Saúde mental | Ataques às escolas ampliam debate sobre investimento em suporte psicológico

O país ainda discute formas de prevenção e o combate a atos de violência contra as comunidades escolares que cresceram nos últimos 21 anos. De acordo com estudo do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, ao menos 23 escolas do Brasil foram vítimas de ataques desde 2002, com 36 mortes e a perda de 24 estudantes, cinco professores, outros dois profissionais de educação e cinco alunos e ex-alunos, responsáveis pelos ataques. 

Ao mesmo tempo em que buscam por repostas, organizações em defesa das escolas públicas, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) cobram medidas imediatas.  Entre elas, a ampliação do investimento em programas que oferecem apoio psicológico tanto para tratar casos em que se identifica um potencial agressor, quanto para cuidar dos estudantes e profissionais dos colégios que seguirão a conviver no ambiente onde houve um ato terrorista.

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Segundo mapeamento realizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e pelo Instituto Ayrton Senna apresentado em 2022, 70% dos estudantes e das estudantes da rede estadual apresentam sintomas de depressão e ansiedade. Ainda de acordo com a pesquisa, 5,7% apontaram conviver com situações de violência psicológica frequentemente e 3,8% disseram presenciar violência física em casa com muita frequência.

Alerta contra ataques

O cenário de violência pode ser ainda pior, caso não exista uma resposta imediata. De acordo com a Polícia Civil do Estado de São Paulo, houve um aumento no número de planos de possíveis ataques após o atentado contra a Escola Estadual Thomazia Montoro, na capital paulista, no último dia 27, e aos menos 279 planos de ataques foram identificados em apenas uma semana.

A corporação frustrou dezenas de possíveis atos violentos em escolas em 11 e 12 de março, quando agentes cumpriram sete mandados de busca e apreensão nos municípios de São José dos Campos, Caçapava e Tupã, com a prisão de três adolescentes e a apreensão de celulares, facas, máscara e chips de telefonia.

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Apesar da gravidade da situação, em muitos estados, como São Paulo, o suporte psicológico foi encerrado, como ocorreu no início da gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que suspendeu em fevereiro, na rede estadual paulista, o programa Psicólogos na Educação, que prestava serviços de assistência a saúde mental. Em muitos estados e cidades este tipo de programa nunca existiu.

Para a editora do site El Coyote, Letícia Oliveira, que monitora grupos de extrema direita há 11 anos, o combate aos discursos e aos grupos que incentivam discursos de ódio precisa ocorrer em várias frentes para que se obtenha sucesso.

“Quando falamos sobre cooptação, devemos considerar não só os grupos organizados de extrema-direita, mas também o discurso, que já é uma forma de enredar esses adolescentes que se sentem acolhidos. Há um componente de saúde mental forte, mas é um problema que é multifatorial. Isso vai desde a ampliação do acesso de crianças e adolescentes ao discurso durante o período da pandemia, quando a socialização diminuiu e perdemos mediadores presenciais que poderiam rebater esses valores, até o processo de imitação que ocorrer a partir da divulgação de vídeos e das terroristas que podem contribuir para pessoas que tenham gatilhos emocionais e psiquiátricos para a violência”, analisa.

Saúde mental em destaque

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é “um estado de bem-estar mental que permite às pessoas lidar com os momentos estressantes da vida, desenvolver todas as suas habilidades, aprender e trabalhar bem e contribuir para a melhoria de sua comunidade”.

Uma situação contrária ao que se tem visto nas escolas a partir da desvalorização dos profissionais da educação e da introdução de projetos como o Escola Sem Partido, que persegue professores e ataca a autoridade em sala de aula, que enfrenta dificuldades de discutir questões como o respeito à diversidade.

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Dados do Departamento de Análise de Dados do Sistema Único de Saúde (Datasus), apontam que o total de óbitos por lesões autoprovocadas dobrou nos últimos 20 anos, passando de 7 mil para 14 mil. Dados anteriores à pandemia já indicavam episódios depressivos como a principal causa de pagamento de auxílio-doença não relacionado a acidentes de trabalho, correspondendo a 30,67% do total, seguida de outros transtornos ansiosos (17,9%).

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, com 2,6 mil pessoas, revelou em outubro de 2022 cenários elevados de insuficiência de atividade física (67,2%), depressão (19%), ansiedade (30%), insegurança alimentar (33,3%) e persistência de sintomas pós-infecção (75%), a Covid longa. 

SOS

O primeiro passo para descobrir o melhor caminho para o atendimento e obter ajuda é procurar uma unidade de atendimento médico no bairro por meio de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

Em muitos estados, as universidades públicas prestam serviços gratuitos de atendimento psicológico. 

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