Professora assassinada nessa segunda (12) é 16ª vítima de feminicídio no DF

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) está à procura do auxiliar de cozinha Alexandre Marciano Ribeiro, 47 anos, acusado de matar a facadas a professora de língua portuguesa Rozane Costa Ribeiro, 49 anos. O crime ocorreu na madrugada dessa segunda-feira (12/12), no endereço da vítima, um condomínio situado à QN 21 do Riacho Fundo II. Ele executou a companheira na frente do filho dela de 12 anos.

As câmeras de segurança do condomínio em que a professora morava gravaram o momento em que o criminoso fugiu. Segundo dados da imprensa, o casal tinha um relacionamento recente e conturbado desde junho de 2022. Ele se mudou para a casa dela há cerca de 3 meses e planejavam se casar no ano que vem. Nesse domingo (11), ele chegou à casa da vítima por volta das 16h e deixou o endereço às 2h36 de segunda-feira (12/12) após o crime.

Um levantamento do Correio Braziliense indica que este é o 16º feminicídio ocorrido no Distrito Federal em 2022. Até setembro deste ano, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) havia contabilizado 12 feminicídios. Dentre esses 12 casos, cerca de 41% as vítimas (5) morreram por arma branca, 33% (4) por agressão física, 16% (2) por objeto contundente e 8% (1) por arma de fogo. A SSP-DF também informa que 64% das vítimas de feminicídio deste ano sofreram agressões anteriores. Apuração do site Metrópoles dá conta de que, por dia, quatro mulheres denunciam descumprimento de medidas protetivas.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 dão conta de que, nos primeiros 5 meses de 2022, foram registradas 7.017 ocorrências relacionadas à Lei Maria da Penha no Distrito Federal. Deste total, 683 (10%) são de descumprimento de medida protetiva de urgência (MPU). Esse número, segundo matéria do Metrópoles, representa uma média de registros de 136 medidas protetivas descumpridas por mês. Ou seja, pelo menos quatro ocorrências deste tipo por dia.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 revela que, entre 2020 e 2021, 2.695 mulheres foram mortas no Brasil pela condição de ser mulheres. Entre as vítimas de feminicídio, 62% eram negras e, 37,5%, brancas. Nas mortes violentas envolvendo o sexo feminino, 70,7% eram negras e 28,6% brancas.

Uma mulher foi morta a cada 7 horas em 2021

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública é um documento anual divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Uma matéria do Correio Braziliense dá conta de que, antes mesmo de sistematizar os dados totais de 2022, o FBSP já registrou um recorde de feminicídio no primeiro semestre deste ano no País. No mesmo documento, o fórum avalia que a situação pode piorar diante do crescimento ininterrupto da violência letal contra a mulher no período e da redução drástica, pelo governo Jair Bolsonaro (PL), dos recursos para investimento no enfrentamento à violência.

“O Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que 699 mulheres foram vítimas de feminicídio no primeiro semestre de 2022, média de quatro casos por dia. Este número é 3,2% maior que o total registrado no primeiro semestre de 2021, quando 677 mulheres foram mortas. Os dados indicam um crescimento contínuo de assassinatos de mulheres cometido em razão do gênero desde 2019”, diz o jornal.

Ainda segundo o CB, em 2021, a PCDF registrou 17.549 ocorrências relacionadas à Maria da Penha e, dessas, 1.690 foram dessa natureza. Em 2020 e 2019, os números foram menores. Segundo dados do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), a Corte concedeu, até maio deste ano, 5.216 medidas protetivas de urgência, total ou parcialmente. No ano passado, foram 11.082 MPUs. Em 2020, 9.004. O crescimento dos números assusta.

Em junho deste ano, quando a edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021 foi lançado, as pesquisadoras Juliana Martins, Amanda Lagreca e Samira Bueno, do FBSP, declararam ao jornal Valor que, nos últimos 2 anos, 2.695 mulheres foram mortas pela condição de serem mulheres.“Os dados indicam que uma mulher é vítima de feminicídio  a cada 7 horas, o que significa dizer que ao menos três mulheres morrem por dia no Brasil por serem mulheres”.

