Primeira Marcha Nacional das Mulheres Negras, nesta quarta (18), às 10h

Nesta quarta-feira (18), as mulheres negras de todo o país e de várias regiões do mundo estarão em Brasília para a primeira a Marcha Nacional das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo o Bem Viver. A marcha é uma manifestação nacional contra o racismo, a violência, a falta de acesso a serviços públicos, como saúde, educação, trabalho e moradia, entre outros. A concentração será no Ginásio Nilson Nelson, a partir das 8h30. Maiores informações pelo site http://www.marchadasmulheresnegras.com/
A diretoria colegiada do Sinpro-DF convoca toda a categoria para participar. Trata-se de um evento nacional que vem mostrar o grande desafio para desenvolvimento do país. No entendimento da diretoria do Sindicato, não pode haver democracia e desenvolvimento no Brasil enquanto não houver, de fato, a democracia racial.
Lei da Igualdade Racial e a Lei 10.639/03
A coordenadora da Secretaria de Raça e Sexualidade, Wiviane Farkas, diz que a marcha é um momento ímpar para se divulgar também políticas e ações que visem a transformar o Brasil num país realmente democrático, com leis que modifiquem os aspectos culturais e históricos que ainda persistem e mantêm vivos o racismo, o machismo e o todo tipo de discriminação.
Ela lembra que o Sinpro-DF promoveu várias iniciativas, ao longo de seus 36 anos, que visaram ao combate a toda forma de segregação e violência. Um exemplo é o Caderno Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, lançado no 10º Congresso dos Trabalhadores em Educação, em agosto deste ano. Trata-se da terceira edição da temática. O caderno é interativo e está disponível no Sinpro-DF para quem quiser desenvolver e se aprofundar na temática. Vale lembrar que o tema do racismo e indígena foram assuntos de três publicações do Sinpro-DF cuja finalidade é sempre a de dialogar com professores (as) e a sala de aula.
O caderno foi elaborado para subsidiar docentes que queiram aprofundar e promover o enfrentamento ao racismo na execução do magistério.  O caderno traz as Leis nº 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas; a 11.645, que também torna obrigatório o ensino da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas; e a 12.288/2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial.
 “São importantes leis para o enfrentamento ao racismo e que, realmente, vieram para dialogar com a educação quando exigem que os (as) professores (as) ensinem, estudem e aprofundem o conteúdo sobre de África e cultura africana e a lei que inclui aí a cultura e história indígena. Para a gente esse debate é muito caro porque desenvolvemos projetos antes mesmo da aprovação da lei. São leis importantes para o desenvolvimento acadêmico, mas são resultantes do movimento social, sobretudo do movimento negro”.
Na opinião de Wiviane , são leis e marchas como estas são muito importantes não só para o fortalecer o embate, mas também para dar visibilidade à população negra e a todos os problemas que ela enfrenta no seu dia a dia. A invisibilidade da população negra é constatada a cada dia nos meios de comunicação. Assim, medidas como esta se tornam mudanças necessárias para que a sociedade discuta.
“Estamos muito felizes porque é a primeira marcha e ela estar acontecendo em Brasília para que a gente possa, unidas, mulheres negras, brancas, homens negros e brancos que enfrentam o racismo diariamente e, principalmente, a realidade das mulheres negras que é totalmente diferente. Em todos os índices, a mulher negra está abaixo do normal: educacional, salarial, e em todos os níveis de desigualdades que podemos constatar”, afirma a diretora de Raça e Sexualidade.
No entendimento da diretoria colegiada do Sinpro-DF, uma iniciativa como essa é de fundamental importância que a categoria docente e todos (as) os (as) educadores se mobilizem, bem como a comunidade escolar e toda a sociedade para que possamos enfrentar o racismo.
Lei do Feminicídio e Maria da Penha
A diretoria colegiada do Sinpro-DF tem como uma de suas principais políticas a realização do enfrentamento do machismo, do racismo, da violência. “E foi para isto que foram criadas, especialmente, as Secretarias de Raça e Sexualidade e de Assuntos para Mulheres Educadoras. A política é do Sinpro-DF, mas são materializadas por meio dessas duas secretarias”, informa Eliceuda França, coordenadora da Secretaria de Assuntos para Mulheres Educadoras – ou simplesmente Secretaria de Mulheres Educadoras.
Ela lembra que a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) e a Lei do Feminicídio – a Lei nº 13.104, também sancionada pela presidenta Dilma em 9 de março de 2015 – asseguram a luta pela democracia racial no Brasil. “Temos hoje um quadro muito triste. Saiu uma pesquisa, recentemente, que mostra que mais de 55% dos homicídios de mulheres ocorrem dentro de casa da vítima e que 66,7% são contra negras. Este dado saiu, no início de novembro, nos jornais locais, numa pesquisa que mostra a nossa realidade: a morte tem cor e tem local. A morte são das mulheres negras e são das mulheres mais pobres, das trabalhadoras com menores salários, com as piores condições de vida”, analisa Eliceuda.
