Quando 18 não é o dobro de 9

Um jornal brasiliense de grande circulação estampou em sua capa impressa: “Servidor do GDF terá reajuste de 18%. União fecha em 9%.”

Esse título dá a entender que o aumento do GDF é o dobro do oferecido pela União. Mas, na prática, não é. E a manchete do jornal induz o leitor a interpretar errado uma informação.

O texto-legenda, logo abaixo da manchete, não ajuda a desabonar a má-conduta do título: “Cerca de 220 mil funcionários do Executivo local devem receber nos contracheques de julho, com pagamento em agosto, a primeira de três parcelas de 6% do aumento salarial de 18%, a ser quitado até 2025.”

O reajuste real e imediato, no contracheque, é de apenas 6%, a ser dividido em 3 parcelas anuais. O reajuste oferecido pela União, nos contracheques de maio a serem pagos em junho, de acordo com informações do próprio jornal, é de 9% – três pontos percentuais a mais.

O reajuste da União, portanto, chega um mês antes do reajuste distrital – e já foi aprovado com as centrais sindicais. É o primeiro reajuste do funcionalismo federal desde 2016, e ocorre logo no primeiro ano da nova gestão federal. Além dos 9%, o auxílio alimentação federal recebeu reajuste de R$ 200, passando de R$ 458 para R$ 658. A negociação com as centrais sindicais e o Governo Federal começou em fevereiro, e em dois meses rendeu resultados concretos.

Mas o texto-legenda da capa do jornal em questão continua, com a declaração do governador Ibaneis Rocha: “Tinha o compromisso desde a eleição passada de conceder um reajuste mais do que merecido. Na gestão passada, honramos o pagamento da terceira parcela do reajuste e agora vamos conceder o aumento.”

A declaração de Ibaneis leva o leitor mais distraído a inferir que ele agiu por iniciativa própria. Mas a realidade traz outros elementos que demonstram que a benevolência do governador foi juridicamente motivada: a primeira gestão Ibaneis se iniciou em 2019 e, em quatro anos de mandato, o reajuste não foi concedido em momento algum. Então, assumir o compromisso de reajuste durante a campanha pela reeleição não é bondade. Nossa categoria está há 8 anos sem correção nenhuma nos salários, e com importantes perdas inflacionárias.

O “reajuste honrado da terceira parcela” mencionado pelo governador é uma história que carece de elementos para ser contada por completo: em decisão unânime, o TJDFT determinou em março de 2021 que Ibaneis concedesse imediatamente a última parcela do reajuste conquistado pela categoria em 2012; o governador não concordou e, em setembro de 2021, ingressou no STF contra o reajuste. O STF negou o pedido de Ibaneis, obrigando o governador a “honrar o pagamento da terceira parcela do reajuste”. A benevolência do governador foi juridicamente motivada. Com ares supremos.

Então, nem sempre 18 é o dobro de 9. Mas reajustes salariais que atendam plenamente às demandas de uma categoria só vem depois de muita luta.

Assembleia Geral dia 26 de abril, com indicativo de greve. Compareça.