Sinpro: o Sindicato Cidadão

Um sindicato local de repercussão nacional. É essa a percepção dos oradores da Sessão Solene em homenagem aos 43 anos do Sinpro (clique sobre o link para assistir à sessão completa) a respeito do sindicato, ocorrida na noite da quinta-feira, 17 de março, no plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal. O evento estava repleto de admiradores, lutadores, e muita memória e orgulho de mais de quatro décadas de uma história de sindicato que se confunde com a história de Brasília.

Evento representativo

Estiveram presentes à cerimônia, compondo a mesa: a deputada distrital Arlete Sampaio (PT), a anfitriã; a diretora do Sinpro Rosilene Corrêa; Gabriel Magno, ex-dirigente do Sinpro e secretário para Assuntos Legislativos da Central Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE); o vice-presidente da Internacional da Educação, Roberto Leão; o representante da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) no DF, Rafael Lucas de Souza Ribeiro; o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues; o dirigente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (Adunb), Martin Leon Jacques Ibanez de Novion; Olgamir Amância Ferreira, ex-dirigente do Sinpro, professora aposentada da rede distrital e decana de extensão da Universidade de Brasília (UnB), representando a reitora da instituição, professora Márcia Abraão; e o dirigente do Movimento dos Sem Terra (MST), Marco Antônio Baratto.

Também compareceram ao evento os deputados distritais Chico Vigilante (PT) e Leandro Grass (PV). Outros parlamentares da casa que não puderam estar presentes enviaram suas mensagens de saudação, como Reginaldo Veras (PDT) e Fábio Félix (PSOL). O evento também reuniu diversos dirigentes partidários e de entidades sindicais e do movimento social, representantes da sociedade civil e muitos professores(as) e orientadores(as) educacionais.

Esperançar por este chão

A sessão solene se iniciou com o vídeo produzido pelo Sinpro em homenagem a seus 43 anos (veja abaixo) e, em seguida, o diretor do sindicato Jairo Mendonça interpretou a música Esperançar por este chão, com letra do professor do Departamento de Artes e Comunicação (DAC) da UFSCar, Eduardo Conegundes de Souza, que assina o samba como Edu de Maria, em parceria com a cantora Anabela e o Núcleo Cultural Cupinzeiro, de Campinas.

Sindicato com papel importante para a história e para a construção de cidadania

A sessão solene desta quinta-feira reuniu os dirigentes de ontem e de hoje do sindicato que, nas palavras do ex-diretor do Sinpro e atual presidente da Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal (CUT-DF), Rodrigo Rodrigues, “não se limita [a atuar] pelos interesses específicos de uma categoria, pois tem uma diretoria com compreensão do seu papel na classe trabalhadora: caminhando junto com os movimentos sociais como o MST, dialogando com vários outros sindicatos de Brasília e do Brasil, atuando em parceria com os estudantes”, disse Rodrigues no púlpito do plenário da CLDF. “É o que podemos chamar de sindicato cidadão”, concluiu ele.

Olgamir Amância Ferreira também ressaltou o papel de sindicato cidadão “O Sinpro é referência nacional e internacional, que nos dá a lição de como lutar por uma educação emancipatória.”

Leão, vice-presidente da Internacional da Educação e ex-presidente da CNTE, recordou “as lutas que o Sinpro fez e a importância do Sinpro na construção da CUT, as lutas do Sinpro em defesa da democracia, defendendo as diretas, a anistia, como sindicato que não se prende às lutas da categoria, pois sindicalismo é defender um Brasil democrático, igual para todos, onde o povo seja de fato o representante do poder deste país.”

Novion, da Adunb, lembrou seus tempos de movimento estudantil, no final dos anos 1980, quando o Sinpro foi o sindicato que acolheu os estudantes “para criarmos os grêmios estudantis, permitindo que a Ubes tivesse a possibilidade de existir. Éramos uma geração que sabia da importância do primeiro voto – e entendíamos sua importância, por isso assumimos a luta política”. Novion contou ainda que a Adunb surgiu apoiada pelo Sinpro: “Para nós, o Sinpro é um sindicato irmão da associação docente da UnB.”

Para Rafael Ribeiro, da Ubes, o Sinpro é um sindicato muito importante:  “Sem o Sinpro, o governo não teria interesse em nos ajudar na nossa luta. Quando visitamos as escolas, quem nos recebe de braços abertos são os professores, porque eles gostam que a gente exemplifique para nossos colegas estudantes o que é a educação brasileira.”

