Profissão Professora – Carreira e as lutas da categoria

maria_jose 200x200Maria José Ribeiro, 71 anos, 30 destes dedicados ao magistério. Aposentada há 20 anos, a professora Zezé, como é chamada pelos amigos, foi professora durante 23 anos da rede pública de educação no Distrito Federal e na Secretaria de Educação de Goiás, onde lecionou por sete anos. Lembrando-se orgulhosamente do tempo em que participou de greves, movimentos estudantis e passeatas, Maria José se emociona ao recordar o dia da invasão da Catedral de Goiânia. Lamenta a ação da polícia naquele dia em que os estudantes foram perseguidos e, sem saída, só viram refúgio no lugar sagrado, a Catedral. E com olhos cheios de lágrimas recorda ainda da imagem do arcebispo Dom Antônio de mãos para o alto com toda sua autoridade sacerdotal impedindo que a polícia entrasse na igreja e atacasse os estudantes. “Sinto grande emoção de ter participado de ações como esta, fui uma militante”, conta.
 
A professora chegou à Brasília com 28 anos de idade, contratada como celetista da Fundação Educacional, e lembra-se da primeira escola em que deu aula, o GG no Guará I. Recorda também da postura profissional que era muito diferente da atual. Conta que o sistema da Fundação era bem rígido, mas ela não se importava, porque chegou a capital com aquela vontade de mudar o mundo e assim arregaçou as mangas e começou, além de lecionar em sala, a incentivar seus alunos a pensarem sobre aqueles difíceis momentos de ditadura. “Éramos cidadãos trabalhadores normais sem recursos, mas os alunos se identificavam muito com a gente. Sinto orgulho pelos alunos que participaram do Diretas-Já”, relembra.
 
Em 1971 Maria José fez concurso interno e foi dar aula na escola Polivalente, uma escola criada como modelo que tinha um projeto de grande transformação para uma escola pública. “Foi uma grande iniciativa a criação da escola, dei aula lá durante 16 anos”. Além do Polivalente a professora deu aula no GG do Guará, no PROEN, na ASP, na EIT e se aposentou quando dava aula no Caje.
 
Maria José se enche de orgulho ao lembrar dos debates em sala de aula sobre a Revolução pela libertação de Angola, em 1975. A professora conta que além do debate em sala de aula, levou o filme “O 25” para assistir com os alunos no auditório do SESC. “É claro que os puxões de orelha vieram, mas eu continuava incentivando os alunos a assistirem filmes como “O 25” e toda semana pegava emprestado na Embaixada do Canadá e da França os filmes e passava para os alunos”.
 
Professora de Geografia e Estudos Sociais, ela também passou a dar aulas de Educação Moral e Cívica. “As aulas tinha um cunho voltado para a direita, mas eu continuava com a minha ideologia e claro que enfrentei alguns problemas por causa disso. Fui vigiada, tive aula gravada, mas conseguimos tomar a fita antes que o problema ficasse maior pra mim. Éramos 40 professores, mas todos muito unidos,” recorda.
 
Maria José conta que as salas de aula eram muito cheias, sempre com mais de 45 alunos em cada uma. E a luta da categoria era pela diminuição de alunos por classe, pela carga horária, por melhores condições de trabalho e melhoria de salários. “Não tinha nem comida nas cantinas das escolas. Os professores voltavam em casa pra almoçar ou comiam em lugares improvisados que chamávamos de “pé sujo”. Almoçar em casa era bem difícil pra quem não tinha carro. Os ônibus eram superlotados e nem de longe se pensava em Passe Livre como hoje”.
 
Em 1976 Maria José começou a dar aula em escolas particulares como o CETEB, onde o salário era duas vezes maior do que as 20h paga pela Fundação Educacional. Para ter um salário maior ela também deu aula no SESC e brigou pelas 40h da Fundação.
 
Maria José relembra que houve a associação  dos professores e que a mesma terminou em 1974 com a ditadura militar. A associação voltou a atuar em 1979, e em seguida virou Sindicato, mas por causa de uma greve de 13 dias houve a intervenção do Sindicato pelo Ministério do Trabalho. Com o apoio de outros movimentos como o Eclesiais de Base foi possível a retomada do Sindicato dos Professores no mesmo ano. Ela integrou a diretoria do Sinpro-DF de 1980 a 1986. Foi também militante do Coletivo de Mulheres Negras. A professora então se aposentou em 1992, como estatutária.
 
Hoje a professora aposentada diz que continua bastante preocupada com a educação dos jovens. Leva voluntariamente matérias jornalísticas e artigos extraídos de uma revista em que ela é assinante para os alunos debaterem em sala de aula numa escola pública de São Sebastião. Maria José diz que as lutas valeram a pena e muito. Sofreu pressão dentro e fora da escola, mas valeu a pena tudo que viveu e tudo que conquistou por meio da educação. Deu aula para mais de 500 alunos por ano e sente imenso orgulho de pessoas que hoje fazem parte dos Governos. E diz ainda que tem uma grande preocupação com a formação de novos líderes. “Não há investimento em formação política que dê capacidade ao indivíduo para que ele possa fazer várias escolhas. Espero sinceramente que os professores atuais se engajem mais na luta e tenham compromisso com a escola pública”.
 
Depois da aposentadoria Maria José estudou inglês e espanhol, faz ginástica, dança na UNB e é militante do Comitê de Defesa  da Revolução Internacionalista (CDRI). “Continuo na luta sempre para que todos pensem em como fazer uma educação melhor e de qualidade. Luta, esse é meu lema”, ressalta.
 
“Luta palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes”.
 
“Minhas mãos doceiras jamais ociosas, fecundas. Imensas e ocupadas. Mãos laboriosas. Abertas sempre para dar, ajudar, unir e abençoar”. Poemas de Cora Coralina, sua autora preferida.
 
Nome: Maria José Ribeiro
Profissão: Professora aposentada
Tempo de magistério: 30 anos
Escola: Uma das escolas em que mais lecionou foi o Polivalente, por 16 anos
 
Ver mais…