Prisão de Lula, perseguição política e crimes de mando contra lideranças abalam a democracia

O julgamento do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 24 de janeiro, bem como o do habeas corpus, nessa quarta-feira (4), e, agora, a decretação de sua prisão, se somam a vários outros fatos que têm ocorrido no país desde o início de 2018 que visam a aprofundar o golpe de Estado aplicado contra em 2016.
Essa é a avaliação da diretoria colegiada do Sinpro-DF sobre o cenário nacional neste ano de eleição. Cleber Soares, diretor de Imprensa do sindicato, diz que, a cada passo da Justiça, confirma-se a participação do Poder Judiciário na construção, aprofundamento e consolidação de um golpe de Estado que, dentre vários objetivos, visa a acabar com a democracia.
“Impedir a eleição, em outubro deste ano, por meio da prisão sem provas de cometimento de crime é uma forma de se assassinar uma liderança nacional e aniquilar a possibilidade de o povo eleger o Programa Democrático-Popular ou qualquer outros projetos desenvolvimentista e de nação para o Brasil nas eleições gerais a serem realizadas em outubro deste ano”, afirma o diretor.
Para Soares, há uma declaração de guerra que parte da Praça dos Três Poderes contra a democracia e contra a Nação brasileira. “Essa guerra se utiliza de um golpe de Estado, aplicado em 2016, para entregar nossas riquezas e retirar nossos direitos trabalhistas, sociais e humanos de nosso povo. Porém, sobretudo, visa a eliminar todo vestígio de democracia que o país construiu após a ditadura militar”, diz.
“As ações em curso em todas as esferas da União visam a exterminar o povo negro, o povo pobre, as lideranças comunitárias e nacionais e a implantar o terror e o medo para intimidar a população e impedi-la de reagir ao golpe”, avalia.
No entendimento do diretor, a Justiça brasileira, o empresariado e os partidos políticos que aplicaram o golpe atuam na Justiça para destruir a liderança política de Lula. Mas atua também nas comunidades, por meio de assassinatos de lideranças para implantar o medo e impedir o nascimento de qualquer outra liderança que defenda um projeto de nação, defenda os interesses da classe trabalhadora e a soberania do país. O fato é que entre o dia 24 de janeiro e 4 de abril de 2018, várias lideranças representativas da classe trabalhadora foram brutalmente assassinadas em regiões distintas do país sem identificação dos criminosos.
Os assassinos de Marielle Franco, vereadora na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro pelo PSOL, por exemplo, ainda não foram identificados. Ela foi executada no dia 14 de março com cinco tiros na cabeça juntamente com seu motorista, Anderson Gomes. Mas em 24 de janeiro, dia do julgamento do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, uma liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi assassinada no interior da Bahia. Ex-dirigente nacional do MST, Márcio Matos foi morto, à noite, na frente do filho. Ainda na quarta-feira, ele havia postado opiniões sobre o julgamento e a condenação do ex-presidente Lula da Silva nas redes sociais.
No dia 2 de fevereiro, uma liderança indígena da Aldeia Pinhalzinho, localizada no oeste catarinense, foi assassinada a golpe de facão dentro da reserva Xapecó, no município de Ipuaçu. Valmir Antonio de Freitas Soares, que pertencia ao povo Kaingang, morreu degolado. No dia 7 de fevereiro, Carlos Antônio da Silva, liderança do MST no Assentamento PDS Rio Jatobá, foi assassinado com vários tiros em frente à Prefeitura de Paranatinga, Mato Grosso. Foi assassinado por pistoleiros em uma motocicleta, na presença de sua mulher, baleada de raspão, e da filha. Ele feito vários Boletins de Ocorrência, em 2017, com registro de ameaças de latifundiários e nenhuma medida de proteção foi tomada pelas autoridades.
“Mato Grosso é uma das unidades da Federação que, após o golpe de 2016, aumentou o número de violência no campo e de assassinatos de lideranças dos trabalhadores rurais e chacinas no campo. E, o Rio de Janeiro, é a região urbana que mais se tem registros de violência contra a classe trabalhadora. A intervenção militar é o recado dos grupos que aplicaram o golpe no país. Primeiro, transformam a região em ambiente violento com fuzilamento de cidadãos e cidadãs nas favelas. Depois, usam isso para implantar a intervenção”, analisa o diretor.
O sindicalista acredita que os crimes de mando contra lideranças comunitárias sintetizam o que acontece no Brasil: o aprofundamento do golpe de 2016 com a militarização dos estados, a eliminação de lideranças da classe trabalhadora e a implantação do terror e do medo no momento em que a população se prepara para retirar do poder os grupos golpistas. “As pesquisas de intenção de voto indicam a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas, no primeiro turno, em outubro de 2018″, afirma.
Soares vê nesses crimes e na forma como se materializa o combate ao crime organizado no Rio de Janeiro, com a intervenção federal violenta contra os cariocas residentes em comunidades pobres a intimidação de todos os brasileiros. Para ele, o avanço da militarização dos estados integra esse conjunto de ações em curso contra a democracia e em favor do golpe de 2016.
“Entre os objetivos desse conjunto de ações, destaco ainda a criminalização dos movimentos social e sindical e a implantação da política do medo: o fascismo”, analisa. O sindicalista avalia que o golpe de 2016 só irá prosperar se a população do país estiver intimidada. “Esse movimento intimidatório de perseguição e de criminalização da classe trabalhadora, com assassinatos e prisão sem provas de lideranças político-partidárias e de movimentos sociais caminha em conjunto com a militarização do Estado”, alerta.