Projeto do CEF 27 de Ceilândia mira no reconhecimento da potência do povo preto

O desejo de um coletivo de professores do CEF 27 de Ceilândia de abordar a temática racial ao longo do ano com estudantes deu origem ao projeto “Isso é Coisa de Preto”. O objetivo é resgatar o orgulho negro e valorizar o protagonismo desse povo, que no curso da história teve sua potência atacada, sua cultura explorada e sua religião-filosofia marginalizada pela colonização europeia.

 

O projeto está no segundo ano. Oficina de batalha de rap, rodas de conversa, palestras, grafite foram algumas das dinâmicas já aplicadas.

Neste ano, no final de agosto, o grupo de professores(as) trouxe para a roda de debates dos estudantes personalidades negras em diversas áreas da sociedade. Maria Carolina de Jesus, na literatura; Marielle Franco, na política; Rebeca Realleza, na música; Milton Santos, nas Ciências Sociais; Ruth de Souza, no teatro, cinema e TV; e Rafaela Silva, no esporte, foram os nomes destacados.

Como parte do projeto, as personalidades foram grafitadas no muro interno do CEF 27 de Ceilândia para lembrar, diariamente, que negritude é potência.

A atividade mais recente do “Isso é Coisa de Preto” trouxe para a escola, entre outros nomes, Mc Dudu e a advogada, musicista, produtora cultural e rapper Rebeca Realleza, um dos nomes de destaque da cultura hip hop nacional.

“A frase ‘isso é coisa de preto’ é vista atualmente de forma negativa. Na escola mesmo, é muito comum ter um certo receito de usar o termo preto ou negro. Então a gente trouxe essa expressão para dar a ela um caráter positivo, mostrando que pretos e pretas estão na política, na ciência, na arte e em todos os lugares. Mostrar isso possibilita que os estudantes comecem a ter essa mudança de paradigma, de como a negritude é vista”, explica o professor de Artes Danilo Andrade, um dos idealizadores do projeto, junto com a professora Kelly Cardoso e os professores Tiago Alexandre e Amanda de Azevedo, que eram do CEF 27, mas agora estão na Secretaria de Educação de Goiás.

Um dos desejos do professor Danilo é dar continuidade ao projeto e fazê-lo expandir para que outros estudantes negros “olhem para si próprios com maior apreço”. Entretanto, um dos maiores empecilhos para isso, segundo o professor, é a condição de professor em regime de contratação temporária.

“Eu fui aprovado no último concurso. Estou no cadastro reserva. E estou aguardando a nomeação”, conta Danilo. “Como professor em regime de contrato temporário, a gente tem essa incerteza do amanhã, do ano que vem, e isso é muito limitante nas nossas ações, nas nossas expectativas. Saber se estarei na escola no que vem acaba determinando a minha prática docente”, explica o professor.

Como todas as ações que miram no reconhecimento da potência negra, “Isso é Coisa de Preto” é resistência, assim como todos e todas aquelas que idealizam e colaboram com o projeto que faz da escola um espaço de transformação social.

 

Acesse AQUI o álbum da ação mais recente do “Isso é Coisa de Preto” que, entre outros nomes, trouxe Rebeca Realleza para o CEF 27 de Ceilândia.