Professoras e ativistas realizam ato pela libertação do preso político Rodrigo Pilha

Um grupo de professoras e ativistas políticos realizou, na manhã desta segunda-feira (22), um ato público na Praça dos Três Poderes contra a prisão política de Rodrigo Pilha, preso na semana passada, juntamente com outros quatro militantes do movimento político, por terem estendido uma faixa, em frente ao Palácio do Planalto, com a frase: “Bolsonaro genocida”.

 

Na noite desse domingo (21), Rodrigo Grassi, conhecido como Rodrigo Pilha, teve o pedido de habeas corpus indeferido. Com a notícia, militantes do movimento popular decidiram realizar nova manifestação. Dentre os participantes, estava a mãe dele, Marina Recena Grassi, uma professora aposentada da rede pública de ensino.

 

“O habeas corpus não foi deferido porque se trata de uma prisão política. Mas existe a resposta técnica, que quem responde sobre isso são os advogados”, afirma Marina. Dos cinco militantes presos, Pilha é o único que permanece preso na penitenciária de segurança máxima da capital federal, a Papuda. Ele chegou a ser liberado pela Polícia Federal (PF), na quinta-feira (18), mas recebeu nova voz de prisão quando já estava na rua.

 

Apuração da revista Brasil Atual dá conta de que o deputado federal Alencar Santana (PT-SP) é o advogado dele, acompanha o caso e tem explicado que o motivo da nova prisão é um problema de “desacato antigo”, aberto em 2014, em que o ativista foi por isso condenado a 2 anos e 2 meses em regime semiaberto. Ou seja, ele cumpriu a pena desde 2016.

 

Professora aposentada, mãe de Pilha vai à rua defender a liberdade do filho

 

Com 65 anos e portadora de comorbidade, Marina Grassi abandonou o isolamento social para participar da manifestação. “Para mim isso é covardia. É uma prisão política. Essa é a avaliação de uma pessoa como eu, que morava em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, em 1964, e vi muitas coisas horrorosas por lá”, disse.

 

No entendimento da professora, a prisão do filho é mais um exemplo de que o poder político jamais deveria estar nas mãos de militares. “Como a gente tem de ter medida em nossas palavras, sempre falei que respeito a profissão militar como respeito todas as outras, mas eles não podem ter poder. O que estão fazendo com meu filho é uma prisão arbitrária. Os motivos pelos quais ele está preso não são válidos. Sou professora e filha de advogados e sabemos que ele já tem a sentença cumprida e não tem de ficar preso na Papuda”, afirma.

 

Para Marina, trata-se de uma perseguição política do governo federal. “E isso é o que torna essa situação com meu filho angustiante e preocupante. É difícil dizer como o meu filho está no momento porque não podemos vê-lo, não podemos falar com ele. Sei que ele tira de letra e o que sabemos é por intermédio dos advogados, mas, a gente sabe, meu filho não foi feito para ficar numa gaiola”, desabafa.

 

Ela soube do ato político quando o outro filho, Érico, que está tomando conta do caso, foi avisar à irmã que haveria uma manifestação pela libertação de Rodrigo e em defesa da liberdade de expressão. “Nisso, a mãe, nossa colega professora, Marina, ficou sabendo e resolveu ir também”, conta Vilmara Pereira, diretora do Sinpro-DF.

 

A diretora do Sinpro-DF informa que a mobilização foi restrita, com a participação de poucas pessoas, para que houvesse o respeito ao distanciamento exigido pela pandemia do novo coronavírus. “A mãe dele usou duas máscaras, guardou o distanciamento, proferiu algumas palavras, dizendo que quem tinha de estar na prisão não era o filho dela. O ato também foi em defesa da liberdade de expressão, assegurada pela Constituição Federal, que não tem sido respeitada por este governo”, afirma.

 

 

Quase 3 mil mortes por Covid-19 por dia e, no cartaz, a frase: “Bolsonaro genocida”

 

A frase “Bolsonaro genocida” é corriqueira nas redes sociais desde o início da pandemia, quando se definiu a política do extermínio em vez da defesa da vida. Em todas as manifestações contra o governo, essa é a frase usada em todo o País por todo tipo de gente para expressar indignação com a política de extermínio que o Palácio do Planalto adotou, sistematicamente, desde março de 2020, quando a pandemia do novo coronavírus se aportou no Brasil.

 

Nesse domingo (21), o Brasil registrou, nas 24 horas entre sábado (20) e domingo (21), 1.259 mortes pela Covid-19. Trata-se de um número subnotificado porque, nos fins de semana, as Secretarias de Estado da Saúde não fazem os registros ocorridos no fim de semana. Elas só atualizam esse número no fim da tarde das segundas-feiras.

 

Também totalizou, no domingo (21), 294.115 óbitos desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes no País nos últimos 7 dias chegou a 2.255, mais um recorde no índice. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +46%, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença.

 

Sem nenhuma política de combate à pandemia, sem um Plano Nacional de Imunização e com intensa transferência de dinheiro público o sistema financeiro, só em 2020, a título de “prejuízo” causado pela pandemia, o governo Bolsonaro transferiu R$ 2,8 trilhões para os bancos privados. Ao mesmo tempo, o governo federal tem acirrado a política de extermínio da população brasileira. Sem um cenário e nem previsão de queda no número de novos casos, País somou 25% das mortes no mundo no período entre 15 e 21 de março de 2021. Dados do boletim Infogripe, da Fiocruz, indicam que o Brasil irá ultrapassar as 3 mil mortes nos próximos dias e que não descarta um cenário de 4, 5 mil mortes por dia nos próximos meses.

Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que, no total, 60,2 mil pessoas foram vítimas da covid-19 no planeta nesse período —15,6 mil delas apenas no Brasil, país que representa apenas 2,7% da população mundial. “Os números são cada vez mais assustadores. Quem está no comando realmente pensa como um genocida”, afirma a diretoria colegiada do Sinpro-DF.

 

O desespero no mundo em relação ao Brasil é tão grande que até os economistas, banqueiros e outros empresários do sistema financeiro divulgaram uma carta, nesta segunda-feira (22), pedindo ao governo Jair Bolsonaro o lockdown total contra o falso dilema divulgado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, entre salvar vidas de desempenho econômico.

 

A carta, assinada por mais de 200 economistas, incluindo banqueiros e ex-presidentes do Banco Central, aponta que é ilusório imaginar a economia em alta com a pandemia em descontrole. O manifesto eleva pressão sobre o presidente Bolsonaro.

 

Brasília não precisa de um novo “Honestino Guimarães”

 

Marina Grassi não é a primeira professora do Distrito Federal a lutar pela libertação de um filho preso político. Nos anos 1970, outra professora enfrentou a ditadura militar para encontrar seu filho assassinado.

 

Trata-se de Maria Rosa Leite Monteiro. Professora da rede pública de ensino do Distrito Federal e ex-diretora do Centro de Ensino Fundamental nº 07, do Guará, falecida em 2012, ela foi um ícone na luta contra a ditadura militar. Uma das primeiras vozes a denunciar os desaparecimentos e as torturas da ditadura civil-militar dos anos 1960-1970 no Brasil.

 

Mãe de Honestino Guimarães – líder estudantil na Universidade de Brasília (UnB), desaparecido pelos militares no dia 10 de outubro de 1973, aos 26 anos–, Maria Rosa se empenhou numa luta descomunal para encontrar seu filho. O livro intitulado “Honestino, o bom da amizade”, relata a saga da professora. Honestino foi sequestrado, torturado e morto pelas forças policiais do Brasil.

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