Sinpro lança resultado da pesquisa Mulheres e Violência realizada junto às professoras e orientadoras de escolas públicas do DF

Sessenta por cento das professoras da rede pública de ensino do Distrito Federal não se sentem seguras ao andar a pé à noite nas ruas da capital do País. Contudo, para elas, o ambiente de maior insegurança é durante a comunicação direta com a família e com os próprios estudantes. Essas são algumas das conclusões da pesquisa “Mulheres e violência”, realizada pelo Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), cujos resultados a entidade lança nesta segunda-feira (8).

Realizada entre os dias 12 e 31 de janeiro deste ano, a pesquisa é uma das atividades da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Os dados foram coletados das respostas ao questionário divulgado online em que 1.553 professoras responderam. A distribuição do questionário ocorreu por meio de uma campanha realizada pelo WhatsApp e e-mail. A Secretaria de Políticas para as Mulheres também contou com uma engajada rede de apoio que foi fundamental para o alcance obtido com a pesquisa.

“O resultado da pesquisa mostra que, no geral, que entre as professoras da rede pública de ensino do Distrito Federal, tanto a violência psicológica quanto o assédio moral, agressão moral no trabalho, agressão verbal em casa e assédio nas ruas, transportes públicos e demais espaços públicos são violências de maior incidênca sentidas ou percebidas”, informa Mônica Caldeira, diretora da Secretaria de Mulheres do Sinpro-DF.

A recepção do questionário e do tema do estudo foi bastante positiva. O intuito da entidade é entender a concepção de violência de gênero da nossa categoria e perceber o que para as professoras deve ser feito para combater essa violência, algumas perguntas foram feitas sobre as diferentes formas de violência registradas na nossa legislação e o que deveria ter ser feito quanto a elas.

 

Resultados preliminares

Após sistematização das respostas, constatou-se que o ambiente de maior insegurança sentida pela mulher é na comunicação com a famílias dos estudantes e até mesmo com os estudantes:  10% NUNCA se sentem seguras para ter conversas particulares com a famílias ou com os(as)  estudantes e, 47%, disse que, RARAMENTE, sentem essa segurança nessa comunicação.

A maioria das respondentes têm idade entre 40 e 49 anos, representaram 18% das participações. A menor participação esteve na faixa etária de 20 a 29 anos que significou uma participação de apenas 3%. O objetivo da pesquisa está no fato de o Brasil ser o quinto país com o maior índice de feminicídio e, o Distrito Federal, ser uma das unidades federativas com maiores incidências desse tipo de crime e de outras violências domésticas.

A pesquisa avaliou também os ambientes do local de trabalho quanto ao sentimento de segurança da mulher. Outro ambiente de insegurança apontado pelas professoras é aquele em que a professora precisa dar a sua opinião e se posicionar, como, por exemplo, na Sala dos Professores e das Professoras: 46% das professoras disseram que, ÀS VEZES, elas sentem segurança e tranquilidade para falar e expressar opiniões diante dos colegas. Mas não é sempre.

O sentimento é observado não só no trabalho, mas em casa também: 16% das professoras disseram que, ÀS VEZES, sentem seguras e tranquilas para expressar opiniões com seus parceiros a sós. Isso se deve muito ao fato de que 38% das professoras afirmaram que não é sempre que se sentem respeitadas pelos seus(as) estudantes, e, 30%, disseram que, raramente, sentem-se seguras no local de trabalho. As professoras que responderam também se sentem inseguras no transporte público. Sobre assédio sexual, 83% delas declararam que é grave e que o Sinpro-DF precisa denunciar; 14% das respondentes declararam que isso é errado e que a vítima precisa se posicionar.

Nessa mesma metodologia, foi questionado sobre atitudes violentas para intimidar mulheres, como quebrar objetos na mulher, controlar o dinheiro e documentos, sobre violência emocional, sacudir, apertar os braços, expor a vida privada, controlar a mulher, oprimir a mulher, impedir que a mulher previna gravidez ou força-la a abortar, atos sexuais forçados, tirar liberdade de crença, fazer a mulher se achar louca.

