Professora impulsiona entrada de estudantes em universidades públicas

A professora de sociologia Regina Cotrim é filha da Universidade de Brasília e tem uma relação de amor com a instituição. Lá, passou boa parte da sua infância e adolescência acompanhando seu pai — que era professor universitário — até ser aprovada, em 1989.

Hoje, ela dedica-se para que estudantes possam vivenciar experiência semelhante e ter acesso à universidade pública. Foi a partir daí que surgiu o Núcleo de Apoio aos Vestibulandos (Nave), projeto do Centro de Ensino Médio (CEM) 03 de Taguatinga, que prepara discentes para o ingresso em universidades, com foco na UnB.

O trabalho da professora tem dado resultado. Só este ano, até o momento, o CEM 03 de Taguatinga registra mais aprovados do que em todo o ano passado. São quase 100 aprovações — sendo 51 só na UnB —, além de admissões em processos seletivos, como o Sistema de Seleção Unificada (SISU) e o Programa Universidade para Todos (PROUNI).  “Eu estou muito realizada, não consigo encontrar uma palavra que defina. Felicidade parece muito pouco”, disse.

Em meio a tantas histórias de sucesso do Nave, uma ganha o coração de Regina: a aprovação da sua filha, Manuela Cotrim, no curso de arquitetura da UnB, neste ano. Para a professora, mais que uma aprovação, foi um presente para o seu pai, que faleceu ano passado. “Não tem como negar, a felicidade foi triplicada porque minha filha está entre os aprovados”, comemora.

Trabalho coletivo

Segundo a professora Regina, apesar de estar à frente do Nave, ela não está sozinha. O trabalho é construído coletivamente, com apoio de professores, demais integrantes da equipe pedagógica do CEM 03, comunidade escolar e, inclusive, de ex-estudantes. “Eu tenho muitos parceiros. Sempre que possível, meus ex-alunos vão à escola e fazem palestras motivacionais, falam sobre os cursos”, conta.

Sobre o suporte dos professores, Regina destaca que, sem eles, “esse trabalho não seria possível”. “A direção e a equipe pedagógica me ajudam muito, e isso é refletido no sucesso do projeto. Uma direção que abraça os projetos encabeçados por um professor ou por uma equipe tem tudo para deslanchar. Se não tiver uma equipe de apoio, os resultados não são os mesmos”, pontua.

Desafios

A professora conta que apesar do sucesso, o projeto Nave enfrenta diversos desafios, muitos deles relacionados à falta de recursos para melhoria da qualidade do ensino ofertado. Atualmente, o núcleo funciona em uma sala, no contraturno, e não dispõe de todos os equipamentos necessários.

“A gente gostaria muito de poder melhorar todo o conforto que os alunos precisam pra estudar, uma mesa bacana, cadeiras confortáveis, computadores bons com internet rápida”, disse.

Nave

O Nave é continuidade do projeto Aprova CEM 02, iniciado no Centro de Ensino Médio (CEM) 02 de Ceilândia, em 2015. Naquele ano, Regina dividia o tempo entre sala de aula e orientação aos vestibulandos. Com apoio de outros(as) professores(as), o projeto colheu frutos: foram aproximadamente 50 aprovações, sucesso que se repetiu nos anos seguintes.

Em 2021, Regina foi transferida para o CEM 03 de Taguatinga, onde deu continuidade ao projeto. “A gente estudava na pandemia, por videoaula, até mesmo no horário de almoço”, conta.

Desde 2023, por conta de problemas na voz, Regina atua exclusivamente no projeto Nave. Agora, ela quer que o projeto cresça ainda mais.

“A gente tem um grupo de colegas com essa perspectiva do Nave. Eles também estão com foco no trabalho direcionado para essas aprovações. Trocamos informações e dicas. Ano passado, cheguei a visitar escolas falando do projeto e sigo acompanhando o CEM 02, onde tudo começou”, conta.

Edição: Vanessa Galassi