Professor da Escola Parque 308 Sul expõe no Museu da República

 

 

As artes plásticas é um dos instrumentos da atividade humana criados para expressar, dentre outras coisas, emoções e ideias. São também conceituadas como um mecanismo de observação do mundo e de revelações de novas concepções capazes de indicar que “outro mundo é possível”. Elas podem imitar a natureza, revelar o impossível, explicar o irracional e justificar o inverossímil.

 

É uma atividade que pode retratar a construção do cotidiano. É nessa pegada filosófica que o professor de artes visuais da Escola Parque 308 Sul e artista plástico Cleber Cardoso Xavier apresenta um trabalho artístico que está sendo construído durante a exposição e ainda não tem título. Ele informa que é uma obra em processo e que faz parte do conjunto de exposições intitulado “Hospitalidade – individuais e simultâneas”.

 

A exposição, que começou no dia 3/12 e termina no dia 6/2/2022, está aberta, na Galeria Térreo do Museu Nacional da República, de sexta a domingo, das 9h às 17h. O catálogo será lançado no dia 17/12/2022 e será disponibilizado em neste link: http://drive.google.com/drive/folders/1_KhsSubuCkNTbDMkK2LK5Agh KaDPGACX?usp=sharing. Para a visita presencial, o museu exige apresentação de comprovante de vacinação contra a covid-19.

 

 

“O conjunto de exposições individuais simultâneas em exibição no Museu Nacional da República é denominado Hospitalidade. Essas exposições são a culminância e a finalização da segunda edição da Residência Artística Hospitalidade, coordenada por Suyan de Mattos, realizada entre maio e junho de 2019 no povoado Olhos D`Água do município de Alexânia, Goiás”, diz em release Cintia Falkenbach, que assina a curadoria dos trabalhos de Cleber Cardoso Xavier.

 

Na nota, ela informa que os três artistas (Cleber Cardoso Xavier, Raissa Studart e Cecília Lima) ocupam a galeria térreo do Museu Nacional da República de maneira orgânica e dialógica, mantendo suas particularidades e essência de seus trabalhos, como também aconteceu durante o período de residência. Mesmo dispostos simultaneamente num amplo espaço físico, são identificadas como exposições individuais simultâneas.

 

“A estrutura, a materialidade, a estética e o processo criativo de cada artista é singular e perceptível ao adentrar no espaço de cada exposição. Este conjunto de elementos alinhado às percepções individuais de cada espectador vai possibilitar a fruição das obras e o despertar da potência deste diálogo entre artista e espectador, obra e espectador. Um outro aspecto interessante a ser percebido é a relação amistosa e colaborativa desenvolvida entre as/os artistas, expressa aqui também numa estrutura de vizinhança e hospitalidade”, diz Cleber.

 

“Uma das obras da exposição é uma peça de tricô que é feito por todo mundo que visita a exposição e se interesse em manipular as agulhas e as linhas. Ele fica disponível durante toda a exposição, até fevereiro. O resultado desse tricot será a obra final dessa performance. A ideia é que o visitante possa manipular as linhas, as agulhas e escrever o tempo por meio da trama das linhas”, completa o artista.

 

Ele observa que “a gente tem de pensar que o tricot é uma técnica antiga e popular de construção de arte, trama, tapeçaria. A exposição também traz 16 imagens de um cemitério da localidade de Olhos D’Água e essa visita ao cemitério traz a atualização das memórias. O olhar é de visitante, uma vez que eu já não tenho pai nem mãe vivos e isso é impactante, ainda mais nos dias atuais em que a gente passou por tantas perdas. Mais de 615 mil pessoas só neste período da pandemia da covid-19 elas faleceram. Então, quantos órfãos, quanta saudade gerada. Essas imagens também abrem a possibilidade do diálogo sobre isso”.

 

 

A peça artística inspirou Cintia Falkenbach a titular seu texto-release com a frase “Tricotando relações”, no qual ela descreve a obra de Cleber. O trabalho do professor de artes visuais é inspirado no tricô, um termo originário do francês tricot, tricoter, o mesmo que tricotar em português. “Esse tecido de malhas entrelaçadas é o grande elemento que preenche o centro da sala da Galeria Térreo do Museu da República . Ele é o objeto central desta mostra individual de Cleber. “Suas pontas pendentes, a tudo interligam. Todos os elementos que compõem a exposição encontram-se reunidos ao seu redor”, diz o artista.

