Seminário da CUT Brasília acirra luta pelo Fora Temer

Nessa segunda-feira (30), a CUT Brasília deu início ao Ciclo de Seminários Resistir Sempre, Temer Jamais, que tem o objetivo de intensificar e ampliar a organização da luta contra o golpe de Estado. O primeiro debate teve como tema o “Projeto Temer – Ameaça aos Direitos Trabalhistas e Conquistas Sociais”. A atividade, que contou com a participação de representantes de todos os mais de 100 sindicatos filiados à Central, foi realizada durante todo o dia, no Clube dos Comerciários, no Gama.
“Este seminário cumpriu o papel de trazer mais informações aos dirigentes sindicais para que eles possam aprimorar o debate junto às suas bases, mostrando os malefícios e os riscos que esse governo golpista apresenta. Governo este que tenta implementar a segunda etapa do golpe, que é a retirada de direitos da classe trabalhadora e as conquistas sociais para aumentar a lucratividade dos banqueiros, do empresariado, dos ruralistas e daqueles que exploram a população brasileira. Os golpistas correm agora para aprovar projetos de lei e outras propostas que trazem prejuízos incalculáveis à sociedade, a classe trabalhadora. Por isso, é importante essa nossa preparação para organizar a resistência e, com luta, barramos os ataques e restabelecermos a democracia com a retirada de Michel Temer, que invadiu o Palácio do Planalto através do golpe de Estado”, explica o presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto.
A destituição do  interino e ilegítimo Temer, ideia impulsionada no seminário dessa segunda, não tem como premissa interesses escusos e pessoais ou apenas uma rixa político-partidária, mas a ameaça real deste governo golpista aos direitos conquistados em todos os setores sociais e um retrocesso de décadas. Desde que assumiu a principal cadeira do Executivo federal, ainda que temporariamente, Temer, em menos de 20 dias, extinguiu ministérios-chave para a promoção da igualdade social e anunciou medidas de caráter retrógrado e neoliberal e se mostram o avesso de qualquer progresso.
“Todas as medidas econômicas que estão sendo anunciadas apontam para mais recessão, para mais desemprego, pois é um desenvestimento. Ele (Michel Temer) quer falsamente sanear demais de uma hora para outra, e os trabalhadores vão pagar muito caro por isso. Além das medidas econômicas, há o apoio deste governo a outras medidas que vão retirar direitos dos trabalhadores”, afirma Lilian Arruda Marques, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que participou do seminário da CUT, nesta segunda.
Segundo ela, os ajustes que querem ser implementados em cima dos trabalhadores, inclusive dos aposentados, aumentam a desigualdade social e retrocedem na distribuição de renda. “Se paga muito ao setor financeiro; mais de 45% do que é arrecadado no Brasil vai para pagamento dos juros e amortização da dívida externa, e ainda querem tirar parte da Previdência”, enfatiza Lilian Marques.
O assessor técnico do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Neuriberg Dias, explicou durante o seminário que a pauta de Temer foi abraçada pela maioria do Congresso e vem sendo implementada através de projetos de lei e outras medidas que passam pelo aval do  Congresso Nacional, com grande maioria de parlamentares conservadores e golpistas. “A Câmara e o Senado estão votando projetos de lei sem o devido debate, de forma açodada, sem fazer uma consulta com seus eleitores, com a sociedade. Isso é produzido por um sistema eleitoral baseado no financiamento empresarial, sem base nenhuma ideológica e programática”, avalia.
Ele ainda afirma que “há uma convergência de pensamento entre o governo Temer e o Congresso conservador”, o que inviabiliza a pauta da classe trabalhadora. “Não temos número para encaminhar temas do nosso interesse”, informa Neuriberg Dias.
Além da sintonia com o Legislativo, o governo golpista Temer também se alinha ao interesse do mercado/empresários e, para pagar a conta do golpe, tenta empurrar goela abaixo dos brasileiros proposições como a precarização generalizada do trabalho, a terceirização indiscriminada e ilimitada de todos os serviços, a privatização das estatais e dos serviços públicos, o ataque aos direitos trabalhistas (diminuição de férias, 13º salário e outras propostas previstas também no PL 450/2015, que prevê o Simples Trabalhista), aumento da idade para se aposentar, redução dos benefícios previdenciários, reforma sindical sem a participação da classe trabalhadora e várias outras questões.
