Professora quer transformar projeto do CILG para migrantes internacionais em política pública

Professora Fabíola Ribeiro e estudantes migrantes internacionais no CILG

 

A rede pública de ensino do Distrito Federal tem um histórico de experiências pedagógicas e de produção de conhecimento novo que já colocou, várias vezes, a educação pública da capital do País na vitrine, como modelo para o Brasil e o mundo. Essa produção enfrenta desafios colossais, muitas vezes, colocados, propositadamente, por governos privatistas que, volta e meia, ocupam o Palácio do Buriti com políticas mercantilistas de desgaste e falta de investimento de dinheiro público, sucateamento intensivo e ações planejadas para aprofundar, todo dia, o desmonte da educação pública.

 

A resposta da categoria a esse tipo de ataque sempre foi o fortalecimento do ensino público com pesquisa, inovação e produção de novos conhecimentos, geralmente, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). Esse é o caso da equipe de profissionais do Centro Interescolar de Línguas do Guará (CILG). Desde 2020, professores(as) e gestores(as) realizam uma ação pedagógica inovadora a partir da experiência cotidiana e teorizações que remetem aos ensinamentos paulo-freirianos. Mais do que um projeto restrito a uma escola, essa ação, que ocorre há mais de 2 anos, apresenta-se como uma inovação e uma política pública do Estado.

 

Trata-se do projeto “Bem-Vindos ao Distrito Federal – Português Língua de Acolhimento e Desenvolvimento Humano”, um curso de língua portuguesa para migrantes internacionais, muitos em situação de refúgio. O projeto, que extrapola o magistério do idioma pátrio, oferece um suporte a mais que serve para outras áreas da vida do migrante. É um acolhimento especial que, por meio do idioma, garante bem-estar e segurança, que só quem já viveu em países estrangeiros sem pronunciar nenhuma palavra do idioma pátrio sabe como é. Dominar a língua portuguesa e ser acolhido(a) de forma humanizada pela escola pública do país é quase tudo do que necessita uma pessoa trazida pelas circunstâncias ou que escolheu o Brasil como local de moradia.

 

Professora Fabíola com estudantes migrantes estrangeiros

 

O projeto foi criado e elaborado por Fabíola Ribeiro professora; Patrícia Melo, assessora da Coordenação Regional de Ensino (CRE) do Guará; Lucélia Abreu, coordenadora da Unidade Regional de Educação Básica (Unieb); e Adriana Lopes, ex-diretora do CILG, que, hoje, está aposentada. Atualmente, o projeto foi acolhido no CILG pela atual diretora, Taiana Santana, e sua vice, Priscila Mesquita. Num primeiro momento, ele foi realizado por meio de uma parceria com o projeto de extensão intitulado ProAcolher da UnB.

 

“Após mudanças pedagógicas no projeto, ele continua como projeto de extensão, mas, agora, está vinculado ao Instituto de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento, sendo coordenado pelo professor e doutor Danilo Prata e por mim, que também sou professora e doutora pela UnB. Na nova versão, conta com linguistas, como a mestre Saori Nishihata e a doutora Silviane Barbato, bem como com outros pesquisadores em linguística e psicologia”, explica a professora Fabíola Ribeiro.

 

Ela informa que o projeto é on-line e conta com a inovação do Atendimento Linguístico Individualizado (ALI). “É presencial e voltado, especialmente, para estudantes de língua árabe. A importância de estar vinculado à UnB é que ter um curso de português, de 60 horas, vinculado à uma universidade, é um dos requisitos para a naturalização dos migrantes internacionais segundo as exigências da Polícia Federal”.

 

Apresentado à Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEE-DF), em 2019, foi aprovado e começou a funcionar no início de 2020. De lá para cá, mais de 680 migrantes pediram para ingressar no projeto, mas, em razão da limitação da escola, atenderam à metade da demanda. Com isso, mais de 300 estudantes migrantes internacionais tiveram o privilégio de participar da experiência piloto. Dentre as nacionalidades atendidas, destaque para paquistaneses, haitianos, ruandenses, guineenses, bangladeses, venezuelanos, colombianos, peruanos, ganeses, marroquinos, italianos, ingleses, nigerianos, mexicanos, togoleses, egípcios, senegaleses, benineses.

 

Política pública para que o projeto continue

 

 

Fabíola Ribeiro, professora que executa o projeto, afirma que a equipe está na luta para que o projeto continue, para que deixe de ser uma ação do CILG e passe a ser um programa de Estado, da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEE-DF), e não acabe após as eleições de 2022.

 

“O projeto é tão bom e, comprovadamente, bem-sucedido que a equipe da CRE Guará, em especial a assessoria e a Unieb, tem apoiado, assim como as gestoras do CILG.  É visível a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes e, por isso, o apoio. Tudo que precisamos nossas gestoras providenciam para que o projeto funcione. Temos material pedagógico e sala de aula com variados recursos, tanto para as aulas on-line como para os encontros presenciais. E tudo deu certo. Nosso projeto tem potencial para ser transformado em política pública.  O que falta agora é que essas pessoas que têm participado ativamente dele sejam ouvidas porque estamos executando essa política pública aqui, na prática”, reivindica Fabíola.

 

Equipe de gestores do CILG e da CRE. Da esquerda para a direita: Leandro Cardoso, Patrícia Melo, Priscila Mesquita e Tatiana Santana

 

O Sinpro-DF destaca a importância das políticas públicas criadas a partir da experiência pedagógica realizada na rede pública de ensino. No caso do projeto CILG, o acolhimento por meio do aprendizado da língua portuguesa ajuda não só na aprendizagem da língua e na naturalização dos(as) migrantes internacionais que pleiteiam a permanência no País, mas em outros aspectos da vida.