Sem férias, sem salário e sem 13º, professores(as) acampam na Praça do Buriti

O movimento que começou na sexta-feira (9) permanecerá até o governo pagar o que deve à categoria. As lideranças sindicais alertam que somente com a presença massiva dos profissionais do magistério nas mobilizações poderá assegurar o pagamento, nesta semana, dos salários e dos outros direitos devidos.
No setor de Educação, toda a categoria está sem receber os vencimentos. Ou seja, mais de 50 mil docentes efetivos(as) e temporários(as) estão sem o salário de dezembro. Os aniversariantes de dezembro não receberam o 13º e os(as) que fizeram aniversário entre janeiro e agosto  não receberam as diferenças de 13º  procedentes do reajuste de setembro.
Os(as) temporários(as) aguardam ainda o pagamento da rescisão de contratos e todo o conjunto da categoria está na expectativa do pagamento do um terço de férias. É a primeira vez que o GDF atrasa salário por tanto tempo. É também a primeira vez que o atraso do 13º extrapola o quinto dia útil de janeiro. A situação é grave. Em várias famílias de docentes, em que marido e mulher são servidores públicos da Educação, os problemas se multiplicam. “Se o GDF não me pagar nesta semana, eu e minha mãe passaremos graves necessidades”, denuncia a aposentada da Secretaria de Educação, Ana Elias.
Ana está no acampamento desde que a CUT-Brasília e o Sinpro-DF convocaram os(as) servidores(as). Ela conta que está com sérias dificuldades para pagar os remédios e os tratamentos da própria mãe. “Além de muito idosa, minha mãe é deficiente e eu preciso do dinheiro para pagar remédios, alimentação, o tratamento contínuo e outras despesas essenciais dela. Sou arrimo de família. Também tenho despesas com remédios comigo mesma”, desabafa.
Ela diz que, embora aposentada há 4 anos, não perde nenhuma mobilização. “O aposentado tem de ter a consciência de que a aposentadoria não invalida a participação dele nas atividades do Sinpro, principalmente quando tem movimento reivindicatório, porque o nosso sindicato luta, mas a gente tem de saber pelo que o sindicato está lutando”, analisa.
O professor temporário Alessandro Rodrigues lecionava matemática do Centro Educacional 2, do Guará. Ele também está no acampamento desde sexta-feira. “Estou aqui representando os(as) professores(as) temporários(as)”. Ele conta que assim como ele, os temporários estão passando por uma situação de desamparo total.
“A minha situação, por exemplo, é muito conturbada. Não é fácil estar com a família no fim do ano e não poder proporcionar a ela as festas de Natal e de Ano Novo adequadas e, agora, também as férias prejudicadas. Além de tudo isso, tem a situação do próximo contrato temporário. A gente fica naquela incerteza de quando será efetivado, se seremos chamados. Até agora só tivemos notícias ruins e não esperamos muita notícia positiva”, conta. Ele arrisca uma aposta no bom senso e assegura com esperança: “Neste caso, do pagamento do salário, acredito que o governador será sensato, não só com relação ao salário, mas também relativamente a todos os benefícios para não agredir ainda mais a categoria dos professores”.
Aparecida, professora da Escola Classe 01 do Porto Rico, em Santa Maria, diz que “se as regras de aposentadoria não mudarem novamente, pretendo me aposentar”. Ela está a dois anos de conseguir a aposentadoria. Mas, enquanto isso, participa das mobilizações. No acampamento desde a primeira hora de convocação, ela afirma que nunca furou uma única greve e também nunca viu um atraso tão grande no pagamento de salário.
“É a primeira vez que vejo isso. Na minha família, somos seis pessoas e todas professoras da Secretaria de Educação. Estamos quase no desespero. A gente fica revoltada quando tem mudanças de governo e acontece esse tipo de coisa. Estou há 25 anos no GDF e nunca vi algo semelhante acontecer. Só me lembro de uma vez no governo Roriz que as férias atrasaram dois, três dias. Não me lembro dessa confusão. Nunca houve um caos como este que está acontecendo agora GDF. Não me lembro de isso ter acontecido. É a primeira vez que ocorre de o salário do mês atrasar tanto”, diz a professora.
Pela primeira vez GDF atrasa salário do mês e realiza modificações arbitrárias no calendário escolar
Maria Alves está há 17 anos atuando como professora efetiva na Secretaria de Educação. Desde sexta, ela está no acampamento da CUT-Brasília, na Praça do Buriti. “Em outros governos tivemos atraso de pagamento, mas era coisa de dois, três dias de atraso. Do jeito que está acontecendo, eu nunca vi. O governo Agnelo pagou o nosso salário em dia até o mês de novembro de 2014 e, muitas vezes, chegamos a receber com antecedência. É a primeira vez que vivemos uma situação tão caótica. Coisa parecida só aconteceu com o pagamento de férias que em todo governo temos de chamar o Sinpro para nos ajudar todo ano, ainda assim, dois, três dias após o vencimento as férias, o dinheiro já estavam na conta corrente da gente”, afirma.
Recém-chegada na Secretária de Educação e no movimento docente, Letícia Montandon ingressou na carreira, há seis meses. Veio de Caldas Novas com o marido e filha para assumir seu cargo de professora efetiva no Córrego Barreiro, na Ponte Alta do Gama. Com sérias dificuldades financeiras em razão da falta dos pagamentos, ela mandou a filha de 15 anos para a casa dos pais a fim de aliviar a despesa e se precaver para a garota não passar por necessidades.
“Passei no concurso em junho de 2014. Não esperava atravessar uma situação dessas. Saí da minha cidade contando apenas com o meu salário porque, em virtude do pouco tempo de Distrito Federal, o meu marido ainda não conseguiu colocação no mercado de trabalho. O meu salário é o único de minha casa”, conta.
Letícia está no acampamento desde sexta-feira e diz que está preocupada com o problema do banco. “A minha situação é bem complicada. Entrei no meu cheque especial e estou pagando juros do cheque especial desde o dia 8 de janeiro, que seria o quinto dia útil e o dia do pagamento. O salário iria cobrir os juros, mas não foi isso que aconteceu. O meu banco não é o BRB. O meu banco é o Itaú porque fiz a portabilidade. A situação é de contas atrasadas, coisas que faltam comprar em casa. É difícil. Foram as piores férias da minha vida”, afirma a professora.
O fato é que, pela primeira vez, o pagamento do 13º dos aniversariantes de dezembro sofre atraso tão longo. Nunca havia extrapolado o quinto dia útil de janeiro. O longo período de atraso do salário do mês é também fato inédito. Nunca a categoria docente ficou tantos dias sem salário. Em outros governos passados houve atraso de férias. Em 2007, por exemplo, a categoria viveu a experiência de ter o pagamento das férias atrasado, porém, a Justiça foi acionada e o GDF pagou a todos(as) no dia 22 de janeiro. Outra experiência nova foram as mudanças unilaterais e agressivas promovidas no calendário escolar, prejudicando todo o planejamento pedagógico de 2015.