Professores orgulhosos e orgulho dos professores

A anfitriã da sessão solene, deputada Arlete Sampaio, foi a primeira a falar e emocionou a todos. Ela disse que se orgulha de ser chamada, ainda que erroneamente, de “professora Arlete”. E contou: “posso dizer com toda a segurança que a educação me permitiu ser quem eu sou hoje. Foram justamente os livros e os meus professores que me fizeram ter ambição pelo conhecimento; e foi em busca de educação que eu abandonei o destino de uma menina do interior da Bahia. Por isso, tenho um respeito extraordinário por todos vocês [professores]. (…) Quando Paulo Freire disse que a educação transforma o ser humano e o ser humano transforma o mundo, ele falou tudo o que eu acho. A educação é a possibilidade que uma pessoa tem de realizar plenamente a sua humanidade”, concluiu.

Gabriel Magno, da CNTE, recordou seus tempos do ensino médio. Naquela época, “o Sinpro tinha um caminhão de som, e quando eu via aquele caminhão na rua no caminho pra escola, dava um quentinho no coração e eu pensava: Vem luta boa por aí”.

Chico Vigilante lembrou da força do Sinpro quando “o governador [José Roberto] Arruda me disse q ia ‘transformar os professores em pó’. Eu lhe disse que ele iria se ver com uma categoria organizada de professores, e não iria transformar ninguém em pó.” Foi quando o governador Arruda entendeu o tamanho do Sinpro, e resolveu negociar com o sindicato.

Ataques do governo são falta de respeito à história do Sinpro

A indignação pela falta de respeito do atual governo do Distrito Federal com sindicato foi mencionada por vários dos oradores. Rodrigues, da CUT-DF, contou a história da professora Corrinha, que estava presente à solenidade: “Ela foi professora e alfabetizadora dos meus filhos. Durante o processo de alfabetização dos dois, vivemos dois momentos diferentes de greve, em especial, com o mais novo. A professora Corrinha não deixou de fazer nenhum dia de greve, e em todos os dias estava preocupada com o processo de alfabetização dos meninos. Após a greve, nos sábados letivos de compensação, em apenas três semanas, meu filho estava alfabetizado. Essa história ilustra muito bem o compromisso da categoria dos professores com a sociedade. Sempre tivemos, acima de tudo, responsabilidade com a educação pública. Portanto, os ataques do governador e da secretária por conta de uma assembleia é a demonstração de que este governo desconhece completamente a história de comprometimento do Sinpro com a sociedade.” 

Arlete Sampaio também se confessou positivamente surpresa com a capacidade de mobilização de uma categoria tão unida, que depois de dois anos de pandemia realizou uma assembleia geral repleta de profissionais do magistério.

Vigilante concluiu: “temos uma categoria organizada e um sindicato com a relevância que o Sinpro tem, então alguém precisa avisar ao governador que não se pode tratar o Sinpro com brincadeira.

Menos armas, mais livros e mais professores

Rosilene Corrêa lembrou das dificuldades atualmente vividas, resultado de um governo mais comprometido com o negacionismo e com as trevas do que com o saber e a educação. “Temos uma realidade que é a troca do papel da educação pelo da polícia. Essa simbologia é tão forte quanto triste. O presidente da república entende que, mais importante que botar uma criança na escola é botar arma na mão das pessoas. Assim como sabemos o caráter de uma sociedade pelo tratamento que ela dá a uma criança, sabemos o caráter de um governo pela forma como ele trata a educação”.

Para Rosilene, “O Sinpro é o que é porque nós, professores, somos quem faz a educação acontecer. Nossa categoria se destaca, então o sindicato não pode ser diferente”.

A diretora do Sinpro concluiu: “Somos os maiores defensores da educação pública do país. Seguiremos firmes e eu não tenho dúvida: não abriremos mão de combater o que está aí. Não vamos comungar com a política de armar as pessoas. Queremos que nossos meninos tenham um mundo mais justo”.

Sindicato de luta

A deputada federal Erika Kokay lembrou que, no ano passado, durante as manifestações contra a PEC32, o Sinpro se fazia sempre presente à frente da entrada da Câmara dos Deputados: “Fundeb, Estado laico, em todas as lutas o Sinpro esteve presente [na Câmara dos Deputados]. O Sinpro está em todas as lutas. Quando eles [o Congresso] ousaram amordaçar as escolas [na votação do projeto Escola sem Partido], o Sinpro estava lá. Eles preferem a mordaça porque têm medo da discussão das relações sociais, da consciência crítica que faz com que as pessoas se tornem de fato pessoas, e rompa o processo de desumanização imposto pela sociedade.”

 

Colaborou: Alessandra Terribili

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