“Todas essas situações de violência foram percebidas pelas participantes da pesquisa e o que ficou bem explícito é que a solução apontada por elas para essas situações, predominantemente, esteve em a vítima se posicionar. Em segundo lugar, a possibilidade de toda sociedade denunciar”, analisa Mônica.Ela explica que esse resultado reflete uma construção social ainda bem marcada que é a concepção de que a violência de gênero é algo do âmbito particular, da vida privada, da individualidade, da subjetividade. Um problema individual da mulher.

“Ou seja, mantém, equivocadamente, que “em briga de marido e mulher não se mete a colher. Essa concepção é uma das que pioram a situação da mulher vítima de violência doméstica. “Sim, é preciso “meter a colher” sim e denunciar. Há canais para denúncia anônima”, afirma a diretora.  Outra metodologia utilizada nas questões foi a de avaliar qual violência incide mais ao redor ou na vida das professoras da rede pública de ensino do Distrito Federal.

O relato demonstra que, nesse quesito, a violência psicológica foi presenciada por 59% das professoras; 46% foram as vítimas dessa violência. Ou seja, ela respondia se conhecia alguém que sofreu ou se ela teria sofrido. De alguma forma, a professora está em contato com essas violências, ou sabendo que ela está acontecendo com alguém, ou sendo a própria vítima.

Agressão física em casa, agressão sexual no trabalho, agressão física nas ruas, transportes etc, agressão sexual em casa e agressão física no trabalho foram VIOLÊNCIAS DE MENOR INCIDÊNICA relatadas na pesquisa, porém ainda demonstrando que ou a mulher sabe de alguém próximo que está sofrendo essas violências graves ou é a própria vítima. Ou seja, as professoras do DF convivem de algum modo com a violência de gênero e a violência doméstica.

 

Professoras desconhecem a existência de instituições de defesa e proteção da mulher

Uma das descobertas do estudo foi o desconhecimento sobre instituições do Estado criadas para defender, proteger e resguardar mulheres vítimas da violência sexista e familiar. “Para finalizar, é importante mencionar que algumas instituições existentes para prevenir, combater e proteger às mulheres nem sempre são conhecidas por elas”, informa Mônica Caldeira.

A pesquisa aponta um desconhecimento da existência e de quais são os órgãos de defesa da mulher por parte da nossa categoria: 64% das que responderam conhecem  o trabalho da  Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), mas, 33%, já ouviu falar; e, 21%, não conhece.

Das respondentes, 36% conhecem o trabalho do Centro de Referência Especializado de Assistência Social; 42% já ouviu falar, mas, 20% delas, não conhecem o trabalho. Outras 51% das professoras já ouviram falar dos Núcleos de Atendimento às Famílias Vítimas de Violência Doméstica, mas 24% não conhecem esse trabalho. Também constatou que 42% já ouviram falar do Centro de Referência de Assistência Social, mas 34% delas não conhecem esse trabalho; e 49% das professoras já ouviu falar da Casa da Mulher Brasileira, mas 31% delas não conhece esse trabalho.

“Isso indica que o acesso a esses espaços de proteção e defesa às mulheres são desconhecidos pela maior parte da nossa categoria e isso implica na sensação de insegurança ou de desamparo ou de furar a bolha da lógica de que o problema é da mulher, é da vítima. E dificulta o conceito mais humano de que a violência em torno da vida da mulher seja no trabalho ou em casa é um problema da sociedade que o produz e reproduz”, analisa a diretora.

Na avaliação dela, “a sociedade é violenta com a mulheres, então o problema é social e tem que combatido no seio da sociedade porque exigir da vítima fazer algo é mais uma forma de violência porque sem as políticas públicas garantidoras dos direitos das mulheres, o silenciamento, a individualização, a solidão, o isolamento e a responsabilização continuarão a serem obstáculos para acabar de vez com as várias violências direcionadas especificamente às mulheres e nossa categoria reflete e sente essa realidade”.

A diretoria colegiada do Sinpro-DF informa que a entidade irá discutir estratégias, a partir desta e de outras pesquisas, para combater a violência contra a mulher no local de trabalho e em casa para disponibilizar à categoria.

 

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