 

A grande peça de Malha que se estende sala afora, segundo ele, conta a história de um percurso tramado no tricô durante 17 dias pelo povoado de Olhos D’água, uma pequena comunidade  rural  com  poucos  confortos  modernos. “Como  um  registro  gráfico,  se  fosse  um  desenho,  o  tricô materializou em suas tramas as caminhadas, as conversas, os encontros previstos e os do acaso. Todos aqueles contatos que se deram durante esses 17 dias por meio dessa trama, que se mostrou um meio inusitado de comunicação e troca de informações, ficaram ali registrados na malha. Ponto comum entre o artista, que se declara um ser urbano por natureza e os habitantes do povoado rural de Goiás”.

 

 

Cleber explica que o tema é cheio de elementos familiares e o que pode ser curiosamente observado é que a forma de tricotar de cada pessoa, que por ali passou e contribuiu na construção da malha, foi preservada o máximo possível na sua autenticidade. Esse tricô, segundo ele, é um registro coletivo , uma carta escrita por dezenas de mãos. “Por trás desse singelo ato vive um constante questionamento dos fatos da vida, que o artista tenta responder subjetivamente e que acabam encontrando eco dentro da poética de sua obra. Esse objetivo que permeia a obra também é uma busca apaixonada por se conhecer, por desvendar sua história e encontrar um eco para as indagações de cunho mais universal que persistem no intelecto de alguns de nós. E dizendo melhor ainda, daqueles que são mais sensíveis e buscam as experiências proporcionadas pela vida”.

 

“Essa mesma peça, esse tricô primordial, unifica memórias retidas dentro de uma trama de cores, pontos e espessuras que se estranham. Inevitavelmente elas nos mostram um diferencial entre os seres do urbano e do rural, fato vivenciado pelo artista na residência em Olhos D’água. Devemos ainda ressaltar que essa malha, uma trama de fios que pende do teto no meio da exposição é testemunha muda de conversas esparsas onde a flexibilidade, a espessura dos fios e o tamanho dos pontos, permitiu a qualquer um dos indivíduos que tricotaram, deixar a sua marca e contribuição. Um trabalho coletivo onde a comunidade pôde se manifestar plenamente”, afirma o artista.

 

 

Na opinião dele, ao compartilhar memórias pessoais e coletivas, lembranças longínquas podem trazer a vida de volta, virtualmente. “Essas inquietações estão presentes nos autorretratos e nos objetos que pertenceram à mãe do artista e que são memórias materiais que evocam a recordação de um amor universal entre mães e filhos. São memórias da mãe ausente que trazem uma compensação fazendo-se presentes, é a aceitação da ausência, ou não. Deixemos agora que o universo construído pelo artista faça a sua apresentação”, finaliza.

 

Perfil

 

 

 

Doutor e mestre em Arte pela Universidade de Brasília (UnB), já participou de cinco residências artísticas (Goiás, Distrito Federal e Argentina). Participou de exposições individuais (DF) e coletivas (GO, DF, Argentina). Co-autor do livro “Brasília x 5: 50 anos de artes visuais em Brasília, 2011; Encontros e Entrelaçamentos: Grupos de Pesquisa em Arte – 2021.

 

Já participou como coordenador e curador de exposições do Espaço Piloto da UnB. Atualmente, é o representante do Distrito Federal na Federação de Arte Educação Brasileira (FAEB). É professor de Artes Visuais da rede pública de ensino do Distrito Federal, vice-líder do grupo de pesquisa MEMAV/UnB/CNPq. Coordena o projeto PreservArtePatrimônio de educação patrimonial no âmbito da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.

 

Serviço

Exposição individual: Hospitalidade – individuais simultâneas
Artista: Cleber Cardoso Xavier (@ccxavier)
Curadoria: Cintia Falkenbach (@cintiafalken)
Coordenação da residência artística Hospitalidade: Suyan de Mattos (@suyandemamttos)
Local: Galeria Térreo do Museu Nacional da República
Data: 3/12/2021 a 6/02/2022

Com informações dos textos de Cintia Falkenbach