Sistemas penitenciário e educacional têm base colonizadora e racista, mostra professora

“Tanto o sistema penitenciário quanto o sistema educacional em nosso país têm suas raízes em um projeto colonizador, racista, que mantém e intensifica as desigualdades sociais em nosso país”. A constatação é da professora da Educação de Jovens e Adultos (EJA) Vanessa Bomfim, na dissertação “Pedagogia da Resistência: Pelo direito de ser mais”.

Professora no sistema prisional desde 2005, Vanessa fará a defesa do material nesta sexta-feira (30/6), e é com ele que quer avançar na luta para que a EJA nas prisões “tenha o papel reparador de devolver às pessoas privadas de liberdade o título de sujeitos de direitos em busca de serem mais”.

“O título da dissetação está relacionado a uma pedagogia que resiste ao projeto colonizador que desumaniza e estigmatiza pessoas negras em nosso país, tornando-as menos humanas, proibidas de ser, saber e poder ainda quando criança quando não se sentem acolhidas pela escola e buscam na criminalidade uma forma de sobreviver”, explica a professora.

O trabalho de Vanessa Bomfim traz narrativas autobiográficas de professoras coordenadoras que trabalharam na EJA nas prisões nos últimos 20 anos, e falam da luta de professores e alunos para desenvolver uma educação libertadora e promotora dos direitos humanos.

“São quatro mulheres que ignoram os rótulos, os julgamentos, as insinuações e não permitem que nada as desanimem. Vestem-se da força de quem sabe pelo que lutam e mostram que é preciso inteligência e sabedoria para driblar a alienação, o ambiente antagônico aos princípios da EJA”, diz a professora Vanessa Bomfim. Segundo ela, “as narrativas trazidas por essas professoras coordenadoras mostram que os avanços obtidos até hoje foram garantidos a partir de muita luta dos professores, mas que sempre estão no processo de avançar e retroceder, muito semelhante com o que ocorre com a EJA regular”.

Dados de 2022 da Secretaria Nacional de Políticas Penais mostram que apenas 7,96% da população carcerária tem acesso à educação formal (presencial). “Das 26 estratégias da meta 10 do PDE (Plano Distrital de Educação), pouquíssimas sequer foram iniciadas. É uma educação que se encontra invisibilizada”, declara professora Vanessa Bomfim.

MATÉRIA EM LIBRAS