Problemas com a leitura e com a matemática

Um estudo divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) mostra que são poucas as crianças brasileiras que têm domínio da língua escrita e conseguem realizar cálculos matemáticos que envolvem gráficos e tabelas. A segunda parte do Terceiro Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Terce) avaliou o desempenho de 134 mil jovens da 3º ao 6º ano do ensino fundamental em 16 países da América Latina. No Brasil, o estudo avaliou crianças que estão do 4º ao 7º ano. Foi avaliada a performance dos estudantes em matemática, linguagem (escrita e falada) e ciências naturais.
O estudo dividiu os jovens em quatro níveis de aprendizado. A maior concentração de alunos brasileiros no grau mais alto de desempenho ocorreu em leitura no 7º ano, quando 16,6% demonstraram ter plena compreensão ao interpretar e inferir o significado de palavras em textos escritos. A maior parte dos estudantes, no entanto, está nos níveis mais baixos de desempenho. Mais de 60% dos alunos do quarto ano do ensino fundamental têm desempenho entre muito ruim e regular em leitura e matemática.
Apesar disso, o estudo mostrou que houve uma melhora de toda a região da América Latina em relação à avaliação anterior. O desempenho das crianças brasileiras é igual à média dos alunos dos outros 15 países estudados em escrita e em ciências naturais nos quatro níveis. Além disso, as notas alcançadas são as mesmas em leitura no 4º ano e em matemática no 7º ano. O Brasil está acima da média da região em matemática no 4º ano e em leitura no 7º ano.
O pior desempenho dos jovens brasileiros foi na prova de ciências naturais, aplicada pela primeira vez no Brasil aos alunos do 7º ano. Apenas 4,6% estão no nível mais alto, enquanto 80,1% encontram-se nos mais baixos. Isso quer dizer que os estudantes não são capazes de aplicar os conhecimentos científicos para explicar fenômenos do mundo. Apenas três países estão acima da média regional em todos os testes e anos avaliados: Chile, Costa Rica e México. Além dessas três nações, o Terce fez o levantamento em Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e no estado de Nuevo León (México).
Fatores
Os primeiros resultados do Terce foram divulgados em dezembro do ano passado e, em 2015, o estudo incluiu fatores associados à aprendizagem em cada país. Segundo a Unesco, o envolvimento dos pais e o nível socioeconômico das famílias influencia mais no desempenho das crianças brasileiras no ensino fundamental do que a infraestrutura das escolas, independentemente se estão localizadas no meio urbano ou rural.
O estudo traz um dado interessante em relação ao Brasil. O desempenho dos estudantes melhora quando os pais acompanham os resultados obtidos na escola, apoiam e chamam atenção dos filhos. No entanto, as notas pioram quando os pais supervisionam e ajudam sempre nas tarefas escolares, tirando a autonomia das crianças. Os pais também são importantes na hora de incentivar, independentemente das condições sociais e econômicas.
De acordo com o estudo, os estudantes que vivem em regiões mais carentes têm desempenho pior. Contudo, se os pais têm expectativas altas e incentivam os filhos quanto ao que serão capazes de alcançar no futuro, as crianças obtêm melhores resultados. Outro ponto que a Unesco chama a atenção é para o início da vida escolar da criança. No levantamento, jovens que frequentaram a pré-escola desde os quatro anos tiveram um desempenho melhor. Por outro lado, faltar à escola é mais um aspecto que diminui o rendimento do estudante.
O uso de ferramentas tecnológicas fora do ambiente escolar também auxilia as crianças. No Brasil, os estudantes que utilizam o computador fora das salas de aula tendem a ter melhores resultados em todas as provas. Já a combinação com trabalho é lesiva aos jovens. Segundo o estudo, as crianças brasileiras do quarto ano do ensino fundamental que estão sujeitas a trabalho infantil têm nota mais baixa tanto em leitura quanto em matemática.

O desempenho


Em uma avaliação de 1.000 pontos, os estudantes foram divididos em quatro níveis. Confira cada faixa e as notas tiradas por área de conhecimento
Nível I – Até 675 pontos
Nível II – Entre 676 até 728 pontos
Nível III – Entre 729 até 812 pontos
Nível IV – A partir de 813 pontos
As notas
Estudantes, segundo o nível de desempenho (%)
Área de conhecimento    Série    I         II       III        IV
Linguagem                         3º    39,5    21,7    26,2    12,7
Linguagem                        6º    18,4    51,5    16,5    13,7
Matemática                       3º    47,2    23,3    22,1    7,4
Matemática                      6º    46,9    35,9    12,1    5,1
Ciências Naturais           6º    40       39,1    15,2    5,7

Fonte: Correio Braziliense