Sinpro-DF repudia inquisição do Prefeito de Criciúma e exige investigação
A história do Brasil é repleta de momentos sombrios, mas nada que precedeu os tempos atuais se compara ao fascismo e terrorismo que acontecem nos dias hoje. Para além dos ataques diários do governo Jair Bolsonaro (ex-PSL) à Educação, nesta semana, a doutrinação ideológica da Lei da Mordaça vitimou mais um professor e persegue a liberdade de cátedra.
Nessa quinta-feira (26), o noticiário deu conta que, em Criciúma, Santa Catarina, o prefeito Clésio Salvaro, do PSDB, pôs na prática a ideologia do Escola sem Partido e demitiu, autoritariamente, o professor de artes da Escola Municipal Pascoal Meller porque ele exibiu o clipe da música Etérea, do cantor Criolo, para ilustrar o tema da sua aula, do dia 24/8, sobre diversidade à turma de 9º Ano.
A perseguição política e ideológica do prefeito foi mais além. Não bastou demitir. Ele divulgou um vídeo nas redes digitais para difamar moralmente e desqualificar profissionalmente o professor, insuflando a comunidade escolar a perseguir e a ameaçar o profissional. No vídeo, Salvaro chamou o conteúdo do clipe de “viadagem” e pediu para que pais de alunos denunciem atividades parecidas que ocorram em escolas da rede pública.
“Não permitimos, não toleramos, está demitido o profissional. Nas escolas do município, enquanto eu estiver aqui de plantão, isso não vai acontecer, esse tipo de atitude, essa ‘viadagem’ na sala de aula, nós não concordamos. E se os pais souberem de algo parecido que foi exposto para os seus filhos, por favor, entrem em contato com o município”, ordenou.
Escola privada suspende grupo de estudantes nazistas
Pelo que parece o fascismo do Prefeito reflete um segmento social, que parece ser minoria na cidade catarinense, e que age nas escuras. Nesta sexta-feira (27), a imprensa noticiou a existência de um grupo de alunos do 9º Ano do Ensino Fundamental de uma escola privada de Criciúma flagrados fazendo apologia ao nazismo e suspensos da escola.
As imagens foram divulgadas nas redes sociais, na quarta-feira (25/8), e mostram os alunos fazendo a saudação nazista dentro de sala de aula. A direção do colégio, o qual pertence à Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina (SATC), disse que o caso ocorreu há 3 meses, mas a escola só divulgou uma nota de repúdio, explicando que não compactua com esse tipo de atitude, nessa quinta-feira (27/8).
Na avaliação da diretoria colegiada do Sinpro-DF, não é possível deixar esse tipo de crime passar impune. No caso do professor, “o problema é grave e mostra como a “nova inquisição”, criada pelo Escola Sem Partido (Lei da Mordaça), adentra sorrateiramente o espaço escolar para doutrinar crianças e adolescentes em idades de formação da cidadania. Mais grave e criminoso ainda é isso acontecer dentro da escola pública e gratuita, que é custeada pelo dinheiro público”, observa.
A doutrinação ideológica da Lei da Mordaça (Escola Sem Partido) já tenta, há 5 anos, destruir as grandes políticas públicas de educação do Brasil e privatizar o Ministério da Educação. Recentemente, o ministro Milton Ribeiro, ligado ao grupo privado de educação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, revelou, com suas declarações contra a educação inclusiva, o quanto é grave e nocivo para o Brasil ter gestores seguidores da doutrinação ideológica do Escola Sem Partido infestando as instituições públicas e até mesmo chefiando o principal ministério do País.
A liberdade de cátedra e o prefeito de Criciúma
“O caso do professor em Criciúma, Santa Catarina, demitido por apresentar um vídeo e fazer uma discussão sobre diversidade no ambiente da sala de aula, traz para nós a evidência do momento que estamos vivendo, de truculência na gestão pública, da falta de preparo do gestor público, que demitiu, sumariamente, o profissional e criou na vida dele uma situação de perseguição individual e particular, inviabilizando, inclusive, sua permanência de moradia na cidade”, denuncia a diretoria colegiada.
Para o Sinpro-DF, não se pode admitir que, em 2021, tanto a educação pública como qualquer professor sejam vítimas de intimidação como essa que está destruindo a vida de um colega. “O professor estava debatendo com suas turmas de 8º e 9º Anos do Ensino Fundamental questões relativas à diversidade da sociedade brasileira e negar essa diversidade, se recusar a discuti-la é negar a realidade do País e a subjetividade de seu povo”, afirma a diretoria.
“A ação desse prefeito revela o avanço de um conservadorismo oportunista e perseguidor de negação da diversidade da população e da espécie humana. Ela nega a possibilidade das pessoas se expressarem livremente dentro do ambiente escolar, na comunidade e na sociedade. O Sindicato dos Servidores da Educação, em Santa Catarina, especialmente em Criciúma, tem dado conta de que o professor está se organizando para sair da cidade porque ele tem sido vítima de intimidações em sua vida privada por causa do vídeo publicado pelo gestor público em que tenta desqualificar a ação do profissional e insuflar o ódio na população contra o profissional”, denuncia Élbia Pires, coordenadora da Secretaria de Saúde do Trabalhador do Sinpro-DF.
Ela considera muito séria essa situação em que há gestores públicos, como o prefeito, que se prestem a esse tipo de desserviço e usam a prerrogativa do cargo público para intimidar, desmoralizar, perseguir e desqualificar profissionais da educação com o propósito deliberado de impedir os educadores de exercerem a liberdade de cátedra e executarem o seu trabalho de formar cidadãos e cidadãs para a convivência mútua com toda a diversidade do Brasil.
“É preciso que nós não só repudiemos a ação desse prefeito, mas é preciso que façamos o trabalho profundo de formação para evitar que ações como essa se repitam pelo País e que a gente continue a ter gestores que pensem e que podem, em nome do mandato que lhe foi concedido pela sociedade por meio de eleições livres, diretas e democráticas, impor as suas concepções preconceituosas, segregacionistas e intolerantes a toda a comunidade que ele administra”.
A diretoria colegiada do Sinpro-DF também considera a ação da Prefeitura de Criciúma antidemocrática, ditatorial, intolerante, que não respeita a diversidade da população de Criciúma e a do povo brasileiro. “Foi uma ação, acima de tudo, desumana porque provocou na vida profissional do professor um problema grave e muito sério, mas, sobretudo, na vida pessoal desse profissional uma desestruturação da sua organização e uma desestabilização da sua vida quando convoca a comunidade de fora direta e indireta a intimidá-lo, quando convoca pais e alunos a perseguirem profissionais com denuncismos, ameaças e até a ação perversa de deixar a pessoa desempregada sem condições financeiras e desamparadas economicamente”, observa.
E conclui: “Repudiamos de forma veemente o que aconteceu em Criciúma e exigimos apuração das atitudes do prefeito, que demonstrou motivos suficientes para instalação de investigação, nas Casas Legislativas do município e do estado, com perspectiva de pôr em curso um pedido de impeachment”.
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