Se trabalhadores não reagirem à terceirização, virá porrada, adverte Belluzzo

“Precisamos pensar em uma forma de organização que nos proteja desse Moloque insaciável que é a terceirização.” Foi com essa afirmação que o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor aposentado da Unicamp e diretor da Facamp, deu início à mesa sobre “O capitalismo contemporâneo e seus impactos na regulação do trabalho”, no seminário “A Terceirização no Brasil: Impactos, resistências e lutas”, realizado em Brasília nesta quinta e sexta-feira (14 e 15), em Brasília.
(Moloque é o nome do deus ao qual os antigos amonitas que habitavam o Oriente Médio sacrificavam suas crianças recém-nascidas, jogando-os em uma fogueira, e posteriormente também se transformou em um demônio na tradição cristã e cabalística).
Belluzzo fez uma retrospectiva histórica sobre a dinâmica das mudanças econômicas mundiais e de organização no mundo do trabalho, que desembocaram na desregulamentação iniciada nos anos 1980, marco do neoliberalismo, “com desoneração fiscal para o grande capital, liberalização do sistema financeiro, que gerou uma farra geral ao emprestar de maneira sem limites para a valorização financeira.
Belluzzo definiu capitalismo atual, globalizado e neoliberal, como “o cruzamento da mula sem cabeça com o bicho preguiça”, onde o mercado financeiro superou o mercado produtivo e as empresas, para alcançar os resultados cada vez maiores em prazos mais curtos, adotam práticas “fáceis, mas que não fazem o menor sentido”.
O resultado disso foi uma redução de 10 pontos percentuais dos salários nos Estados Unidos e na Europa nos últimos anos, em razão da fuga das empresas para a Ásia, explosão do lucro financeiro, endividamento crescente e flexibilização do mercado de trabalho.
“É um desastre social, um verdadeiro massacre dos direitos e conquistas trabalhistas e fim do estado do bem-estar social na Europa, com reação pífia dos trabalhadores. É assim que funciona o capitalismo. Vamos ganhar competitividade e flexibilizar o mercado de trabalho. Foram criadas as condições para enfraquecer os sindicatos e os trabalhadores. Sabe o que isso significa? Descer a porrada em cima de vocês”, concluiu Belluzzo.
Resposta é ir pra rua
Representante do Movimento Humanos Direitos (MHUD) e debatedor da mesa, Ricardo Paiva afirmou que o poder econômico sempre vai abusar do trabalhador. “A única coisa que o trabalhador pode fazer é se sindicalizar e ir pra rua”, avaliou.
Paiva reafirmou ainda aquele que é entendimento de todos os representantes dos trabalhadores: a terceirização precisa ter limite. “Terceirizar é uma forma de escamotear o trabalho do outro. É preciso acabar com isso”, enfatizou.
A coordenadora da mesa, professora Magda Barros Biavaschi, condenou a “ação predatória do capitalismo, que tem em uma de suas faces a terceirização”. Ela destacou os pilares do Fórum Nacional Permanente em Defesa dos Direitos dos Trabalhadores Ameaçados pela Terceirização, realizador do evento.
“A terceirização mata, discrimina e desiguala. O capitalismo sempre dá um jeito de saciar sua sede insaciável por riqueza abstrata e nós, trabalhadores, precisamos nos mover contra isso”, concluiu.