O Anuário indica também que o 190 recebeu uma ligação por minuto em 2021 com denúncias desse tipo.O Painel Interativo Feminicídio, da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), informou, recentemente, que até outubro de 2022, a capital do País havia registrado 15 feminicídios confirmados e dois sob análise. De todas as ocorrências do DF, 10 aconteceram dentro de residência, sete com uso de arma branca e 5 por agressão física.

O problema é de todos

O CB também entrevistou a professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Haydée Caruso, e, segundo ela, a violência cotidiana virou um fenômeno social em que as vítimas morrem pelo simples fato de serem mulheres. “Vivemos em uma sociedade patriarcal que pode tirar a vida de mulheres porque nos enxergam como propriedade deles”, diz. Para ela, o combate ao feminicídio exige a participação de toda a sociedade, com investimento desde a educação básica. “É um dos assuntos mais urgentes para darmos uma virada educacional com novos padrões de relação social”, complementa.

A professora é associada sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e defende em um diálogo aberto com a população do DF sobre as relações de gênero, que, atualmente, são um lugar de homens que enxergam corpos como descartáveis. “Esse assunto precisa ser debatido nas famílias, nas igrejas, nas escolas, desde a educação básica, porque qualquer professora ou professor da educação básica lida com relatos de violência doméstica todos os dias, pois os alunos reportam essas situações”, finaliza a especialista.

21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher

Em artigo intitulado “Judiciário pela eliminação da violência contra a mulher”,  publicado no jornal O Globo, desta terça-feira (13/12), a ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), afirma que, entre janeiro de 2020 e maio de 2022, o Brasil registrou mais de 572 mil medidas protetivas de urgência e reforça a importância da adesão do Brasil ao movimento intitulado 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher.

A ministra lembra que a adesão do País ao movimento, na primeira década deste século, ampliou para 21 dias a duração das ações de conscientização, antecipando-lhe o início para 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.”A data foi priorizada em face da dupla discriminação que sofrem as mulheres negras em nosso país, vítimas em maior percentual da violência”, escreve a presidente do STF. Confira aqui o artigo: https://oglobo.globo.com/opiniao/artigos/coluna/2022/12/judiciario-pela-eliminacao-da-violencia-contra-a-mulher.ghtml

Mônica Caldeira, coordenadora da Secretaria para Assuntos de Mulheres Educadoras do Sinpro-DF, lembra que a campanha surgiu após o brutal assassinato de três irmãs, ativistas políticas, em 1960. “Esse crime inspirou a mobilização mundial pela prevenção e eliminação de todas as formas de violência contra a mulher”, diz a diretora. Em 25/11/1960, as irmãs Mirabal — Pátria, Minerva e Maria Teresa — foram mortas na República Dominicana após violências e torturas de toda ordem. Lutavam contra um regime ditatorial e se tornaram símbolos da força feminina e da resistência democrática.

“Esse triste episódio mobilizou a ONU [Organização das Nações Unidas], a instituir o dia 25 de novembro como data da conscientização da comunidade internacional sobre a necessidade de ação efetiva contra a violência de gênero. Esse conteúdo tem de ser desenvolvido nas escolas para, a partir daí, construirmos uma sociedade livre de violência. A Secretaria de Mulheres do Sinpro pode subsidiar as escolas com materiais, palestras e outros conteúdos nesse sentido”, afirma a diretora do Sinpro.

Em 1991, 31 anos após o assassinato das irmãs Mirabal, foi criada a campanha anual intitulada 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra Mulheres, tendo como data simbólica inicial o dia 25 de novembro e, final, o dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.

