Petrobras completa 72 anos sob atos de defesa da estatal e contra privatização

Nesta sexta-feira, 3 de outubro, data em que a Petrobras completa 72 anos, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos de base realizam mobilizações em todo o país. Os atos têm como pauta central a defesa da estatal, a preservação da soberania energética e o alerta contra o risco de privatização da Petrobras Biocombustível (PBio). As manifestações, aprovadas pelo Conselho Deliberativo da entidade em 24 de setembro, terão caráter nacional e regional.
“O ato é para lembrar a importância da Petrobras porque, mesmo sob um governo de trabalhadores, ainda há quem queira os ativos da empresa a preço de banana”, afirma Tadeu Porto, secretário-adjunto de comunicação da CUT e petroleiro.
O estopim da mobilização foi a decisão da diretoria da Petrobras de terceirizar os postos de trabalho das usinas da PBio em Montes Claros (MG) e Candeias (BA). A medida abre caminho para a transferência do controle dessas unidades a uma nova empresa, com participação majoritária do setor privado. Para a FUP, trata-se de uma privatização parcial, conduzida sem negociação com os sindicatos.
O coordenador-geral da federação, Deyvid Bacelar, critica a estratégia por repetir o modelo já aplicado em fábricas de fertilizantes na Bahia e em Sergipe, marcado por parcerias e terceirizações. “O que está em curso na PBio é o aprofundamento de um negócio que pavimenta o caminho para privatizações futuras, em desacordo com a soberania nacional e com a defesa de uma transição energética justa”, afirma.
Segundo Bacelar, a PBio tem papel relevante no desenvolvimento sustentável. “A Petrobras Biocombustível é um ativo estratégico. No passado, impulsionou a agricultura familiar e a economia solidária, gerando renda para milhares de famílias na Bahia e em Minas. Em vez de desmontar esse patrimônio, é preciso fortalecê-lo para garantir um futuro sustentável ao País”, disse, cobrando posicionamento da diretoria de Transição Energética da estatal.
A PBio responde pela produção e comercialização do biodiesel B100, derivado de óleos vegetais e animais. O combustível pode reduzir em até 99% as emissões de gases de efeito estufa em comparação ao diesel fóssil, tornando-se peça-chave na transição energética brasileira.
A Petrobras em números
Maior empresa do país, responsável por 13% do PIB nacional, a Petrobras exerce papel decisivo na economia. É a companhia que mais investe em pesquisa e desenvolvimento no Brasil e tem peso central na formação bruta de capital fixo. Seu alcance, no entanto, vai além dos indicadores: trata-se de um ativo estratégico para a soberania nacional.
O petróleo, principal produto da estatal, esteve no centro de conflitos geopolíticos ao longo do século XX e segue como matriz energética dominante nas próximas décadas. O Brasil detém uma das maiores reservas globais, o que confere posição de destaque ao País e desperta o interesse de grandes grupos privados, sobretudo internacionais. “Quem tem petróleo tem poder”, resume um ditado que, no caso brasileiro, traduz-se em independência para a formulação de um projeto de desenvolvimento autônomo.
Apesar desse peso, a Petrobras tornou-se alvo de disputas políticas. Nos últimos anos, setores liberais buscaram reduzir o papel do Estado, apresentando a empresa como deficitária e corrupta — discurso semelhante ao utilizado na privatização da Vale do Rio Doce, em 1997. Para críticos, a estratégia visa restringir a atuação da companhia à produção de petróleo bruto, entregando o refino e a distribuição ao setor privado.
Resultados e novos investimentos
Os números recentes, contudo, apontam em outra direção. Em agosto de 2025, a estatal registrou lucro líquido de R$ 26,7 bilhões. Seu valor de mercado atingiu o pico do ano em 20 de fevereiro, com R$ 525,99 bilhões. O recorde histórico ocorreu em 19 de fevereiro de 2024, quando chegou a R$ 566,97 bilhões.
Segundo o Plano de Negócios 2025-2029 e o Plano Estratégico 2050, a Petrobras deve investir US$ 111 bilhões até 2029, alta de 9% em relação ao plano anterior. Desse total, US$ 16 bilhões serão destinados a projetos de baixo carbono, volume 42% maior do que o previsto anteriormente.
Em entrevista à Agência Brasil, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, destacou que o desafio é equilibrar a exploração de petróleo e a transição para fontes limpas. “Esse planejamento, tanto o quinquenal quanto o plurianual, está em plena sintonia com os cenários e métricas do Acordo de Paris”, afirmou.
A executiva projeta que a produção nacional de petróleo alcance 2,8 milhões de barris por dia em 2029, mantendo a participação da estatal em 31% da oferta primária de energia do País. O ciclo de investimentos, segundo ela, deve gerar 315 mil empregos diretos e indiretos no período.
Com isso, a companhia reforça seu papel de protagonista no setor energético brasileiro, ao mesmo tempo em que busca atender às metas globais de descarbonização. Embora minoritários em relação ao petróleo, os aportes em renováveis são apresentados como sinal de compromisso da estatal com uma transição energética gradual e sustentável.
Histórico da Petrobras e a luta dos petroleiros
A Petrobras, que completa 72 anos, foi criada em 1953 fruto da campanha “O Petróleo é Nosso”. Desde então, atravessou períodos de expansão, crises e pressões privatizantes. Enfrentou resistências desde o início e momentos decisivos, como a greve de 1995, que impediu a mudança de nome para “Petrobrax”, e a de 2020, contra a venda integral da companhia.
Nos anos 2000, sob Lula, a empresa ampliou investimentos e diversificou sua atuação, mas perdeu espaço após o impeachment de Dilma Rousseff, com a venda de subsidiárias nos governos seguintes. Desde 2023, com o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva, projetos estratégicos paralisados foram retomados, como refinarias, fábricas de fertilizantes e a indústria naval, em paralelo a novos investimentos em transição energética. Ao mesmo tempo, sindicatos criticam cortes, ameaça de privatização parcial e déficits da Petros.
Mais de sete décadas depois, a Petrobras permanece como símbolo da disputa entre soberania nacional, papel do Estado e interesses do mercado.
Fonte: CUT