“A maioria dos projetos está na Comissão de Trabalho da Câmara, que tem uma composição menos pior. Entretanto, os parlamentares querem usar muito o pedido de urgência para tirar da comissão e levar direto ao plenário da Casa (onde está configurada uma maioria conservadora esmagadora), e aí fica mais difícil para a gente agir”.
Mentira tem perna curta
Parcela considerável da sociedade brasileira, por convicção ou alienação, saiu às ruas para pedir o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Fora os conservadores extremistas (como os que se levantavam em favor da volta da ditadura) e a direita organizada, parte do público buscava, ainda que de forma equivocada, um Brasil melhor. Para o deputado federal do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta (PT), essas pessoas agora mostram “arrependimento e vergonha”.
“Alguns imaginavam que um novo governo seria ainda mais rigoroso na luta contra a corrupção e, quando eles viram, o Temer tinha nomeado metade dos ministérios com pessoas envolvidas em todo tipo de irregularidade. Outros foram às ruas porque acham que o Brasil tem muito imposto, e a primeira entrevista do Meirelles (Henrique Meireles, atual presidente do Banco Central) foi para defender a volta da CPMF e o aumento dos impostos. Outros acreditavam que era preciso um ministério de notáveis e, pela primeira vez, desde Geisel, nós temos um ministério só de homens ricos, brancos e sem representatividade, que extinguiu o Ministério da Cultura, que extinguiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Ministério da Igualdade Racial. Então ele (Temer) decepcionou muita gente que, agora, percebe o erro que cometeu. E essas gravações que vieram à tona (que escancaram a conspiração golpista) acabaram com qualquer ilusão. Alguns acharam que o Eduardo Cunha era o único que tinha interesses escusos e criminosos. Agora, está claro que o impeachment foi usado como moeda de troca para ganhar voto de deputados e senadores, oferecendo proteção (contra o Lava Jato e outras investigações), em um esquema típico de máfia”, diz o parlamentar, que também participou do Seminário “Projeto Temer – Ameaça aos Direitos Trabalhistas e Conquistas Sociais”, nessa segunda (30/5).
“O fascismo que estava calado por uma democracia formal vem com a força de uma correnteza”, ilustra a deputada federal Erika Kokay (PT-DF).
Durante o seminário, os parlamentares lembraram que “o tempo é curto” para tentar interromper o golpe em curso. “O Temer quer ir à abertura das Olimpíadas como presidente, não como interino”, afirma Pimenta. Ele diz que, por isso, a intenção é de finalizar a segunda parte do processo de impeachment no Senado até o final de julho. Nos bastidores, as informações são de que o julgamento da presidenta poderá ser feito no dia 2 de agosto, bem antes do prazo máximo de 180 dias estabelecido na Constituição para finalizar o processo de impedimento.
A força da classe trabalhadora
Na atividade dessa segunda-feira (30/5), a secretária nacional de Relações do Trabalho da CUT, Graça Costa, voltou a afirmar que “o golpe não é contra a presidenta ou o PT, mas contra o avanço dos direitos humanos, sociais, da classe trabalhadora”. Para ela, a única maneira de barrar esse golpe é com uma greve geral.
“Vamos parar nossas atividades até chegarmos à greve geral. Vamos parar o país e derrubar esse golpe de vez. Só vão nos ouvir quando pararmos tudo”, alerta a sindicalista. Ela informa que este processo vem sendo construído diariamente e terá como um dos marcos uma paralisação nacional no dia 10 de junho.
Outros seminários
O presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto, lembra que haverá outros seminários formativos promovidos pela CUT Brasília, que serão casados com a luta cotidiana nas ruas. “Teremos o Seminário de Organização Sindical, com o tema “Organizar para resistir e avançar”, onde estaremos discutindo a construção de uma greve geral, caso permaneça a possibilidade de retirada de direitos da classe trabalhadora. Também teremos o Seminário de Finanças, o Jurídico e o de Previdência, uma vez que vários trabalhadores poderão ser prejudicados, seja com a instalação de uma idade mínima de 65 anos para a aposentadoria; com a desvinculação da aposentadoria ao salário mínimo, ou seja em relação aos trabalhadores rurais, que também correm o risco de ser penalizados”, diz Britto.
Fonte: CUT Brasília