma agrária e outras reivindicações do movimento. Trata-se de Margarida Maria Alves, assassinada há 32 anos na frente do marido e dos filhos.
Outro item da pauta de reivindicações das trabalhadoras rurais que a Presidenta da República destacou foi a assinatura de um decreto com as novas regras do Programa Nacional de Crédito Fundiário, após 17 anos sem revisão. Ela anunciou a ampliação dos limites de renda familiar anual e patrimônio familiar máximo para que as famílias possam requisitar crédito. Os valores dobraram, foram para R$ 30 mil e R$ 60 mil, respectivamente.
“Não deixaremos que haja retrocessos. Como eu disse, continuarei a trabalhar para honrar e realizar o sonho de vocês. Não permitiremos que ocorra retrocesso nas conquistas sociais e democráticas de nosso país”, garantiu a Presidenta.
EDUCAÇÃO – Dilma informou que serão ampliados os serviços especializados de atenção à mulher rural, como cursos voltados para a capacitação de 10 mil promotoras legais pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego e prometeu ampliar o número de vagas em creches e pré-escolas nas cidades e no campo. “Até 2018, o Ministério da Educação garantirá 1.200 espaços nas escolas para creches e conclusão da implantação em escolas rurais existentes para atender às crianças, prioritariamente, de 4 e 5 anos”.
A presidenta anunciou a instalação de mais 100 mil cisternas produtivas até 2018, garantindo água para produção e implantação de quintais produtivos agroecológicos. Ela ainda disse que vai continuar trabalhando na elaboração do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos, mas não detalhou quando será lançado.
“Nós, trabalhadoras urbanas, temos conquistado o direito à creche, mas a creche precisa chegar também às companheiras do campo para que elas possam desenvolver seu trabalho na agricultura e ter suas filhas também sendo cuidadas”, disse.
Eliceuda lembra que a segurança alimentar com produção sustentável é outro item muito importante da pauta das trabalhadoras rurais e diz que quando vê a organização das trabalhadoras rurais por intermédio da marcha, constata a força das camponesas que, na sua simplicidade, costumam revelar um auto grau de conhecimento sobre suas próprias lutas, dificuldades e a clareza com que defendem as bandeiras de luta e sustentam sua organização.
“Às vezes penso que se nós, mulheres educadoras, tivéssemos um pouquinho dessa formação, a gente faria também uma grande revolução. A Marcha das Margaridas traz para nós, educadoras, uma reflexão sobre o papel da nossa força na elaboração e implantação das mudanças necessárias a este país e à educação”, analisa Eliceuda.
Ela diz que quando as margaridas chegam em Brasília, observamos que se trata de um movimento social de grande importância para a luta das mulheres porque une a força das mulheres do campo com a das cidade. “Essa marcha representa um grande exercício da democracia, mas principalmente porque reafirma o nosso compromisso com a luta das mulheres. Nós, mulheres educadoras, temos de nos comprometer com todas as lutas pela justiça social”.
Eliceuda afirma ainda que a Marcha das Margaridas está intimamente ligada à luta da categoria docente porque ambas estão fazendo história. “Não podemos só estudar história, temos de fazer a história. Assim, quando a gente se compromete com a luta das mulheres, isso é educação, isso é fazer escola”, observa.
A coordenadora-geral da Marcha das Margaridas e secretária de Mulheres da Contag , Alessandra Lunas, disse, durante o encerramento, que a marcha não significava um enfrentamento, mas uma luta pelos direitos das trabalhadoras do campo. “Estamos na rua garantindo o não retrocesso do direito das trabalhadoras”, afirmou. Ela disse também que o movimento estar com Dilma. “Estamos juntas, sim. Estamos juntas à presidenta Dilma Rousseff”.
REIVINDICAÇÕES – A pauta de reivindicações das trabalhadoras rurais foi entregue ao governo federal há pouco mais de um mês. A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, disse, durante o discurso no encerramento da atividade política, que o governo estuda todas. “Muitas pautas que vocês trazem serão atendidas, algumas, não neste momento”. Eleonora informou que uma das demandas da última marcha, realizada em 2011, foi a de implantação de unidades móveis de enfrentamento à violência contra as mulheres e assegurou que 54 foram entregues aos estados e municípios, além de uma unidade móvel no Arquipélago do Marajó, no Pará.
“Vocês certamente marcham em um país muito diferente para todas as mulheres, muito diferente do país de antes de 2000, quando seguiram em marcha pela primeira vez. Mas também diferente do país de 2011 quando marcharam pela última vez”, disse a ministra.
Este ano, duas mulheres participantes da Marcha das Margaridas, uma de Sergipe, Maria Pureza, outra do Piauí, Maria Alzenir, faleceram durante a estada da Marcha das Margaridas em  Brasília. Ambas faleceram na noite desta terça-feira (11) em decorrência de problemas cardíacos.
 
Confira a seguir, fotos do encerramento: