Pesquisa mostra que professores/as possuem predisposição ao aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis

Um estudo publicado na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (vol. 48, 2023) aponta a predisposição ao aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) entre professores/as da educação básica. No grupo de pessoas avaliadas, entre trabalhadoras mulheres, os sintomas relacionados à saúde mental e ao desgaste psicológico prevaleceram. Já entre os educadores homens, foram observados fatores de risco relacionados a hábitos sedentários.

A pesquisa ainda destaca a maior predominância de comportamentos de risco entre os educadores/as insatisfeitos no trabalho. Tabagismo, consumo abusivo de álcool, excesso de peso e comprometimento da saúde mental são fatores de riscos mais frequentes para as DCNTs em professores/as, segundo o artigo.

Produzido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), o estudo, divulgado em julho de 2023, busca identificar a prevalência de fatores de risco e de proteção para enfermidades crônicas não transmissíveis, testando a associação desses fatores de acordo com o sexo, idade e a satisfação com o trabalho em professores da educação básica de escolas públicas.

Dos 745 trabalhadores/as participantes dos testes, 83% eram mulheres; 81% tinham até 49 anos, e 60% estavam insatisfeitos com o trabalho. O teste foi aplicado na cidade de Montes Claros (MG), em 2016. 

Para a secretária de Saúde dos(as) Trabalhadores(as) em Educação da CNTE, Francisca Seixas, a gestão autoritária nas redes de ensino estaduais e municipais têm contribuído para o sentimento de não pertencimento ao projeto pedagógico por grande parte dos/as educadores/as.

“Os/as profissionais da educação vêm enfrentando uma grande perseguição vinda com políticas difamatórias e de violência. Os docentes ainda enfrentam falta de políticas de valorização profissional, de investimentos em educação pública e cuidados com a saúde laboral. Isso agrava a situação dos adoecimentos físicos e mentais”, explica.

 

Resultados

Entre os profissionais homens avaliados, destaca-se a maior prevalência de uso de cigarros, abuso de álcool e excesso de peso por hábitos sedentários. Entretanto, sintomas relacionados à saúde mental, como depressão e estresse, foram baixos entre eles.

Professores/as mais velhos/as apresentaram menor tendência ao Burnout, exaustão física  e mental, normalmente relacionado ao trabalho. De acordo com a pesquisa, o grupo foi o que mais mostrou comprometimento com a saúde física e adoção de hábitos de proteção contra doenças crônicas. Professores/as mais velhos também foram os que tiveram a maior taxa de pessoas ex-fumantes e com diagnóstico de hipertensão e obesidade.

Educadores/as descontentes com aspectos de seu trabalho apresentaram sintomas depressivos, de estresse e burnout de maneira mais expressiva. Entre os comportamentos de risco estudados, o grupo foi o que apresentou as maiores taxas de abuso de internet, sedentarismo e baixa realização de exames médicos preventivos.

Segundo Francisca, as atuais relações de trabalho deterioradas estão influenciando os adoecimentos dos trabalhadores/as, em geral, devido à insatisfação com a atividade laboral. Ela menciona que, além das condições de trabalho precárias encontradas em algumas escolas, os salários baixos têm feito com que professores/as do país lecionem em diversas escolas para conseguir uma remuneração suficiente no final do mês.

“Educadores/as já exercem uma função estressante por si só. Além de trabalharem em salas de aula superlotadas, falta estrutura nas escolas. Os/as profissionais são constantemente vigiados e cobrados por metas absurdas, sem terem a liberdade de ensinar e sem conseguir garantir ao aluno a liberdade de aprender”, lamenta.

 

Tema ainda é pouco tratado em relação a professores/as da educação básica 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças crônicas são consideradas uma ameaça à saúde e ao desenvolvimento humano, causando cerca de 35 milhões de mortes anualmente. Seus impactos se manifestam na qualidade de vida e no trabalho da população. 

A pesquisa também caracteriza os fatores de risco como condições ou variáveis ambientais, biológicas, genéticas ou sociais que podem aumentar a possibilidade de aparecimento ou o agravo de enfermidades crônicas não transmissíveis.

Em 2016, cerca de 128 mil licenças médicas foram concedidas a professores/as no estado de São Paulo, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), totalizando 2.901.529 dias de afastamento no ano.

Francisca citou o levantamento feito pelo G1.com SP, que constatou que, no primeiro semestre de 2023, cerca de 20.173 profissionais se afastaram do trabalho por problemas mentais no estado de São Paulo. Um crescimento de 15% em relação ao mesmo período de 2022. De acordo com a pesquisa, são 112 professores afastados por dia por conta de problemas de saúde.

Os autores do estudo sobre DCNTs destacam que ainda há uma grande carência no tema em relação aos/às professores/as da educação básica. Segundo eles, os resultados obtidos pela pesquisa estimulam que novas investigações sejam feitas para esclarecer questões de saúde mental, comportamento, autocuidado de saúde e estratégia de enfrentamento entre professores. “Ações em saúde direcionadas à qualidade de vida no trabalho podem representar estratégias de hábitos saudáveis e melhores sentimentos em relação ao trabalho”, comentam.

Francisca expressa, também, a necessidade  de planos de defesa da saúde mental, como aLei nº 14.681/ 23, que cria a Política de Bem-Estar, Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho e Valorização dos Profissionais da Educação.

“É preciso estabelecer gestões democráticas na educação com amplo diálogo e participação de todos para o sentimento de pertencimento. Além de estruturação das escolas para o bom desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, com ampla liberdade de aprender e de ensinar. A falta de democracia provoca adoecimentos e prejudica todo o processo educativo”, finaliza.

Com informações do artigo de pesquisa “Fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis entre professores da educação básica”. Clique aqui e acesse o estudo na íntegra.

 

FONTE: CNTE