Sinpro-DF lamenta, com tristeza, morte de dom Pedro Casaldáliga

Inspirada por seu testemunho, seus sonhos e sua sede de justiça, a diretoria colegiada do Sinpro-DF lamenta o falecimento e se despede, com imensa tristeza e pesar, de dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia. Seu corpo foi sepultado, às 10h, desta quarta-feira (12), no Cemitério Iny (Karajá), à beira do Rio Araguaia, em São Félix do Araguaia, Mato Grosso, cidade que o adotou como filho pródigo, quando ele se mudou para lá, em agosto de 1970, aos 76 anos.

Radicado no Brasil desde 1968, ele nasceu com o nome Pere Casaldàliga i Pla, em Balsareny, Província de Barcelona. Filho de agricultores, Casaldáliga morreu aos 92 anos, no sábado (8), em Batatais, interior de São Paulo. Internado desde o dia 4/8 para cuidar de um derrame pulmonar, o bispo sofria do mal de Parkinson, o que contribuiu para o agravamento. Durante a internação, foram feitos quatro exames para detectar a contaminação por covid-19 e todos deram negativo. O religioso respirava por aparelhos e recebia alimentação por uma sonda.

Foi ele mesmo que pediu para ser enterrado no “Cemitério Karajá”, local em que foi felado desde às 18h, de terça-feira (11), e no qual eram sepultados indígenas e trabalhadores sem-terra explorados, geralmente, assassinados pelos grileiros de terras da região. Incansável contra o latifúndio e em favor da reforma agrária, foi a voz ativa e altiva contra a situação dos trabalhadores e indígenas da região de São Félix do Araguaia, onde está localizada a Terra Indígena (TI) Xavante-Marãiwatsédé e um dos cenários da Guerrilha do Araguaia, uma luta armada contra a ditadura militar que ocorreu nos anos de 1960 e 1970, massacrada pelas Forças Armadas brasileiras sob o comando dos Estados Unidos da América (EUA).

Defensor da Teologia da Libertação e das minorias e um dos principais críticos da ditadura militar, dom Pedro foi uma das primeiras pessoas a denunciarem ao mundo o trabalho escravo existente no Brasil do fim do século XX e do início do século XXI. Ameaçado pelos militares de expulsão do Brasil, só não o foi por intervenção do Papa Paulo VI. Ajudou a fundar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Certa vez disse à imprensa que “gostaria muito que as autoridades revisassem a decisão da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre a demarcação de terras porque, do contrário, pode ser criada uma nova ordem de insegurança em várias regiões do País”.

De sua modesta casa, situada às margens do Rio Araguaia, o religioso coordenava as ações de defesa dos indígenas e apelava às autoridades para evitar a opressão e o domínio das reservas, as quais o governo Jair Bolsonaro ataca de todas as formas com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, “passando a boiada” nas TI: desde intenso desmatamento até vistas grossas à grilagem, aos assassinatos de lideranças indígenas, privatização de unidades de conservação, entre outros desmontes do Estado brasileiro.

A história das últimas cinco décadas de São Félix do Araguaia é indissociável da figura e do protagonismo do religioso catalão. Ele foi o primeiro bispo da Prelazia de São Félix e ficou conhecido, internacionalmente, por defender os direitos humanos, especialmente dos povos indígenas e marginalizados, e também por seus posicionamentos políticos e religiosos em favor dos mais pobres. Poeta e escritor, era também a voz da resistência na poesia e autor de várias obras sobre antropologia, sociologia e ecologia. Manteve sua vivacidade e espírito combativo até os últimos momentos de sua lucidez. Seu lema na atividade pastoral era “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar”. Dom Pedro Casaldáliga, presente!

 “Por meu povo

em luta, vivo

Com meu povo

em marcha, vou

Tenho fé de guerrilheiro

e amor de revolução.“

Dom Pedro Casaldáliga