Professores de história de vários estados do Brasil fazem manifesto contra o PNLD

Uma comissão formada por docentes de História da rede federal de educação profissional, científica e tecnológica construíram um manifesto contra o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD/Ensino Médio). Segundo a comissão, o documento apresenta os volumes como “autocontidos” e obras não sequenciais, fato que desconsidera a processualidade histórica, uma vez que o apresentado é um apanhado de conteúdos que não seguem mais as possibilidades de organização temporal própria da História como ciência e como disciplina escolar.

O PNLD, da forma como foi construído, materializa o desmonte da educação básica, e as mudanças impactarão tanto a educação básica quanto o ensino superior. Segundo a comissão, ao analisar os livros aprovados, verificou-se que as estruturas dos materiais didáticos seguem um padrão de matriz curricular não coerente com os planos curriculares do Ensino Médio Integrado da Rede Federal, sejam eles temáticos, lineares (história convencional seriada) ou integrados. Desta forma, embora o Guia PNLD/2021 e os livros anunciem atender os conteúdos ou os conhecimentos de maneira integrada, mesmo nas Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, não há obras metodologias adequadas para o trabalho nas escolas de Ensino Médio, em especial no Ensino Médio Integrado.

A adoção de uma nova temporalidade histórica ou seleção de uma matriz que comporte História, Filosofia, Geografia e Sociologia não significou nenhum progresso ou evolução, ou seja, não houve, nas obras analisadas, reconhecimento de como, de fato, os conhecimentos se relacionam e se estruturam do ponto de vista metodológico, teórico e, sobretudo, didático. Soma-se a isso, o fato de que os livros diluem a discussão sobre a história africana, a história afro-brasileira e história indígena, dificultando colocar em pauta as leis 10.639/03 e 11.645/08.

 

Histórico de retrocesso

A reforma do Ensino Médio e a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), instauradas ainda sob o governo golpista de Michel Temer (Lei 13.415/2017), deixaram um legado de retrocessos cujas consequências ainda devem se aprofundar. As escolas têm até 2022, por exemplo, para adotar livros didáticos não mais dedicados a cada disciplina, mas sim, sob o guarda-chuva da “área de conhecimento”, perdendo profundidade no conhecimento de cada matéria.

História, Geografia, Sociologia e Filosofia serão diluídas dentro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; enquanto Química, Física e Biologia formarão o grupo das Ciências da Natureza e suas Tecnologias. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2021 induz a esta política educacional de enfraquecimento das ciências humanas, e superficialização do conhecimento. Bastante conexo com a conjuntura de dissipação de Fake News e desvalorização da ciência, o PNLD está a serviço do novo ensino médio e das ideologias defendidas por Bolsonaro e por seus comparsas.

O Sinpro é totalmente contrário ao novo ensino médio, a atual BNCC e ao modelo apresentado para o PNLD por serem impositivos e não terem sido debatidos com o conjunto da categoria ou com o público, ainda mais por serem temas tão importantes. Para agravar ainda mais a situação, nota-se que as plataformas foram apropriadas para a defesa das ideologias da família Bolsonaro.

Para a diretora da Secretaria de Políticas Educacionais do Sinpro, Berenice D’arc, o processo todo foi construído sem a participação dos profissionais da Educação. “A retirada de conteúdos e a diluição de outros não se consolida na interdisciplinaridade que o governo alardeia, mas sim, cerceia a construção do pensamento crítico, livre e autônomo”, ela diz. “Esse se torna um problema ainda mais grave quando sabemos da importância do livro didático para a população mais pobre”, conclui.

Clique aqui e confira o manifesto na íntegra.

 
 

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