Semana do Cerrado: reflexão e defesa do bioma mais ameaçado do Brasil

Um terço do Bioma Cerrado foi extinto para dar lugar à pastagem e ao agronegócio. Uma pesquisa do Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgada em julho deste ano, mostrou que o Cerrado é o bioma mais ameaçado do Brasil e que o avanço da agropecuária somado às regras ambientais mais permissivas e à menor porcentagem de áreas protegidas explicam o aumento dos índices de desmatamento.

Nesta terça-feira (5/9), o Distrito Federal e sua rede de ensino dá início às atividades de comemoração à Semana do Cerrado. O desmatamento é um dos piores problemas que o bioma enfrenta e se intensifica ano após ano. Diante dessa situação, a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) aprovou e instituiu, em janeiro do ano passado, a Lei n° 7.053/2022, de autoria do deputado Chico Vigilante (PT), que inclui a Semana do Cerrado, já prevista nas Leis nº 1.417/1997 e nº 4.939/2012, no calendário letivo da rede de ensino do Distrito Federal.

A iniciativa contou com a participação de um grupo de educadores e educadoras ambientais e com o apoio do Sinpro-DF. Com essa lei, além de a Semana do Cerrado ter sido incluída no calendário letivo da Rede de Ensino do DF, passou a fazer parte do Currículo em Movimento que trata da Educação para a Sustentabilidade, passando a ser realizada, anualmente, entre os dias 5 e 11 de setembro, culminando com o Dia Nacional do Cerrado (11/9).  Para o Sinpro, é importante que a discussão sobre esse tema ocorra ao longo do ano letivo e de forma transversal.

“A Semana do Cerrado previsto nas escolas do DF de 5 a 11 de setembro, instituído por lei distrital, é uma grande oportunidade para que a comunidade escolar aborde a temática desse importante bioma que é o Cerrado. Permite realizar iniciativas de sensibilização e de informação de conscientização sobre o bioma, por meio de painéis, seminários, palestras e outras ações educativas”, afirma Raimundo Kamir, coordenador da Secretaria para Assuntos de Políticas Sociais do Sinpro-DF.

Ele lembra do fato de que no Brasil, país com dimensões continentais, não é somente a cultura do povo que é diversa, mas a biodiversidade também, além de ser extraordinária. “Nossos biomas são formados pela maior floresta tropical úmida do mundo; pela maior planície inundável, o Pantanal; pelas florestas semiáridas da Caatinga; pelos campos dos Pampas; pela floresta tropical pluvial da Mata Atlântica; e pelas ricas savanas e bosques do segundo maior bioma em extensão, o Cerrado. No entanto, o desmatamento descontrolado do cerrado, o contrabando de suas espécies e as queimadas ameaçam e podem levar, dessa maneira, à extinção da sua da fauna e flora, e consequentemente tornar a região inviável para habitação”.

Professor de artes e diretor do Sinpro, Kamir vê a lei que cria a Semana do Cerrado (5 a 11/9) e o Dia do Cerrado (11/9), bem como a inserção dessas datas e desse tema no calendário letiv como uma conquista importante para a conscientização de crianças, adolescentes e adultos. “É fundamental que haja, nas escolas, uma política de educação ambiental permanente sobre essa temática, com o fortalecimento da pedagogia da alternância das escolas do campo, a qual leva em conta o meio em que a comunidade está inserida para a formação dos estudantes”.

Iolanda Rocha, ex-diretora do Sinpro, professora da rede pública de ensino do DF e militante socioambientalista, considera a Lei n° 7.053/22 um avanço incontestável. “Entendo que foi um ganho muito grande para essa discussão aqui na região do cerrado. O Dia do Cerrado, que é 11 de setembro, já existe. Daí que incluir uma semana inteira no Calendário Escolar é importante que todas as escolas do Distrito Federam venham a debater essa questão; que o Sindicato dos Professores e o Governo do Distrito Federal (GDF) invistam nesta divulgação para que todas as escolas trabalhem como o tema da Semana do Cerrado nas suas atividades pedagógicas”.

Ela destaca a importância de as escolas desenvolverem projetos que coloquem o Cerrado como tema transversal durante todo o ano e não somente na semana do dia 5 a 11 de setembro. “Quando se trata de água, povos indígenas, agroecologia enfim, tem de colocar o cerrado em todos os aspectos. O Bioma Cerrado é fundamental para a sobrevivência dos povos, para os recursos hídricos do Distrito Federal e em todos os municípios existentes dentre do Bioma Cerrado”.

O Sinpro-DF valoriza o debate acerca da Semana do Cerrado e do Dia do Cerrado no calendário letivo e também na ação sindical. Para além da luta contrativista da nossa categoria, o sindicato também tem essa responsabilidade socioambiental com o Bioma Cerrado. Entendemos que estamos incluídos neste bioma e precisamos ampliar não só a discussão sobre preservação ambiental, mas, principalmente intervir diretamente, por todos os meios, na conscientização da importância do cuidado com o Cerrado que um bioma único no planeta: não existe outro igual.

No entendimento da diretoria da entidade, a educação é o caminho para conscientização sobre o direito à vida dos povos, da fauna e da flora de ter o Bioma Cerrado preservado, livre de monoculturas destruidoras, afinal, dentre outros muitos motivos, a região é comprovadamente, o berço das águas do Brasil – oito das 12 principais bacias hidrográficas nascem no Cerrado – e, ainda assim, mesmo sabendo da importância de sua preservação, o Cerrado é o bioma mais ameaçado do país.

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