Sinpro-DF lança, no Dia da Consciência Negra, o projeto Vozes da Democracia

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O Sinpro-DF lançou a primeira edição do projeto Vozes da Democracia. Executado pelas Secretarias de Raça e Sexualidade e da Mulher do sindicato, o projeto reuniu, na Chácara do Professor, na manhã de quarta-feira (20), mais de 150 estudantes dos anos finais do Ensino Médio do CEF 10 e CEF 3 de Taguatinga e CEF 02 de Brazlândia.

A proposta do Sinpro-DF é pôr a iniciativa em prática com mais frequência e, em vez de realizá-la sempre na Chácara do Professor, será feita nas escolas. No dia 25 de novembro, por exemplo, o Vozes da Democracia será executado no CED 01 de Planaltina nos turnos matutino e vespertino.

“Pretendemos realizar esse projeto ao longo do ano e durante todo o nosso mandato. Ele traz estudantes de anos finais do Ensino Médio para discutirem temáticas importantes que estão no nosso dia a dia, tais como feminicídio, militarização das escolas, privatização da educação pública, etc.”, afirma Márcia Gilda Moreira Cosme, diretora da Secretaria de Raça e Sexualidade do Sinpro-DF.

A inauguração do projeto foi realizada no dia 20 de novembro por vários motivos. O principal deles é que se trata do Dia da Consciência Negra. Na atividade, essa data foi comemorada e sua carga de temas foi discutida com os(as) estudantes.

“Conversamos sobre o Dia da Consciência Negra. Afinal, a gente vive o mito da democracia racial e sabe que, de fato, é um mito: isso não acontece. Sou negra e sei bem que isso não existe porque passo por situações de racismo quase todo dia”, afirma Márcia.

A Secretaria de Mulheres do sindicato, por sua vez, aproveitou a ocasião para lançar, no meio acadêmico das escolas públicas do Distrito Federal, a campanha anual intitulada 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher e se somar às atividades do Dia da Consciência Negra para realizar uma atividade que, além de discutir os temas cotidianos que afetam estudantes da rede, denunciam a violência contra a mulher negra.

Este ano, a Secretaria de Mulheres se somou à Secretaria de Raça e Sexualidade na produção do Vozes da Democracia para trabalhar o combate ao feminicídio e toda e qualquer forma de violência contra as mulheres dentro das escolas. Juntamente com isso, também debateram o combate à LGBTQfobia, ao racismo, à intervenção militar nas escolas,  o que está gerando muita violência contra as estudantes e os estudantes.

“A gente aproveitou o dia 20 de novembro para despertar na comunidade escolar a consciência negra e fazer a luta no sentido de sensibilizar as escolas que estão tendo a oportunidade de participar do Vozes da Democracia. Vamos aos poucos fazer em todas as escolas do DF”, afirma Vilmara Pereira do Carmo, coordenadora da Secretaria de Mulheres do sindicato.

PROJETO VOZES DA DEMOCRACIA
O Vozes da Democracia é um projeto do Sinpro-DF que tem uma programação vasta, com apresentações musicais, palestras, teatro etc. Tudo para discutir temas da atualidade, relevantes e pertinentes ao dia a dia dos estudantes, professores e assistentes. Os assuntos são abordados por meio do Teatro do Oprimido, do dramaturgo, diretor e teórico de teatro Augusto Pinto Boal.

No caso do Vozes da Democracia, o Sinpro-DF usa a técnica do Teatro Fórum, em que os atores representam uma cena até a apresentação do problema e, em seguida, propõem aos espectadores que mostrem, por meio da ação cênica, soluções para o então problema apresentado. No Teatro do Oprimido há várias técnicas de ações dramáticas, dentre elas, o Teatro Fórum.

No Vozes da Democracia, o(a) estudante irá se colocar no papel daqueles(as) estudantes que estão vivenciando a militarização das escolas públicas e vão trazer soluções para esses problemas que a militarização está colocando dentro das escolas. A experiência é resultado de uma formação realizada na Universidade de Brasília (UnB) na Escola de Teatro Popular.

Daise, estudante de serviço social na UnB, apresentou uma música autoral e um pouco de seu trabalho de protesto no primeiro Vozes da Democracia. “Canto em rodas de família, em alguns projetos, na UnB e acompanho algumas ações políticas com meu canto”, disse.

Na atividade, ela cantou “A cor preta”, uma música autoral com a qual ela relata desde situações racistas que ela, amigos e amigas e familiares dela já vivenciaram. “Comecei a observar que o racismo contaminou todos os espaços e, às vezes, nem dentro de nossa própria casa a gente está protegida. Daí comecei a notar que era um problema que precisava ser abordado”, conta.

A partir dessa percepção, ela compôs a música. Ela tem 18 anos, estuda serviço social na UnB, é compositora, pianista e tem obras lançadas em inglês. “A música está presente na minha vida desde muito cedo. É uma forma que uso para me expressar, para protestar contra muitas injustiças que a gente tem neste País diariamente, como mulher, negra”.

CORPOS NEGROS E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Nesta primeira edição, o Vozes da Democracia discutiu o problema da militarização das escolas. “Com a técnica do teatro fórum, a gente busca envolver os estudantes. “Importante destacar que a militarização agride os corpos e a identidade negra porque padroniza. Não aceita o cabelo black do estudante, as tranças, enfim, querem nos colocar novamente, a gente demorou tanto tempo para criar a nossa identidade e esse pertencimento com a nossa raça e, agora, a gente vê que nas escolas militarizadas o GDF está implantando esse retrocesso”, explica a diretora Márcia Gilda.

Ela argumenta que, depois de longo tempo em que a população negra custou a ter protagonismo infantil e juvenil, sobretudo nas comunidades negras, essa população, geralmente pobre, se depara, hoje, com um retrocesso sem precedentes ao ter de ser enquadrado à força num padrão de subserviência e submissão imposto pela militarização das escolas. “A militarização é uma forma de racismo gravíssima praticada pelo Estado e pela Polícia Militar”, declara a diretora do sindicato.

ABRAÇO NEGRO E 21 DIAS DE ATIVISMO
A atividade abrangeu também a inauguração deste ano da campanha mundial intitulada 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher e uma prévia do dia 25 de novembro, Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher.

No dia 25/11 – Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher – será realizado, em Brasília, a partir das 16h, um ato semelhante ao do Dia Internacional da Mulher (8 de Março), com mulheres de vários coletivos, grupos, organizações, que irão às ruas para cobrar políticas públicas de combate a violência contra a mulher dos governos federal e distrital, uma vez que esse tipo de violência tem aumentado assustadoramente a cada dia no DF.

Diferentemente dos outros países, que lançam a campanha do ativismo no dia 24 de novembro e culmina no dia 10 de dezembro, no Brasil, a campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, começa no dia 20 de novembro por causa da violência contra a mulher negra e do Dia da Consciência Negra. Por isso, é o único país que a campanha tem o nome de 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher.

No fim da primeira edição do Vozes da Democracia, houve também o Abraço Negro. Professores, diretoras do Sinpro-DF e estudantes saíram de dentro do Espaço Chico Mendes da Chácara do Professor de mãos dadas e realizaram o ato simbólico do Abraço Negro do lado de fora do prédio.

“Todo ano o desfecho do Abraço Negro ocorre no dia 20 de novembro. Trata-se de um projeto da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação [CNTE] adotado pelos sindicatos filiados a ela que se inicia em março e culmina no dia 20 de novembro”, informa Márcia.

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