O Sinpro é uma das entidades signatárias do 21 Dias de Ativismo e afirma que o caso da professora Rozane é mais um de violência diretamente relacionado com o tipo de gestão pública adotada pelos governos que não investe em campanhas e muito menos no combate a esse tipo de crime.

Para não esquecer: feminicídios no DF em 2022

3 de outubro

O corpo de uma mulher, identificada como Vanessa Lopes, 31, foi encontrado em 3 de outubro, com perfurações de faca no corpo, próximo à estação de metrô da QNN 7, em Ceilândia Norte. De acordo com a polícia, o crime ocorreu no dia anterior, entre 19h30 e 20h30. Quatro dias depois do atentado, a Polícia Civil identificou Douglas D’Aguiar de Sousa, ex-namorado de Vanessa, como suspeito. Ela deixou dois filhos, frutos de outro relacionamento.

 

17 de setembro

Um crime brutal chocou moradores do Itapoã na tarde de 17 de setembro. A brigadista Patrícia Silva Vieira Rufino, 40, foi morta pelo companheiro com golpes repetidos na cabeça. Segundo relatos de testemunhas, o homem de 44 anos bateu a cabeça de Patrícia contra uma pia na residência, que morreu na hora. Os filhos do casal, que estavam na casa, presenciaram o momento do crime. O autor ainda tentou fugir, mas foi impedido por populares e preso em flagrante pela Polícia Militar do DF (PMDF).

 

 

10 de agosto

Luciana Gomes da Costa, 35, foi encontrada morta na manhã de 10 de agosto, dentro do apartamento em que vivia há cerca de um ano, na quadra 700 do Sol Nascente. Após investigações da Polícia Civil, o companheiro dela confessou ter matado a namorada com quem se relacionava há pouco mais de três meses. A vítima era mãe de quatro filhos, com idades de 13, 10 e gêmeos de 2 anos e nove meses.

 

29 de junho

A designer de unhas Priscila Teixeira, 33, foi encontrada morta a facadas, na manhã de 29 de junho, na cozinha da casa onde morava com o namorado, Gusttavo Britto, 22, em Taguatinga. De acordo com os vizinhos, as brigas entre o casal eram constantes. O corpo dela foi achado pela mãe da vítima, que tentou falar com Priscila no dia anterior, mas encontrou a casa fechada. Em 29 de junho, por volta das 9h, ela voltou ao local e pediu que moradores da rua ajudassem a abrir o portão do imóvel.

 

18 de maio

Marina Katriny, 30, foi encontrada morta e com o corpo parcialmente carbonizado . Quatro dias depois, Wallace Eduardo, 34, namorado da vítima, foi preso. Ele confessou que matou Marina e detalhou o crime. O acusado também acertou Marina com uma pedra. Os dois tinham um relacionamento de cinco meses, bastante conturbado, de acordo com a PCDF. Na delegacia, o autor alegou que era humilhado pela namorada e, no dia do crime, após ingerirem bebida alcoólica e usarem cocaína, eles discutiram.

 

Como pedir ajuda

Polícia Civil

Telefones: 197 (Opção 0) e 61 986-261-197 (WhatsApp)

E-mail: denuncia197@pcdf.df.gov.br

Site: pcdf.df.gov.br/servicos/delegacia-eletronica

 

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)

Telefones: 61 3207-6172/6195 (Asa Sul) e 61 3207-7391/7408/7438 (Ceilândia)

 

Central de Atendimento à Mulher — 180

Disque Direitos Humanos — 100

Polícia Militar — 190

 

Centros Especializados de Atendimento à Mulher (Ceams)

Ceam Ceilândia — 61 3371-0256 / 61 991-173-406

Ceam Estação 102 Sul do Metrô — 61 3224-0943 / 61 991-836-454

Ceam Planaltina — 61 3388-4656 / 61 992-026-376

Ceam Setor de Diversões Norte (SDN) — 61 3341-1840

 

Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (Nafavds)

Endereços e telefones: mulher.df.gov.br/nafavds

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