A coordenadora da Secretaria de Mulheres Educadoras entende que as mulheres precisam enfrentar o feminicídio. “Mas é preciso que a gente assuma essas leis em todos os espaços da sociedade, em todos os movimentos. Estaremos nesta marcha com muita força porque é a primeira de muitas que faremos. Não aceitaremos que, em nosso país, esses índices continuem aumentando. Precisamos dar um basta já. Por isso estaremos marchando: contra o machismo, o racismo e pelo bem viver de todas as mulheres”.
Essa pesquisa foi lançada juntamente com o Mapa da Violência 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), entre 1980 e 2013, no qual registra que o número de homicídios de mulheres aumentou 252%, passando de 1.353 para 4.762 assassinatos. As mortes têm cor e local. Mais de 55% dos crimes ocorrem dentro de casa e 66,7% deles são contra negras.
Por que marchamos?
“Marchamos desde que existimos”, afima Jacira da Silva, jornalista, coordenadora do Movimento Negro Unificado do Distrito Federal e coordenadora do Grupo de Trabalho de Mulheres do Movimento Negro Unificado Nacional.
Ela e outras organizadoras, integrantes movimento feminista das mulheres negras, informam que as negras representam 25% da população brasileira, ou seja, 49 milhões de pessoas, cuja maioria está excluída, de alguma forma, de serviços e de políticas públicas. Jacira afirma que a marcha vem mostrar que, na luta pela democracia racial, “as mulheres negras, nos índices oficiais, representam a maioria da população que continua no seu dia a dia, nas relações sociais e políticas, ainda e historicamente, no espaço secundarizado”.
Jacira conta que a marcha ocorre porque as mulheres negras sempre lutaram. Basta lembra a luta das escravas pela libertação da escravidão, formadoras, tanto quando os negros, de grandes quilombos. É o caso da negra Dandara. E afirma que a marcha dará a visibilidade nacional e internacional às temáticas das mulheres negras porque será a primeira em que elas vão às ruas para dar um basta à tripla discriminação sofrida; ao racismo velado e institucional da sociedade brasileira; e para exigir que as políticas públicas, de fato, sejam efetivadas a partir do momento em que o Estado e os governos têm de saber onde estão as mulheres negras, como elas estão, quantas elas são e para onde elas vão.
A organização das mulheres negras no Brasil sempre se formou a partir de associações de moradores, de mães e, antes disso, dos quilombos. Todavia, a pauta étnico-racial sempre ficou para segundo plano. Assim, a primeira Marcha Nacional das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver traz a possibilidade de exigir do Brasil e do mundo que essas políticas públicas sejam efetivadas. As organizadoras afirmam que será a oportunidade de homenagear mulheres negras que construíram a liberdade de ir e vir e de expressão das mulheres negras.
A construção dessa primeira marcha vem consolidar a luta do movimento feminista das mulheres negras que enfrenta grandes desafios até mesmo dentro do próprio movimento negro. Jacira esclarece que a pauta específica de gênero, dentro do próprio movimento negro, é um grande desafio. “É uma luta para organizarmos a questão de gênero”, afirma.
A marcha da inclusão
Outra integrante do Movimento Negro Unificado e da organização da marcha, Vera Lúcia Araújo, advogada e ativista, afirma que a Marcha das Mulheres Negras é uma experiência muito singular porque, “em primeiro lugar, nos possibilita, por exemplo, esse encontro tão rico, diverso, cultural, de algumas gerações de militantes negras que ao longo da nossa história, tanto pela recuperação histórica de muitas delas quanto pelo vigor que as novas gerações, mostrem o potencial e a capacidade transformadora e que a sua marca já é rigorosamente histórica da construção democrática de nosso país.
Ela diz que se sente somando à experiência de estar vivendo uma terceira marcha negra. “A gente teve marchas do movimento negro. Teve, a partir de 1995, com a grande Marcha dos 300 Anos do Zumbi dos Palmares, e essa é a terceira década, que os negros se reúnem marchando sobre Brasília, colocando-se, afirmando-se, cultuando as suas pautas mais urgentes e prioritárias”. Vera Lúcia alerta para o fato de que o diferencial e a experiência própria desta Marcha Nacional das Mulheres Negras é que, nela, as mulheres negras não excluem nenhum segmento do povo brasileiro e de setores organizados.
“Queremos é afirmar que nós, mulheres negras, nunca tivemos um papel subalterno nos processos de luta por liberdade, pelo fim da escravidão e, nesse momento tão próprio e crucial para a vida democrática, para a consolidação de conquistas e direitos, para a afirmação das forças populares, estarmos à frente desta grande marcha que, de repente, fecha o ano de 2015 como o grande ano de afirmação das mulheres negras brasileiras.
Confira a programação:
 
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